No dia 23 de janeiro deste ano, a editora Bloomsbury Academic publicou uma chamada para ação a todos que se preocupam com as “mudanças climáticas”. The Ahuman Manifesto: Activism for the End of the Anthropocene (em português, literalmente, “O Manifesto Anti-humano: Ativismo para o Fim do Antropoceno”), de Patricia MacCormack, professora de filosofia continental [1] na Anglia Ruskin University, vai direto ao ponto e defende a solução definitiva para o aquecimento global: a extinção da espécie humana.

Ela confessa ser uma “feiticeira ocultista”. De fato, já deu palestras — muitas vezes com roupas que imitam trajes de bruxa e guardam semelhança assustadora com o que vemos no programa Drag Queen Storytime [2] — sobre a “invocação” ou “convocação” de demônios, segundo ela, uma prática importante para os movimentos feminista e queer. Ela diz que a invocação de demônios não está completamente isenta de riscos, porque a “loucura é tão provável quanto o êxtase”. Tudo isso ela diz sem um pingo de ironia.

MacCormack não é aquele tipo de ativista ambiental hesitante segundo o qual deveríamos salvar o planeta por causa dos nossos filhos. O que ela acha, na verdade, é que, absolutamente, crianças não deveriam sequer existir.

MacCormack — pesquisadora que tem “publicações nas áreas de filosofia continental, feminismo, teoria queer, teoria pós-humana, filmes de horror, modificação corporal, direitos dos animais/abolicionismo, cinessexualidade e ética” — já defendeu que os animais são iguais aos seres humanos. Agora ela diz que os seres humanos deveriam sair de cena por completo. 

O resumo do livro descreve sua tese da seguinte maneira: 

Abrindo espaço para o ativismo, a prática artística e a ética afirmativa, ao mesmo tempo que apresenta alguns fenômenos especificamente modernos como cultos da morte, política identitária intersecional e escravização capitalista de organismos humanos e não humanos a ponto de provocar uma “zumbidade”, O Manifesto Anti-humano explora caminhos que nos levam a construir o ser humano de modo diferente; especificamente, temos de ir além do niilismo, do pós e do transhumanismo, e abandonar o privilégio humano. Isso deve acontecer para que possamos pensar ativamente e viver visceralmente com conectividade (atual ou virtual), paixão e graça rumo a um mundo novo.

Numa tradução mais ou menos precisa, essa bobagem quer dizer que o ápice do progresso humano deve ser a extinção da espécie humana. MacCormack tenta apresentar o “apocalipse como um começo otimista”, mas para outras espécies, que ficarão numa situação muito melhor depois que nós todos morrermos (uma ótima hipótese para se considerar, de acordo com ela). De acordo com o Cambridge News, o livro dela “argumenta que, devido ao dano causado a outros seres vivos na terra, deveríamos começar a suprimir gradualmente a reprodução”. 

Os ambientalistas fanáticos são uma ameaça muito maior à civilização humana do que a própria mudança climática precisamente por esta razão: eles querem tomar o poder por meio da declaração de um suposto estado de emergência, e tão logo sejam bem-sucedidos com base em tais premissas, vão usá-lo para implementar um estado de emergência real. Sabemos o que acontece quando o Estado usa seu poder para controlar a reprodução de milhões de pessoas: esterilizações forçadas, sequestro de mulheres para arrancar os bebês de seus ventres, trauma provocado por famílias desestruturadas e crise cultural. O nome dado a isso foi “política do filho único”, e só começou a ser suprimida na China há pouco tempo. Seu resultado: 336 milhões de abortos e um sofrimento incomensurável.

Pelo menos MacCormack não tenta apresentar suas propostas de forma adocicada. “Cheguei a essa ideia a partir de dois caminhos”, disse ela ao Cambridge News. “Meu encanto pelo feminismo e pela teoria queer me levou à filosofia; portanto, interesso-me há um bom tempo pelos direitos reprodutivos [eufemismo para aborto], e esse interesse me levou a procurar mais informações sobre os direitos dos animais. Foi então que me tornei vegana. A premissa fundamental do livro é a seguinte: estamos na era do Antropoceno, a humanidade causou um monte de problemas e um deles foi a criação deste mundo hierárquico no qual homens brancos, heterossexuais e fisicamente aptos têm êxito, e pessoas de diferentes raças, gêneros, sexualidades e aquelas que portam alguma deficiência lutam para ter sucesso.” 

Ela prossegue: “O livro também argumenta que precisamos suprimir a religião e outros poderes dominantes como a igreja do capitalismo ou o culto da individualidade, já que isso faz as pessoas agirem a partir de regras impostas, em vez de responderem refletidamente às situações com as quais se deparam.” Provavelmente, MacCormack acredita que a extinção da espécie humana seja um exemplo de resposta refletida aos fatos com os quais nos deparamos, embora ela não explique como fará com que as pessoas se preocupem com as “mudanças climáticas” ao eliminar a principal motivação apresentada para legitimar a preocupação com tais mudanças: a preservação do planeta para as pessoas e sua descendência. Ela reconhece isso e observa que “todos aceitam as ideias do livro até saberem que terão de colocá-las em prática”.

Há não muito tempo, a expressão “culto da morte” era considerada sinistra, e não uma descrição ambiciosa da espécie humana. No momento, MacCormack pode ser considerada radical, mas ela representa o futuro do ativismo ambientalista: energicamente hostil à espécie humana e defensor da “eliminação da reprodução”. Os programas de rádio tradicionais frequentemente organizam debates com pessoas que decidiram não ter filhos para preservar o planeta para outras crianças. MacCormack vai um pouco além dessa tendência. Os ativistas ambientais estão plenamente convencidos da própria retidão, e estão completamente dispostos a usar o poder do Estado para impor suas soluções a todos nós.

Deveríamos ouvir com muito cuidado as soluções propostas por eles.

Notas

  1. Expressão criada por filósofos analíticos para descrever algumas tradições filosóficas oriundas da Europa continental.
  2. Evento infantil iniciado em 2015 por Michelle Tea, ativista que trabalha para promover, dentre outras causas, a ideologia LGBT para crianças.

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