Não querem os espíritas admitir que Cristo tenha fundado uma Igreja. “Cristo — dizem — não quis nenhuma associação religiosa e nunca pensou em fundar uma Igreja visível, com Papas e padres”.

Convidamos os caríssimos irmãos separados pelo Espiritismo a folhear conosco não “O Evangelho segundo o Espiritismo”, mas “O Evangelho segundo São Mateus, São Marcos, São Lucas e São João”!

Seguindo estes Evangelhos, acompanhando o decurso da pregação de Cristo e observando suas palavras e expressões, verificaremos que Nosso Senhor, quando fala de sua obra, se serve de uma multidão de imagens que dão a ideia de coletividade: é um reino, uma cidade, uma família, uma rede lançada ao mar e cheia de bons e maus peixes, um rebanho, etc.; outras vezes esse seu reino é comparado a uma árvore, a um campo, a uma casa, etc.

Vemos que Cristo reúne em seu derredor muitos discípulos que vão com Ele, escolhe dentre eles doze, aos quais dá o nome de Apóstolos, dá-lhes instruções especiais sobre como se devem portar, confere-lhes poderes especiais e até mesmo verdadeira jurisdição sobre os outros homens, como veremos.

E a Simão, filho de Jonas, chega a impor-lhe um novo nome, muito significativo: Kepha e declara solenemente: “Tu és Kepha e sobre este Kepha edificarei a minha Igreja” (Mt 16, 18). A palavra aramaica “kepha” quer dizer pedra ou melhor “rocha”. Assim, pois, é como se Jesus tivesse dado a Simão o nome de Rocha: “Tu és Rocha e sobre esta rocha edificarei a minha Igreja”. Cristo, por conseguinte, quer construir uma Igreja. Mas uma Igreja firme, inabalável, imperecível. Daí a ideia de construí-la sobre uma rocha. A imagem da “casa construída sobre uma rocha” não era nova. No sermão do monte dissera Jesus:

Todo aquele que ouve estas minhas palavras e as observa será comparado a um homem sábio que edificou a sua casa sobre uma rocha. Veio a chuva, transbordaram os rios, assopraram os ventos e precipitaram-se contra aquela casa, e a casa não caiu, porque estava fundada sobre uma rocha! (Mt 7, 24-25)

Assim queria também o sábio Jesus edificar a sua Igreja sobre a rocha: Ele previa que os aguaceiros haveriam de desabar, os rios de transbordar, os vendavais haveriam de soprar e dar de rijo contra a Igreja — mas debalde, pois que estaria “construída sobre a rocha”. Por isso continuou Jesus aquelas memoráveis palavras dirigidas a São Pedro: “E as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16, 18). Divina promessa! Virão acometidas e assaltos, a Igreja terá seus adversários que investirão contra ela — mas estas “portas do inferno” não prevalecerão… Temos aí a garantia divina da indefectibilidade da Igreja de Cristo.

Mas Jesus prometeu mais: “Eis que estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos” (Mt 28, 20). Até o fim do mundo! Não até a vinda de Allan Kardec… Mais: “Eu rogarei ao Pai e Ele vos dará um outro Consolador que fique eternamente convosco” (Jo 14, 16). Esse Consolador não viria apenas 1850 anos depois…

Mas Jesus quis munir também os Apóstolos com poderes especiais e extraordinários:

A mim me foi dado — declara Ele aos Apóstolos — todo o poder no céu e na terra: Ide, pois, e fazei discípulos meus todos os povos, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo e ensinando-os a observar tudo o que eu vos tenho mandado. E eis que estou convosco até a consumação dos séculos (Mt 28, 18-20).

Majestosa ordem! Mandato solene! Os Apóstolos devem ensinar, governar e santificar. E outra vez, com maior solenidade ainda: “A paz seja convosco. Assim como meu Pai me enviou, também eu vos envio” (Jo 20, 21). Jesus transmite aos Apóstolos a missão recebida do Pai! E continua o Evangelista: “Depois destas palavras soprou sobre eles, dizendo: Recebei o Espírito Santo; a quem vós perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados; e a quem os retiverdes, ser-lhes-ão retidos”…

Era a realização daquilo que Cristo prometera aos Apóstolos, antes de sua morte: “Em verdade vos digo que tudo o que vós ligardes sobre a terra será também ligado no céu, e tudo o que vós desligardes na terra será também desligado no céu” (Mt 18, 18). E nessa mesma ocasião Jesus declara que a sua Igreja tem o direito a ser obedecida por todos: “Se alguém não ouvir a Igreja, seja para vós um pagão e um publicano” (Mt 18, 17). E mais claro ainda: “Quem vos ouve a mim me ouve; quem vos despreza a mim me despreza; mas quem me despreza, despreza aquele que me enviou” (Lc 10, 16).

Não está muito claro tudo isso? Jesus fundou uma Igreja; São Pedro será o fundamento; esta Igreja será atacada, terá inimigos, mas jamais será vencida, incólume atravessará os séculos até a consumação final, pois Jesus estará com ela; os Apóstolos (e evidentemente seus sucessores) terão os mesmos poderes de Cristo para ensinar, governar e santificar os homens, com autoridade divina.

Dizer, portanto, com os espíritas, que Cristo “nunca pensou em fundar uma Igreja visível”, é apresentar atestado de palmar ignorância dos ensinos de Jesus.

Referências

  • Extraído e levemente adaptado de Fr. Boaventura Kloppenburg, Resposta aos Espíritas, Rio de Janeiro: Vozes, 1954, pp. 21-24.

O que achou desse conteúdo?

Mais recentes
Mais antigos