A propósito do tema “castidade”, em alta nos últimos dias, uma cantora brindou-nos com o seguinte comentário: “Loucura… Imagina se os jovens no meio do carnaval vão escutar isso, se vão pensar nisso”. No ano passado, a mesma figura ganhou as manchetes por ter dito que faria sexo com qualquer coisa que lhe cruzasse o caminho: “Homem, mulher, cachorro. Não, cachorro não pode”.

Esclareçamos, antes de tudo, o óbvio. “Loucura” mesmo deve ser o diagnóstico para o estado mental de boa parte dos nossos artistas e jornalistas. É já uma insanidade, por si só, dar ouvidos aos palpites sobre a educação sexual dos jovens de uma “personalidade” para quem, ao que parece, a zoofilia é um tema tão pouco “tabu”, que vem à língua sem ruborizar a cara. A coisa, porém, se torna mais grave quando a mídia decide dar audiência a isso. Porque, afinal de contas, que tipo de conselho ou exemplo nos pode oferecer alguém assim? Que credibilidade deveríamos dar a ideias tão exóticas, quando não irresponsáveis, acerca de um tema tão delicado e complexo? É incrível que, na falta de boas reportagens, a imprensa insista uma e outra vez em dar voz a tais absurdos.

Se vivêssemos num país sério, os nossos artistas, que podem às vezes ter algum talento para o que fazem, teriam antes o bom senso de não opinar, com a autoconfiança de quem é especializado na matéria, sobre questões morais. A vida que leva essa casta olímpica de celebridades está tão distante da do homem comum, que ela não é, nem já parâmetro, mas nem sequer factível para a sociedade. Enquanto muitas delas brincam de pôr fogo em Roma, fazendo todo tipo de extravagâncias em nome da “arte”, cidadãos comuns precisam, sim, apagar o fogo de suas casas: o fogo, por exemplo, dos vícios que consomem hoje os seus filhos, vítimas de usuários de drogas que, em rodinhas de violão, escrevem sonetos à Lua como se fora isto o cume da expressividade “artística”. Não faz muito tempo, um programa de TV exibia outras dessas cantoras, que por cá se multiplicam como sarampo, fazendo apologia da maconha, com direito a dancinha obscena no meio de uma plantação de alface, uma alusão bastante hortaliça à droga. Tudo isso à luz do dia, para todo o mundo ver.

Faz, no entanto, muito tempo que a classe artística perdeu o juízo para os assuntos da realidade cotidiana, especialmente no que diz respeito à moral. No último Globo de Ouro, premiação anual da indústria cinematográfica, o humorista Rick Gervais — para que se veja que não é preciso ser teísta para ser sensato — destacou a hipocrisia dos artistas que fazem daquele momento uma espécie de comício. “Vocês não sabem nada sobre o mundo real, e a maioria de vocês passou menos tempo na escola do que a Greta Thunberg”, polemizou Gervais, insistindo em que os vencedores do prêmio não deveriam usar aquele espaço para fazer politicagem. “Apenas receba seu pequeno prêmio, agradeça ao seu agente e saia fora”, pediu.

Imaginem que tipo de conselho daria ele numa premiação de música no Brasil!

Seja como for, esses senhores exercem ainda uma forte influência sobre o povo simples (sobretudo entre os jovens), por conta da ilusão de seus espetáculos. E eles sabem muito bem disso. Eis por que usam e abusam da inocência alheia para promover toda sorte de erros, vícios e blasfêmias. Não é arte o que produzem, mas veneno para atiçar os instintos mais baixos e bizarros da natureza humana decaída. Trata-se, no fim das contas, de pura tática revolucionária para a degradação da sociedade, como descrevia o filósofo Mário Ferreira dos Santos: “Um acontecimento de real valia recebe uma atenção mínima, e ao lado abrem-se colunas para contar a vida semidelinquente de um playboy imbecil e tolo, que realizou façanhas estúpidas, que qualquer débil mental é capaz de fazer e até superar” [1].

Era ainda 1960 quando Mário Ferreira dos Santos começou a notar a invasão vertical dos bárbaros que avançava a passos largos contra a civilização brasileira. Ele viu estupefato como manejavam bem as armas da revolução, “com uma habilidade de estarrecer”, escreveu, “dispondo de meios capazes para tal, imprimindo ao trabalho corruptivo uma intensidade e um âmbito nunca atingidos em momento algum” [2].

Até esses dias, eram comuns programas infantis com apresentadoras exibindo seus corpos em trajes de banho. Na mesma linha, filmes da tarde mostravam obscenidades das mais grotescas sem qualquer preocupação. Disso passamos para os testes de DNA e fidelidade, com banheiras pornográficas, onde homens e mulheres se atracavam em frente às câmeras. Foi também quando surgiram as mulheres mascaradas, que assediavam o imaginário dos rapazes com todo tipo de provocação sexual. E o que temos hoje são reality shows que promovem assediadores, pedófilos e cantoras que falam de sexo com animais. A degradação não tem limites. Os cachorros que se cuidem…

Mais de 50 anos depois, a revolução pode considerar-se praticamente consumada. O divórcio, o adultério e a bestialidade estão aí, banalizados, já não se pensa mais em filhos e a castidade antes do casamento tornou-se objeto de escárnio. É por isso que a castidade, algo que a Igreja sempre ensinou, é vista com suspeita e deboche. Para os arautos da revolução, o sexo é tudo, e não há nada fora do sexo.

A verdade é que a fatura dessa revolução está custando muito caro. O mais recente relatório do Programa Conjunto das Nações Unidas para o HIV/AIDS mostra que o Brasil teve um aumento de 21% no número de infectados pelo vírus. Também a média para o início da vida sexual entre os brasileiros é assustadora. No geral, meninos e meninas têm a primeira relação com apenas 13 anos, o que os expõe a uma série de riscos, como doenças e gravidez indesejada. Isso tudo sem falar da enorme taxa de casos de estupros e outros tipos de assédio.

