“Um seminário sacerdotal significa, com efeito, que também hoje o Senhor sobe ao monte e chama os que Ele quer. O seminário sacerdotal é este monte de Jesus" [1]. Essas palavras do então Cardeal Joseph Ratzinger devem encher-nos de alegria. Jesus continua a subir ao monte e a chamar pelo nome os que “Ele quis" (Mc 3, 13), esperançoso em encontrá-los dispostos a renunciar aos próprios sonhos, anseios e projetos pessoais, para atender à Sua voz. Muitos são os que, todos os anos, entregam-se com coragem a esse chamado e sobem ao monte de Jesus. Esse mistério deve nos maravilhar e encantar sempre de novo, de modo único.

Num mundo marcado pelo ateísmo, individualismo e relativismo, pelo provisório e descartável, ousar decisões definitivas [2], que visam o primado absoluto de Deus na própria vida, soa como uma grande loucura. Na realidade, é muito comum alguém que se decide entrar no seminário escutar reprovações do tipo: “você está ficando louco? Não desperdice assim sua vida". Essas indagações nos fazem lembrar do homem rico que, recebendo o convite do Mestre para vender tudo e segui-lO, foi embora cheio de tristeza, “pois possuía muitos bens" (Mc 10, 22), a atitude desse homem dizia: “vou desperdiçar todos os meus bens? Vou desperdiçar minha vida?". Também Judas Iscariotes se expressou de forma semelhante, ao ver Maria ungindo os pés de Jesus com nardo puro: “por que este perfume não foi vendido por trezentos denários?" (Jo 12, 5), ou seja: “que grande desperdício!".

Contudo, “não pode perder aquele que aposta tudo no amor crucificado do Verbo encarnado" [3]. O Papa Bento XVI, no início do seu ministério petrino, comentando as palavras de João Paulo II, expressou o medo que há no coração humano diante desse “apostar tudo" em Cristo, e a grandeza que há no doar-se por Ele:

Porventura não temos todos nós, de um modo ou de outro, medo, se deixarmos entrar Cristo totalmente dentro de nós, se nos abrirmos completamente a Ele, medo de que Ele possa tirar-nos algo da nossa vida? Não temos porventura medo de renunciar a algo de grandioso, único, que torna a vida tão bela? Não arriscamos depois de nos encontrarmos na angústia e privados da liberdade? E mais uma vez o Papa queria dizer: não! Quem faz entrar Cristo, nada perde, nada, absolutamente nada daquilo que torna a vida livre, bela e grande. Não! Só nesta amizade se abrem de par em par as portas da vida. Só nesta amizade se abrem realmente as grandes potencialidades da condição humana. Só nesta amizade experimentamos o que é belo e o que liberta. Assim, eu gostaria com grande força e convicção, partindo da experiência de uma longa vida pessoal, de vos dizer hoje, queridos jovens: não tenhais medo de Cristo! Ele não tira nada, ele dá tudo. Quem se doa por Ele, recebe o cêntuplo. Sim, abri de par em par as portas a Cristo e encontrareis a vida verdadeira [4].

“Quem faz entrar Cristo, nada perde", mesmo que dê tudo! Aquele que é chamado pelo Senhor compreende que “a maior honra que Deus pode fazer a uma alma não é dar-lhe muito, mas pedir-lhe muito" [5], ao mesmo tempo que percebe o encontro do chamado de Deus com os anseios mais profundos de sua existência. Testemunha São Paulo: “Por causa dele, perdi tudo e considero tudo como lixo, a fim de ganhar Cristo e ser encontrado unido a ele" (Fl 3, 8).

Que esses jovens, que respondem com coragem ao chamado do Senhor e sobem ao monte, sejam acompanhados por nossas orações e penitências. Sabemos que o tempo de seminário, como bem lembrou Bento XVI, é “tempo destinado à formação e ao discernimento [..], tempo de caminho, de busca, mas sobretudo de descoberta de Cristo. [...] somente na medida em que faz uma experiência pessoal de Cristo, o jovem pode compreender verdadeiramente a sua vontade e em consequência a própria vocação" [6]. É necessário, assim, que os ajudemos nesse discernimento vocacional e encontro com Cristo por nossa companhia espiritual.

Àqueles que se sentem chamados, mas ainda relutam em meio às dúvidas e temores, vale seguir o conselho paternal de Bento XVI:

É importante estar atentos aos gestos do Senhor no nosso caminho. Ele fala-nos através de acontecimentos, de pessoas, de encontros: é preciso estar atentos a tudo isto. Depois, o segundo ponto, entrar realmente na amizade de Jesus, numa relação pessoal com Ele e não saber só através de outros ou dos livros quem é Jesus, mas viver uma relação cada vez mais aprofundada de amizade pessoal com Jesus, na qual podemos começar a compreender o que Ele nos pede. E depois, a atenção ao que somos, às nossas possibilidades: por um lado, ter coragem e, por outro, ser humildes, confiantes e abertos, com a ajuda dos amigos, da autoridade da Igreja, dos sacerdotes, e também das famílias: que quer de mim o Senhor? Sem dúvida isto permanece sempre uma grande aventura, mas a vida só pode ser bem sucedida se tivermos a coragem da aventura, a confiança de que o Senhor nunca nos deixará sozinhos, que nos acompanhará e nos ajudará [7].

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