"Pokémon GO", o jogo que se tornou uma verdadeira febre das redes sociais, suscita a ocasião de fazermos uma importante reflexão moral a respeito do uso saudável das diversões e dos passatempos, de acordo com a doutrina e a espiritualidade católicas. Nos últimos dias, de fato, foram muitos os pais que entraram em contato conosco pedindo-nos uma orientação. Eles perguntavam se haveria algum problema com o jogo e se deveriam proibir os seus filhos de se entreterem com esse aplicativo.

Importa dizer, em primeiro lugar, que entretenimentos desse gênero são uma necessidade da alma humana, que precisa de descanso, assim como nosso corpo exige repouso após a fadiga do dia. O autor espiritual João Cassiano ilustra o caso com um episódio da vida do apóstolo São João, que o Doutor Angélico faz questão de resgatar em sua Suma de Teologia:

"O bem-aventurado João Evangelista, ao ver que alguns se escandalizavam de o ver jogando com seus discípulos, mandou um deles, que trazia consigo um arco, disparar uma flecha. Depois que ele repetiu isso muitas vezes, o santo perguntou-lhe se poderia fazê-lo continuamente. O outro respondeu que, se assim procedesse, o arco se quebraria. O apóstolo então observou que, da mesma forma, a alma humana se romperia se jamais relaxasse a sua tensão." [1]

Os passatempos não são, portanto, uma necessidade que partilhamos com os animais, como são a comida, a bebida e o sexo. Trata-se antes de uma manifestação própria daquele que foi moldado "à imagem e semelhança" de Deus (cf. Gn 1, 26) e cujo coração se inquieta continuamente, enquanto não repousar nEle [2]. É nesta sede insaciável do ser humano que se encontra, de fato, o grande segredo do sucesso de "Pokémon GO": assim como as redes sociais e muitos outros divertimentos de nossa época, o que faz este jogo é explorar a constante procura humana por algo que satisfaça os impulsos de sua alma e preencha o vazio profundo de sua existência.

A notícia que é preciso dar aos jogadores sem freios é esta: fomos feitos para uma busca muito mais digna que a caça de "pokémons" — a busca de Deus; fomos criados para uma glória muito superior que a de ser um "mestre Pokémon" — a glória do Céu. Evidentemente, não há pecado algum nos jogos lúdicos, mas existe sim algo de muito grave, quando as pessoas, devido à sua falta de moderação, começam a transformar toda a sua vida em lazer. " Se dás muito tempo ao jogo", adverte São Francisco de Sales, "ele já não é um divertimento, mas fica sendo uma ocupação" [3].

Quando passamos a vida diante de uma tela de celular à procura de ínfimas glórias virtuais, o tempo escorre por nossas mãos, esvai-se, e acabamos desperdiçando o dom preciosíssimo da vida que nos foi confiada por Deus. "Os que andam em negócios humanos dizem que o tempo é dinheiro. Parece-me pouco", diz São Josemaría Escrivá, "para nós, que andamos em negócios de almas, o tempo… é Glória!" [4].

Referências

Suma Teológica, II-II, q. 168, a. 2.
Cf. Santo Agostinho, Confissões, I, 1.
Filoteia ou Introdução à Vida Devota (III, 31). 8.ª ed. Petrópolis: Vozes, 1958, p. 257.
Caminho, n. 355.

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