A Igreja celebra no próximo 24 de novembro, ocasião em que também se encerra o Ano da Fé, a Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo. Conforme explica Pio XI na Encíclica Quas Primas, a festa é uma maneira de recordar a realeza de Jesus e o domínio Dele sobre a humanidade.
O múnus real de Cristo não sugere algo metafórico. O seu poder abrange todas as esferas da sociedade, desde o legislativo ao executivo. As leis, as autoridades - civis ou religiosas -, os regimes políticos e a constituição das nações estão sujeitos à Pessoa de Jesus, pois sendo Ele, "enquanto Verbo, consubstancial ao Pai, não pode deixar de Lhe ser em tudo igual e, portanto, de ter, como Ele, a suprema e absoluta soberania e domínio de todas as criaturas." [1]
Com efeito, nenhum Estado pode prescindir de Deus sem perder sua legítima autonomia. Isso não quer dizer que seja da alçada do governo assuntos da competência da Igreja, uma vez que "Deus dividiu, pois, o governo do gênero humano entre dois poderes: o poder eclesiástico e o poder civil; àquele preposto às coisas divinas, este às coisas humanas." [2] Apenas recorda aquilo que disse Bento XVI, mencionando sua viagem à ilha de Cuba: "a Igreja não quer privilégios, mas deseja proclamar e celebrar inclusive publicamente a fé, levando a mensagem de esperança e de paz do Evangelho a todos os ambientes da sociedade."[3]
Em tempos de anticlericalismo e laicismo radicais, criou-se a (falsa) impressão de que a religião pertenceria ao âmbito privado, não tendo o Estado nada que ver com o assunto. Trata-se, evidentemente, de um erro. O homem é capaz de Deus, é capaz de conhecê-lo através da razão e de aderir à verdade. O Estado não pode, por conseguinte, negligenciar a fé no Deus verdadeiro sem grave dano ao edifício da civilização. Existe uma lei natural inscrita no coração do homem que o impele a buscar o Criador. Quando, porém, o Estado o impede de ter acesso ao Deus verdadeiro, relegando-o para debaixo do pano - ou simplesmente colocando quaisquer formas de culto no mesmo panteão para igualmente serem praticados -, faz com que o homem perca a noção de certo ou errado, enfim, absolutiza o relativismo.
A Igreja teve de lidar com esse perigo desde a época do Império Romano até aos recentes dias, em que seitas secretas tramam contra a fé. Santo Agostinho os rebatia incitando-os a apresentar "governadores de províncias", "maridos", "esposas", "juízes" e "agentes do fisco tais como os quer a doutrina cristã." - "E então ousem ainda dizer que ela é contrária ao Estado!", desafiava o santo.
Existe uma sadia separação entre o trabalho da Igreja e o trabalho do Estado, como atesta o próprio Cristo dizendo "dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus". Mas não existe uma autonomia do poder público para usurpar funções, modificando leis e direitos, como o fazem certos governos, retirando crucifixos de espaços comuns, aprovando projetos contrários à vida, à instituição da família e à educação dos filhos. O governo deve proteger essas instâncias, pois está submetido à lei natural. Quanto à ordem política, deve "ficar aberta à busca permanente de Deus, da verdade e da justiça."
No que concerne à liberdade religiosa, a Igreja faz questão de lembrar a sábia observação de Santo Agostinho: "o homem não pode crer senão querendo" (Tract. XXVI in Ioan., n. 2). Assim, "se a Igreja julga não ser lícito pôr os diversos cultos no mesmo pé legal que a verdadeira religião, nem por isso condena os chefes de Estado que, em vista de um bem a alcançar ou de um mal a impedir, toleram na prática que esses diversos cultos tenham cada um seu lugar no Estado."
O Estado laico desejado pelas mentes anticlericais não almeja a liberdade, almeja a escravidão. Deixai o povo sem Deus, em pouco tempo estarão adorando o diabo. Escondei o crucifixo, logo empunharão foices e martelos para conduzir a cadeia de corpos aos gulags e câmaras de gás. Subtraí a fé e a moralidade do homem até que ele se comporte como uma besta. Tirai a hóstia e o rosário, eles ferirão o pulso com as facas dos sacerdotes de Baal. Construí um mundo sem Deus e ele se voltará contra vós. Não há horizonte para uma nação que vira as costas para os céus senão a própria desgraça! "Quem tiver ouvidos, ouça" (Cf. Ap 2, 7).
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