Para o bem da juventude que estuda, tão assediada em nossos dias pelas forças estratégicas do príncipe das trevas, queremos apresentar a vida edificante de um santo jovem: João Berchmans, padroeiro dos estudantes.

João Berchmans nasceu em 1599, em Diest, no Brabante Flamengo, atual território da Bélgica. Os pais, João Berchmans e Elizabeth Hove, gente pobre mas muito virtuosa, esmeraravam-se extraordinariamente na educação dos filhos, quatro rapazes e uma filha. Durante os sete anos de uma doença que a prendeu ao leito e levou às portas da eternidade, deu-lhes a mãe o exemplo de uma heroica paciência. O pai, após a morte da esposa, abraçou a carreira eclesiástica, ordenou-se e morreu como cônego da colegiada de Diest.

João era um menino dócil e manso. Não chorava e nunca deu aos pais motivos de tristeza. A avó já havia observado que o netinho, antes de completar sete anos, levantava-se muito cedo e saía de casa. Era para ir à igreja, onde servia em três ou quatro Missas, antes de ir para a escola. A igreja era o seu lugar predileto, para onde muitas vezes se retirava, com o fim de rezar o Terço. 

Tinha grande amor à virtude da pureza, que guardava com o máximo cuidado. Dotado de admirável memória, o estudo oferecia-lhe pouca dificuldade.

A seu reiterado pedido, o pai enviou-o para o colégio internato, cujo diretor era o sacerdote premonstratense Padre Pedro Emmerick.

Gravura de São João Berchmans, por Boetius à Bolswert.

João distinguiu-se entre os companheiros, não só pela dedicação extraordinária ao estudo, como também pelo respeito que votava aos mestres. Muito discreto nas conversas, era caridoso para com os colegas, que o estimavam sinceramente. O maior prazer de João era servir na Missa e ouvir sermões. O grande amor que tinha pela solidão, fazia-o retirar-se muitas vezes dos momentos de recreação comum, para ir à sala de estudo ou à igreja, obrigando assim os mestres a chamá-lo, para que desse o necessário descanso ao espírito.

Onze anos ele contava quando despertou em sua alma um forte interesse por receber a Santa Comunhão. Com muito zelo se preparou para a grande graça eucarística. Embora só comungasse de quinze em quinze dias, semanalmente ia confessar-se.

O reitor do instituto afirmou, sob juramento, que João era para todos um modelo de obediência e submissão. Não podia haver aluno mais pontual que ele. As horas destinadas ao estudo, empregava-as com o maior escrúpulo. 

Durante quatro anos João frequentara o colégio, quando uma circunstância inesperada surgiu para prejudicar seriamente os seus estudos. Como o pai não estava mais em condições de pagar a pensão, resolveu tirar o menino da escola e fazê-lo aprender um ofício. Sabendo disso, João pediu insistentemente ao pai que lhe proporcionasse os meios para ordenar-se sacerdote. O pai mudou de ideia e João achou um amigo e benfeitor na pessoa de João Freimont, cônego de Malines.

Aos quatorze anos foi para Malines, mudança que coincidiu com a chegada dos jesuítas, os quais pretendiam fundar na cidade um colégio. Logo que este abriu as portas, João realizou a sua matrícula. Por três anos frequentou aquele instituto e sempre se distinguiu pela dedicação e vida exemplar. 

Passado esse tempo, devendo seriamente pensar no futuro, decidiu filiar-se à Companhia de Jesus, cuja atividade apostólica na Bélgica pôde observar de perto. Da Inglaterra chegavam constantemente notícias de cruéis perseguições, das quais os jesuítas eram as primeiras vítimas. Esta circunstância contribuiu para acender em João o entusiasmo pela causa de Deus e o desejo do martírio.

“Veneração do Sagrado Coração por dois jesuítas”, de Simon Goser.

No dia 24 de outubro de 1616, foi recebido no noviciado, em Malines. Com a maior pontualidade, entregou-se às práticas de piedade e penitência que são exigidas dos noviços, tendo grande empenho em mortificar a própria vontade e sujeitando-a sempre às determinações superiores. Sete vezes por dia visitava o Santíssimo Sacramento e, ao fim das visitas, pedia a São Luís Gonzaga e a Santo Estanislau Kotska que o substituissem até que pudesse retornar. Os pedidos constantes que fazia nessas visitas eram para si e para os companheiros, pedidos esses que se referiam à pureza angélica e à perseverança na vocação e na graça, para que se tornassem membros úteis de sua congregação.

Em 25 de setembro de 1618, fez a profissão religiosa e seguiu para Roma, onde, por ordem provincial, dedicou-se ao estudo da filosofia e da teologia.

