Um dia antes que começasse, na Cracóvia, a 31.ª edição da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), a notícia sobre a morte do padre francês Jacques Hamel, covardemente assassinado dentro de uma igreja por militantes do Estado Islâmico, chocou o mundo inteiro. Misteriosa coincidência entre dois eventos aparentemente tão paradoxais impõe-nos ao pensamento a paixão, morte e ressurreição de Cristo, que é o que também deve viver a Igreja no fim dos tempos, após a sua própria via crucis.
De fato, a Igreja Católica nunca escondeu de seus fiéis o destino que está obrigada a percorrer até o retorno de Jesus. Nestas linhas contundentes do Catecismo, afirma-se claramente o itinerário do Corpo Místico de Cristo: "A Igreja não entrará na glória do Reino senão através dessa última Páscoa, em que seguirá o Senhor na sua morte e ressurreição" (n. 677). Isso significa que a cruz, embora tenha perdido o seu sentido para muitos cristãos, é uma condição inevitável no seguimento de Cristo, condição que, apesar de dolorosa, deve ser abraçada com alegria e esperança na salvação eterna.
São João Paulo II, que viveu o seu martírio silencioso ao longo de quase 26 anos de pontificado, entregou aos jovens justamente uma cruz como símbolo para a JMJ. Com este gesto, o papa desejava fazê-los comprometerem-se a uma vida de coragem autêntica, disposta a
sacrificar-se santamente por aquele "mundo melhor" que não é outra coisa senão o Céu.
Foi por isso que, em 2004, o já moribundo pontífice aconselhava a juventude a não se ocupar "apenas da organização prática da Jornada Mundial da Juventude", mas a cuidar, "em primeiro lugar, da sua preparação espiritual, numa atmosfera de fé e de escuta da Palavra de Deus" [1]. A santidade de vida depende obrigatoriamente de nosso grau de amizade com Jesus, que cresce no cultivo da vida interior e cujos efeitos também incidem positivamente na ordem temporal por meio das virtudes, sobretudo a da caridade.
Nesses encontros mundiais, a Igreja também se manifesta como aquele "abraço de Deus no qual os homens aprendem também a abraçar os seus irmãos, descobrindo neles a imagem e semelhança divina, que constitui a verdade mais profunda do seu ser, e que é a origem da liberdade genuína" [2]. A reunião de jovens de tantas nacionalidades ao redor do Santo Padre, o Papa Francisco, dá testemunho da universalidade da fé cristã, da confiança no depósito da fé católico, apostólico e romano.
Ao mesmo tempo, porém, seria um erro grave pensar que a força do cristão depende de grandes aglomerações de pessoas, quando a Igreja é uma realidade muito mais interior que exterior. A força do cristianismo vem de católicos que, a exemplo do padre Jacques Hamel, derramam o seu sangue pela salvação das almas, vivem como os cristãos primitivos, muitas vezes numa Igreja das catacumbas, mas enraizados em Cristo e firmes na fé (cf. Cl 2, 7). Essa é a autêntica força cristã.
Com uma secularização tão agressiva nos dias de hoje, não se trata de pessimismo nenhum pensar numa Igreja Católica simplificada, como profetizava o então padre Joseph Ratzinger, já no final da década 1960. O martírio do sacerdote Jacques Hamel justamente no contexto da JMJ é sugestivo porque expulsa a ilusão dos números e da alegria efêmera que pode tomar conta dos corações, levando-os a uma falsa segurança e triunfalismo. Os cristãos precisam preparar-se para o martírio, seja branco ou vermelho, porque o "Reino não se consumará [...] por um triunfo histórico da Igreja, segundo um progresso ascendente, mas por uma vitória de Deus sobre o último desencadear do mal, que fará descer do Céu a sua Esposa" [3].
Apoiada no exemplo do profeta Jeremias, que ainda muito jovem aceitou dedicar-se à vocação para a qual Deus o chamou, a Igreja desafia os jovens desta época a abraçarem a cruz como remédio para a idolatria e defesa contra "a tentação de pensar nos mitos de fácil sucesso e do poder", quando é forte a proposta de "aderir a concepções evanescentes do sagrado que apresentam Deus sob a forma de energia cósmica, e de outras maneiras que não estão em sintonia com a doutrina católica" [4]. A Igreja os convida a serem verdadeiros adoradores de Cristo, que é a Rocha sobre a qual podem construir o seu futuro e um mundo mais justo e solidário, combatendo a corrupção, as ameaças contra a família e a vida, a pornografia, o sexo desregrado etc [5]. E, finalmente, a Igreja os motiva a não terem medo de remar contra a corrente, a serem uma minoria santa que, apesar disso, têm a força necessária para derrubar os tantos Golias deste e dos próximos séculos.
Nas Jornadas Mundiais da Juventude, os jovens também contam com o auxílio indispensável da "medianeira de todas as graças", a Virgem Santíssima. Ela, mais do que qualquer outra criatura, uniu-se à Paixão de Jesus para corredimir a humanidade de seus pecados, num momento em que a Igreja parecia pequena, humilhada e derrotada com as quedas de seu Esposo. Era naquele momento, no entanto, que o Corpo Místico de Cristo estava mais forte, pois vencia o pecado com a pureza de seu próprio sangue. E assim continuaria a vencer por mais dois mil anos através de mártires como o padre Jacques Hamel, que, acompanhados pela Mãe Dolorosa, puseram-se ao pé da Cruz para remir o mundo.
Para que a JMJ não fique no passado como apenas mais um encontro juvenil, destinado a compor álbuns de fotos no Facebook, os jovens da Jornada devem repetir o caminho de Maria e dos demais santos. Só assim serão capazes de alcançar o único "mundo melhor" verdadeiro e duradouro, que é a vida eterna.
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