Para a doutora Lilian Day Hagel, do Departamento de Adolescência da Sociedade Brasileira de Pediatria, as razões para esse padrão de comportamento seriam, entre outras coisas, o excesso de estímulos e a banalização do corpo a que os jovens estão submetidos. “Antigamente, as experiências sexuais ficavam restritas a um ambiente. Agora, são rápida e impulsivamente compartilhadas com repercussão e alcance”, explicou ela numa entrevista.

De fato, a moda dos nudes e outros tipos de exposição sexual na internet se difunde cada vez mais. E afirmar que os números da ONU e de outras pesquisas se devem à falta de investimento em campanhas de “conscientização” sobre a necessidade do preservativo, como se um adolescente hoje em dia não soubesse nem o que é nem como usá-lo, é, para dizer o mínimo, ridículo. Os jovens sabem, sim, muito bem das doenças e da possibilidade de uma gravidez. O problema de fundo é que não estão nem aí, porque aprenderam a encarar o sexo como diversão e prazer fácil. Para eles, é apenas mais um passatempo como um jogo de Free Fire. Portanto, eles não vão usar camisinha e ponto, por mais que o Estado se meta nas salas de aula e faça propaganda a respeito.

É tudo uma questão de sociologia. Para promover o controle populacional, o sociólogo Kingsley Davis bem sabia que o investimento em anticoncepcionais e preservativos deveria ser periférico. O seu verdadeiro objetivo era mudar o comportamento das pessoas, descaracterizando o significado genuíno da sexualidade humana. Ele pregava abertamente: “É óbvio que, se se deve prevenir o crescimento excessivo da população, será necessário impor, de alguma forma, limites à família” [3].

Em outras palavras, seria necessário investir na desconstrução do matrimônio para promover uma insurreição sexual, completamente alheia à natureza do sexo entre um homem e uma mulher. E os resultados estão aí. Toda essa educação que resume a sexualidade ao prazer está na conta desse senhor e de tantos outros revolucionários da mesma agenda. Ao fim e ao cabo, a defesa dos preservativos não passa de fachada para um projeto muito mais ambicioso de engenharia social, que conta com o apoio, consciente ou inconsciente, de quase toda a imprensa e dos artistas. Trata-se de criar um novo padrão de sexualidade.

Por isso mesmo, Bento XVI dizia que a AIDS não pode ser enfrentada “só com dinheiro” e “com a distribuição de preservativos”, que só aumentam o problema. A questão é mais delicada e envolve um projeto de restauração da dignidade do homem; uma revolução às avessas, que desconstrua a ideologia de Kingsley Davis — essa, sim, uma loucura — e traga de volta a genuína identidade da família. E isso exige, explicava o Papa, “uma humanização da sexualidade, isto é, uma renovação espiritual e humana que inclua um novo modo de comportar-se um com o outro”; e também “uma verdadeira amizade e sobretudo pelas pessoas que sofrem, a disponibilidade à custa de sacrifícios, de renúncias pessoais, para estar ao lado dos doentes”.

Obviamente, uma renovação como essa não pode nem deve esperar pelo Estado. A legítima educação dos filhos é coisa que os pais precisam tomar para si como o bem mais precioso que eles têm em mãos. Se não houver sacrifício das famílias, empenho dos pais para educarem os filhos, proporcionando-lhes uma vida limpa, honesta, longe das más influências, qualquer outro esforço nessa matéria deve fracassar. Em 2007, Bento XVI já avisava aos brasileiros que era preciso dizer não aos meios de comunicação social que ridicularizam a santidade do matrimônio e a virgindade antes do casamento. Hoje esse aviso é mais atual do que nunca.

A castidade é uma virtude para gente heroica, que se recusa a ser um objeto descartável e tem a peito o desejo de desfrutar das delícias eternas antes de se perder nas delícias efêmeras. É mais ou menos como contava o jornalista católico Guy de Larigaudie, no livro Estrela de Alto Mar, acerca de um cavaleiro que encontrou uma bela jovem:

Devia ser uma mestiça. Tinha uns ombros esplêndidos e a beleza animal das mulatas, de lábios grossos e olhos imensos. Era bela, de uma beleza selvagem. Em verdade só havia uma coisa a fazer. Não a fiz. Tornei a montar o cavalo e parti a galope, sem me virar, chorando de desespero e de raiva. Penso que no dia do Juízo, se não tiver outra coisa a apresentar, poderei oferecer a Deus, como flores, todas essas carícias que, por amor d’Ele, eu não quis conhecer (grifos nossos) [4].

Homens assim não nascem em qualquer lugar. Homens dessa estirpe — como São Francisco de Assis, Santo Tomás de Aquino ou mesmo o Venerável Carlo Acutis, que foram almas verdadeiramente puras e castas — só existem no cristianismo, dentro da Igreja Católica, porque são forjados pela graça e pela boa vontade. Por isso, é tarefa das famílias, em primeiro lugar, preservar no coração dos filhos um autêntico e saudável ambiente cristão. Não deixemos, pois, aos estranhos aquilo que é antes dever dos pais e da Santa Madre Igreja.

Referências

  1. Mário Ferreira dos Santos, Invasão Vertical dos Bárbaros. São Paulo: É Realizações, 2012, p. 31.
  2. Id., p. 15.
  3. Kingsley Davis, Política Populacional: Os Programas Atuais Terão Sucesso?, de 10 nov. 1967.
  4. Guy de Larigaudie, Estrela de Alto Mar. Rio de Janeiro: Agir, 1969, 68p.

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