Quando vemos alguém a tocar bem um instrumento musical, a escrever um bom texto, a modelar uma bela escultura, imediatamente somos tentados a lhe elogiar o dom, o talento e a habilidade, como se a pessoa tivesse saído do ventre materno já sabendo e fazendo tudo aquilo… 

Mas quem vê o fim (quase) nunca vê os meios! Por trás de uma virtude especial, sempre se escondem dedicação intensa, renúncias custosas e inúmeros sacrifícios. E isso inclusive na vida intelectual e espiritual! Pois as graças que Deus nos envia não dispensam o nosso empenho, trabalho e cooperação.

Você sabia, por exemplo, que o grande Padre Pio de Pietrelcina, antes de se tornar religioso e sacerdote, precisou de horas e mais horas de estudo assíduo na juventude?

Ubaldo Vecchiarino — um de seus companheiros de classe quando ele tinha dez anos, e ainda se chamava Francesco (seu nome de batismo) — conta o seguinte: 

À noite íamos para a escola. Durante o dia, Francesco estudava e nós o provocávamos, atirando terra em cima dele ou aproximávamo-nos dele por detrás, pé ante pé, e empurrávamos-lhe o chapéu para os olhos. Ele aguentava tudo, não reagia nem dizia palavras incorretas. Contudo, na escola, só Francesco respondia às perguntas do mestre. Por isso ele prosseguiu os estudos e transformou-se em Padre Pio, e nós continuamos apascentando as ovelhas, e nunca deixamos as enxadas [i].

Quando Francesco começou a ter lições mais avançadas com outro mestre, seu companheiro Vincenzo Salomone recorda: 

Quantas vezes o vi sentado frente à sua mesinha, curvado sobre os livros. Eu ia chamá-lo: “Franci, quer vir jogar botão?”. Ele levantava a cabeça, sorria-me e fazia-me sinal, como quem diz: “mais tarde, mais tarde”. Eu voltava a chamá-lo e ele repetia o mesmo sinal. Eu voltava ainda mais vezes, até o anoitecer [ii].

Seu biógrafo, Renzo Allegri, ao relatar esta etapa de sua vida, conclui dizendo que Francesco Forgione 

era um rapaz de catorze anos, muito sensível e consciencioso. Sentia a responsabilidade daquilo que fazia. É provável que se cansasse de estudar, mas não esmorecia. Teria, provavelmente, vontade de sair um pouco, de ir brincar com os amigos, ou de passear ao ar livre, mas não saía [iii].

É muito belo pensar que essas horas dedicadas de estudo do Padre Pio prepararam o grande caminho de santidade que ele viria a trilhar ao longo da vida; que muito do que ele usou em favor da Igreja foi aprendido ali, no banquinho de madeira da sua casa, através de um esforço humilde — mas ao mesmo tempo constante — e heroico, por mais insignificante que possa parecer aos nossos olhos.

É claro que nada disso anula ou diminui a ação extraordinária de Deus na vida do Padre Pio. Mais tarde, ele será conhecido, por exemplo, pelo milagre de contar os pecados de seus penitentes antes mesmo de eles os revelarem. Isso é uma graça divina especialíssima, sem dúvida, e não pode ser “provocada” por atos humanos. 

Mas, para adquirir muitos conhecimentos, o jovem Francesco precisou sentar nas cadeiras e estudar com afinco; dizer “não” a seus colegas, que o chamavam para brincar; concentrar-se no que tinha de ser feito, sem antepor o lazer à responsabilidade.

E mesmo em meio aos estudos, o jovem Francesco ainda ajudava nos afazeres domésticos! Enquanto a mãe cuidava da colheita nos meses de verão — e o pai, do outro lado do Atlântico, suava para trazer o sustento à família —, ele, sozinho em casa, “tinha de cozinhar, lavar a louça, limpar a casa e fazer a cama” [iv]. Em outras palavras, o Padre Pio, na adolescência, estava muito longe de ser o vadio inútil em que se transformaram tantos de nossos jovens!

Aos pais fica a sugestão de que mostrem isso a seus filhos, até para que eles vejam que os santos não nasciam “prontos” nem passavam a vida desocupados. Não, muito pelo contrário! Eles eram forjados a pouco e pouco pela graça de Deus, e só à medida que colaboravam generosamente com ela.

Referências

  1. Renzo Allegri, Padre Pio: um santo entre nós. São Paulo: Paulinas, 2017, p. 63.
  2. Ibid., p. 64.
  3. Ibid., p. 65.
  4. Ibid., p. 64.

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