Os debates travados recentemente nas casas legislativas de todo o país – por conta da inclusão da "ideologia de gênero" nos Planos Municipais de Educação –, dão ensejo para que se pergunte por que, afinal, alguns indivíduos querem destruir a família. Já soaria absurdo se uma única pessoa se propusesse a fazê-lo – não tanto pela magnitude do trabalho que deveria empreender, mas pela própria insanidade que tal ideia carrega consigo. Que dizer, então, de um grupo estrategicamente organizado de pessoas determinadas justamente para esse fim?
Cabe dizer, em primeiro lugar, que não se trata de "história da carochinha" ou "teoria da conspiração". Existem, de verdade, movimentos ideologicamente comprometidos com a destruição da família. De Engels, no final do século XIX – para quem o casamento monogâmico não passa de uma "forma de escravização de um sexo pelo outro" [1] –, até as autoras feministas contemporâneas – como Kate Millett, que pede o fim de tabus como "a homossexualidade" e "as relações sexuais pré-matrimoniais e na adolescência", tendo em vista o desaparecimento da família [2]: são inúmeros os documentos que comprovam haver uma elite intelectual articulada para fazer sumir da face da terra a instituição familiar. Não é porque a Rede Globo ou os principais canais de notícias não reportam essas coisas, que elas deixam de ser verdadeiras. Levando em conta que é a própria mídia a promover certos hábitos e estilos de vida, facilmente se entende o porquê de seu silêncio.
Para entender, todavia, o que está na raiz do pensamento contrário à família, é preciso reconhecer o problema antropológico que o precede. Antes que se insurgissem contra o casamento, os arquitetos da engenharia social em curso traçaram o seu próprio conceito de ser humano – um conceito que, embora seja uma visão distorcida da realidade, já esteve em voga noutras épocas. Trata-se da separação radical entre o corpo e a alma. "O filósofo que formulou o princípio 'cogito, ergo sum' (penso, logo existo), acabou por imprimir à concepção moderna do homem o caráter dualista que a caracteriza. É típico do racionalismo contrapor radicalmente, no homem, o espírito ao corpo e o corpo ao espírito." [3]
Pela revelação divina, porém – como também pela razão natural [4] –, o homem pode compreender que é substancial e simultaneamente a junção de duas realidades: uma material, a que se chama corpo, e outra espiritual, a que se chama alma. Essa é a chave para entender o matrimônio como o único "significado teleológico intrínseco e adequado da sexualidade humana" [5] – já que é o único lugar em que são satisfeitos tanto o aspecto procriativo quanto o aspecto unitivo do ato sexual. Só no casamento o sexo pode ser vivido levando em conta a integridade do ser humano.
Serve como prova dessa verdade a curiosa e notável diferença que há entre o comportamento sexual dos animais e o da espécie humana. Diferentemente dos cachorros, dos coelhos ou dos macacos, que acasalam para procriar e estão plenamente satisfeitos depois do coito, o homem é capaz de fazer obstinada e repetidamente o mesmo ato sexual, em busca de um "algo mais" que não é possível encontrar na mera união dos corpos. Daí vem aquela terrível sensação de vazio depois do chamado "sexo casual". Trata-se de um clamor silencioso da alma, alertando que a sexualidade humana é muito mais que uma realidade animal.
Por outro lado, homens também não são anjos. No outro extremo do dualismo moderno, está a mentalidade gnóstica de que "o espírito é bom, mas a carne é má". Aqui deitam as raízes de uma ideologia que pretende eliminar as diferenças entre os sexos masculino e feminino, pois vê no homem "só espírito e vontade" [6], podendo a sua natureza ser manipulada como lhe apetece.
Não surpreende que uma das pioneiras da agenda de gênero, a feminista Margaret Sanger, estivesse ligada a grupos de matriz antropológica esotérica e gnóstica. Para acreditar nessas teorias insanas, de fato, é preciso ser profundamente religioso. Seja a "revolução sexual" utópica prevista por Shulamith Firestone – depois da qual "as diferenças genitais entre os seres humanos não mais importariam culturalmente" [7] –, seja o mito do "homem andrógino" da teosofia: nunca a modernidade esteve tão próxima dos falidos cultos pagãos e gnósticos da Antiguidade.
O Papa Francisco mostrou captar a essência dessa ideologia quando apontou, em sua encíclica Laudato Si', para a necessidade de se "ter apreço pelo próprio corpo na sua feminilidade ou masculinidade". Em uma referência inequívoca à "teoria do gênero", o Papa escreveu que "não é salutar um comportamento que pretenda cancelar a diferença sexual, porque já não sabe confrontar-se com ela" [8].
No fundo – como alertou certa feita o Papa Bento XVI –, "na luta pela família, está em jogo o próprio homem" [9]. Não se destrói a célula mater da sociedade sem que se atinja de modo irreversível o ser humano. E esse processo, tragicamente, não é um desencadeamento natural ou simples obra do zeitgeist (o "espírito dos tempos"). Ao contrário, trata-se de um trabalho meticulosamente articulado e muito bem medido para implantar um projeto cruel e perverso de poder.
Não acredita? Então, estude! Não é preciso um ato de fé para dar crédito às verdades explicadas aqui. Consultar a bibliografia indicada logo abaixo pode ser um bom começo para entender de vez por que, afinal, querem acabar com a sua família. Mãos aos livros!
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