Muitas vezes, os pecados que cometemos com mais frequência são aqueles dos quais nem sequer temos consciência. “Purificai-me das [faltas] que me são ocultas” (Sl 18, 13), diz o salmista. Um desses pecados, na minha opinião, é tirar a glória a Deus.
Afinal, a Sagrada Escritura e a liturgia repetem constantemente que toda a honra e glória pertencem a Deus pelos séculos dos séculos. Todos os domingos (exceto na Quaresma; no Advento), cantamos um belo hino dedicado precisamente a isso, à glória de Deus (Gloria in excelsis Deo). Uma das primeiras orações que aprendemos, e uma das que mais recitamos, é uma pequena jaculatória de glorificação a Deus: “Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo, como era no princípio, agora e sempre, por todos os séculos dos séculos, amém.”
Fomos feitos para dar glória a Deus e, portanto, tirar a glória dele é exatamente o oposto da nossa vocação, da nossa própria razão de existir. É claro que ninguém pode tirar de Deus a glória que Ele tem por si mesmo, mas podemos tirar-lhe extrinsecamente a glória que há em nós, ou seja, a glória que devemos dar-lhe como criaturas e filhos seus.

Como fazemos isso? Indiretamente, sempre que pecamos, porque nos recusamos a refletir a glória de Deus em nós. Diretamente, tiramos a glória de Deus quando nos queixamos do que Ele nos dá, protestando incessantemente contra o que nos acontece e murmurando pelo que temos de fazer ou pelo que não podemos fazer.
Isso não tem nada a ver com algo tão natural e cristão quanto clamar a Deus. Quando sofremos e, em meio à angústia, recorremos ao nosso Pai, reconhecemos que Ele é Deus e apresentamos a Ele nossos sofrimentos e nossa fraqueza para que nos ajude. Por outro lado, quando nos queixamos, resmungamos e amaldiçoamos em voz baixa, na verdade estamos reclamando de Deus e considerando que sabemos melhor do que Ele o que é melhor para nós. Nesse sentido, queixar-se equivale a proclamar que Deus não fez bem as coisas, que se enganou com a vida que nos deu; equivale a repreendê-lo:
- “Por que me destes este marido, ou esta mulher, ou estes filhos, ou este trabalho? Se tivésseis me dado outras pessoas, eu seria feliz.”
- “Por que não posso dormir com minha namorada, minha vizinha ou minha colega de trabalho? Isso é o que me faria feliz agora. Não quereis que eu seja feliz?”
- “Por que me fizestes baixo, feio, pobre ou pouco inteligente?”
- “Por que não ganhei na loteria, que é o que eu preciso?”
- “Por que esta doença, sendo eu tão bom? Vós cometestes um erro comigo.”
Queixar-se dessa maneira é, fundamentalmente, querer tornar-se Deus, colocar-se acima dele, acreditando que sabemos melhor do que Ele o que é melhor para nós. “Eu sei o que é melhor para mim, e não é o que Deus me deu ou o que Ele manda! Eu decido o que é bom e mau, não Deus! Eu sou deus e não Ele!”
Além disso, as queixas estão na origem de todos os pecados. Se desobedecemos à lei de Deus, é porque primeiro nos queixamos interiormente de que essa lei não foi bem feita; de que Deus se enganou ao nos mandar o que nos manda; de que o caminho da felicidade não passa por fazer a vontade de Deus, mas por fazer a nossa própria vontade. Portanto, por meio da queixa entra em nós o desejo de fazer o que Deus não quer.
Assim, a primeira coisa que o demônio fez para Adão e Eva pecarem foi induzi-los a queixar-se de Deus, a tirar a glória dele. Para conseguir isso, ele mentiu para Eva, tentando colocar na cabeça dela a ideia de que Deus não tinha feito as coisas direito: “Deus disse que não podeis comer de nenhuma das árvores do jardim.” Quando Eva respondeu que podiam comer de todas as árvores, menos da árvore que estava no meio do jardim, sob pena de morte, a serpente insistiu em suas mentiras:
De modo algum morrereis. Deus sabe muito bem que, no dia em que dela comerdes, os vossos olhos se abrirão e sereis como deuses, conhecedores do bem e do mal. Ou seja, Deus vos enganou, não tem razão no que diz, sua regra é absurda e só a fez para vos importunar, para que não sejais deuses como Ele, para que não possais fazer livremente o que quiserdes.
Quando ele conseguiu fazer com que Eva deixasse entrar em seu coração a queixa contra Deus e contra a sua vontade, o pecado tornou-se inevitável.

Infelizmente, apesar de termos sido feitos para dar glória a Deus, muitas vezes nós, cristãos, queixamo-nos tanto ou mais do que os outros. Eu me acuso disso na confissão com frequência. Tão logo acordamos, já estamos reclamando que é muito cedo, que temos de trabalhar, que não dormimos bem, que estamos com dor nas costas, que estamos muito velhos, que nossa esposa não fez isso ou aquilo, que é segunda-feira ou qualquer outra coisa. Queixas e mais queixas, da manhã até a noite, tirando a glória a Deus sem nenhuma vergonha — em vez de dedicarmos o dia, desde o primeiro pensamento, a glorificar a Ele.
Podemos viver de duas maneiras: glorificando a Deus ou tirando-lhe a glória. Não há como combinar as duas coisas, porque são contraditórias. São dois caminhos divergentes que levam a lugares completamente diferentes. Assim diz o Senhor: “Dirás então ao povo — oráculo do Senhor: eis que vos coloco na encruzilhada dos caminhos da vida e da morte” (Jr 21, 8).
Aquele que tira a glória de Deus ao queixar-se constantemente, não tarda em descobrir que sua vida se torna um inferno, porque tudo está mal feito nela e a queixa alimenta-se a si mesma:
Não tenho o que quero ter e, em vez disso, acontece comigo sempre o que não quero que aconteça; meu trabalho não é bom o suficiente para mim e o meu salário ainda menos; minha esposa não me compreende — se tivesse outra, tudo seria melhor; meus filhos são uma decepção ou não me amam o suficiente; sei o que me faria feliz, mas não me dão; mereço tudo e não tenho quase nada; tudo está mal, tudo!
Por outro lado, aquele que, em sua fraqueza, tenta dar glória a Deus com tudo o que faz, vai descobrindo que, na sua vida, tudo é bênção, tudo tem sentido, tudo tem um motivo e tudo o leva a Deus, inclusive o sofrimento. Mesmo o que parece mau, no fim, acaba revelando-se bom: “Tudo acontece para o bem daqueles que amam a Deus e, com muita satisfação, eu me glorio nas minhas fraquezas” (Rm 8, 28; 2Cor 12, 9). Aquele que decide glorificar a Deus com sua vida, consegue descansar por essa mesma razão; seu coração se enche de alegria e começa a experimentar o que é o Céu, onde os santos e os anjos glorificam a Deus por toda a eternidade.

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