João pertenceu por cinco anos à Companhia de Jesus, dando sempre o exemplo mais perfeito de religioso cumpridor do dever. Nunca ninguém observou nele a menor falta ou imperfeição. Não só conservou intacta a inocência batismal, como também cumpriu escrupulosamente o propósito de não cometer o mínimo pecado voluntário. Entre seus apontamentos, encontra-se este: “Antes morrer mil vezes que cometer o mais leve pecado, antes morrer que transgredir a regra mais insignificante da Ordem”. Quando, após a festa litúrgica de Santo Inácio de Loyola, um dos companheiros lhe perguntou que graça havia pedido a Deus, João respondeu-lhe: “A graça de morrer na congregação sem jamais ter transgredido uma só regra”. O livrinho das constituições estava sempre aberto sobre a sua mesa, e, ao deitar-se, ele o colocava à cabeceira da cama.

A grande e particular devoção à Santíssima Virgem era apanágio especial do jovem Berchmans. Depositava nela confiança ilimitada. “Se amo Maria — costumava dizer —, estou certo de minha salvação e perseverança na Ordem. Tudo alcançarei do Senhor e serei onipotente”. Todas as vezes que, pela intercessão de Maria, desejava obter uma graça para si ou para outros, escrevia o desejo num papel, acrescentando sempre um bom propósito, como por exemplo: “Se Nossa Senhora conseguir em meu favor o que peço, recitarei três Terços e farei esta ou aquela obra de penitência em sua honra”.

No dia 7 de agosto de 1621, foi acometido por uma febre que não mais o deixou. O estado do jovem logo inspirou grande cuidado aos superiores, que não o deixaram em dúvida do risco de morte. João recebeu esta notícia com muita alegria, tanto que se abraçou com o irmão enfermeiro, que lhe falara do santo viático. A 12 de agosto, recebeu os sacramentos dos agonizantes. De acordo com seu desejo, recebeu-os deitado no chão. Tão grande era o seu fervor, que comoveu a todos que assistiam aos ritos sagrados. Após as cerimônias, o reitor perguntou a ele se tinha mais algum desejo, ao que disse o moribundo, com voz fraquíssima:

Se Vossa Reverendíssima achar conveniente, diga aos queridos padres e irmãos que o maior consolo que nesta hora experimento, é de minha consciência não me acusar de nenhum pecado leve que tenha cometido voluntariamente, no tempo em que estou nesta congregação; de nenhuma regra que tenha transgredido; nem de nenhuma ordem sequer dos meus superiores que não tenha cumprido.

Dito isto, abraçou a todos, um por um, e a todos agradeceu os benefícios que lhe haviam feito. Quando o enfermeiro lhe tomou o pulso e disse: “Está no fim”, João pediu que lhe dessem o crucifixo e o livro das regras e, tirando o terço do pescoço, disse: “Estes são os meus três tesouros, em cuja companhia quero morrer”. Beijou-os reverentemente e colocou-os sobre o peito. De tempos em tempos rezava: “Não me abandoneis, Maria; não confundais as minhas esperanças; sou vosso filho; sabeis que o jurei”. As últimas palavras que disse foram: “Jesus, Maria!”

No dia 13 de agosto de 1621, entregou a bela alma ao Criador. Pio XI beatificou-o em 1865 e Leão XIII inseriu seu nome no catálogo dos santos da Igreja.

Máximas de São João Berchmans

  1. Eu me entregarei a Deus sem reserva e não me preocupei com o futuro.
  2. Tudo que traz inquietação vem do demônio.
  3. Não deixarei para depois o que puder fazer agora.
  4. Por pequenas faltas farei grandes penitências.
  5. Quem trabalha demais, trabalha pouco.
  6. Age e fala pouco.
  7. Não és o que os homens dizem, mas o que Deus diz.
  8. Para os outros sê como uma mãe; para ti próprio, juiz.
  9. Farei de boa vontade o sacrifício de levantar-me cedo.
  10. Não me levantarei das refeições, sem ter feito uma mortificação, por pequena que seja.
  11. Não sejas fácil em dizer teu “sim” e “não”.
  12. Para que hás de querer ver o que não te é lícito possuir?
  13. A vigilância dos olhos é a mãe da piedade e preserva-nos de muitas tentações.
  14. A oração desagrada ao demônio, que por seu turno tudo faz para impedi-la.
  15. Não fales de ti nem bem nem mal, a não ser por obediência.

Referências

  • Extraído e adaptado passim de: João Baptista Lehmann, Na luz perpétua: leituras religiosas da vida dos santos de Deus, para todos os dias do ano, apresentadas ao povo cristão, v. II. Juiz de Fora: Typ. do “Lar Catholico”, 1935, p. 136ss.

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