“Todas as religiões são boas e iguais, em essência, perante Deus”, dizem os espíritas. “Não somos contra nenhuma religião, pois julgamos todas boas”. “Todas levam, por diversos caminhos, para o mesmo fim”. “É tudo água da mesma fonte”. “A religião é uma questão de ética, e não de doutrinas”. “Basta fazer a caridade”.

Ora,

  • se Deus, em sua infinita bondade e misericórdia, nada nos tivesse revelado a respeito do modo como chegar a Ele;
  • se Deus tivesse deixado os homens em absoluta ignorância a respeito da vida após a morte;
  • se não houvesse nenhum mandamento positivo de origem certamente divina;
  • se o Verbo eterno não tivesse assumido a natureza humana e “habitado entre nós” (Jo 1, 14);
  • se Cristo não tivesse percorrido a Galiléia e Judéia “ensinando” (cf. Mt 5, 2; 13, 54; Mc 1, 21; 2, 13; 4, 2; 10, 1; Lc 4, 15; 4, 31; 5, 3; Jo 7, 14; 8, 2; etc.);
  • se Cristo Jesus fosse apenas um mito inventado por alguma fantasia piedosa;
  • ou se Cristo não tivesse dado nenhuma outra ordem senão que nos “amássemos uns aos outros”;
  • ou se Cristo não tivesse enviado os Apóstolos pelo mundo com a ordem solene e expressa de “pregar a todos os povos o seu Evangelho” (Mc 16, 15), nem tivesse dado a ordem de “ensinar a todas as gentes a observar tudo que Ele mandara” (cf. Mt 28, 18-20);
  • se Jesus não tivesse prescrito tantas outras coisas como absolutamente necessárias “para a vida eterna” (por exemplo, Jo 3, 5: “Quem não renascer pela água e o Espírito, não pode entrar no Reino de Deus”; Jo 3, 36: “Quem crê no Filho tem a vida eterna; quem, pelo contrário, descrê do Filho não terá a vida, mas pesa sobre ele a ira de Deus”; Jo 6, 53: “Se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós”; Jo 15, 6: “Quem não ficar em mim, será lançado fora como o sarmento e secará”; Lc 13, 3: “Se não vos converterdes, perecereis todos”; Lc 8, 23: “Quem quiser ser meu discípulo, renuncie a si mesmo, carregue a sua cruz, dia por dia, e siga-me”; Lc 14, 27: “Quem não carregar a sua cruz e me seguir, não pode ser meu discípulo”; Lc 14, 33: “Não pode nenhum de vós ser meu discípulo, se não renunciar a tudo quanto possui”; Mt 10, 38: “Quem não tomar a sua cruz e me seguir, não é digno de mim”; Mc 16, 16: “Quem crer e for batizado, será salvo; mas quem não crer, será condenado”);
  • se não estivesse tão claramente anunciado que “não há salvação senão nele (em Cristo), porque debaixo do céu não foi dado aos homens outro nome em que nos cumpra operarmos a nossa salvação” (At 4, 12),

Se não fosse tudo isso, então, sim, poderíamos, talvez, dizer que todas as religiões são boas. No entanto,

  • sabemos e temos certeza de que “muitas vezes e de modos diversos falou Deus, antigamente, aos nossos pais pelos profetas; nos últimos dias, porém, falou-nos por meio de seu Filho, a quem constituiu herdeiro universal” (Hb 1, 1-2);
  • sabemos que “toda a Escritura divinamente inspirada é útil para ensinar, a fim de que o homem seja perfeito” (2Tim 3, 15s);
  • sabemos que os autores sagrados da Bíblia “falaram por impulso do Espírito Santo” (2Pd 1, 21);
  • sabemos que Cristo nos deu tantas e tão várias ordens, das quais fez depender a nossa salvação eterna.

Por tudo isso, devemos afirmar e conceder que nem todas as religiões são boas e iguais, em essência, perante Deus. Quem é o homem para levantar-se contra Deus ou contra seu Filho Unigênito? Se Deus estabeleceu positivamente meios de salvação, se prescreveu e indicou caminhos de chegar a Ele, se deu ordens expressas e bem determinadas, se fez declarações terminantes neste sentido, então é justo e necessário que o homem obedeça e siga as prescrições divinas. Fazer e propagar o contrário seria revolta aberta contra Deus.

E, infelizmente, há pessoas assim, que se levantam contra o Criador. São João abre o seu Evangelho com uma grande mensagem que, ao mesmo tempo, contém gravíssimas denúncias:

No princípio era o Verbo… e o Verbo era Deus… Todas as coisas foram feitas pelo Verbo… Nele estava a vida; e a vida era a luz dos homens. E a luz resplandece nas trevas, mas as trevas não a compreenderam… Veio ao mundo a luz verdadeira que ilumina a todo o homem. Estava no mundo; o mundo foi feito por Ele; mas o mundo não o conheceu. Veio ao que era seu, mas os seus não o receberam. A todos, porém, que o receberam deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus, os que crêem no seu nome, os que nasceram… de Deus. E o Verbo se fez carne e habitou entre nós.

É evidente que este Verbo, que “era Deus” e a “luz do mundo”, é Cristo Jesus. Os espíritas contestam obstinadamente que o Verbo “era Deus” e, por isso, são do número daqueles que não o compreenderam nem o conheceram nem o receberam… Dizer, pois, com os espíritas, que todas as religiões são boas; que não é preciso seguir a mensagem do Verbo, e toda a mensagem; que basta a caridade somente; que todas as religiões levam, por diversos caminhos, para o mesmo fim, e outras frases semelhantes, é revoltar-se contra Deus e contra Cristo.

Respondam-nos, portanto, os espíritas às seguintes perguntas: se todas as religiões são boas e iguais em essência, por que então veio Cristo, Ele mesmo, ensinar-nos uma nova religião? Apenas para atrapalhar os homens? Por que então insistiu Cristo tanto na necessidade da fé em suas palavras? Por que mandou Ele os Apóstolos pregar a todos os povos (que já tinham uma religião!) o Evangelho dele? Apenas para aumentar a confusão? Por que então declararam os Apóstolos que “não há salvação senão em Cristo” (At 4, 12)?

Se é verdade que todas as religiões são boas e iguais, então foi imperdoável a exigência de Cristo em fazer de todos os homens discípulos seus; então foram uns bobos aqueles numerosos mártires que preferiram morrer a renegar os ensinamentos de Cristo, para aderir a outra religião; então foram uns insensatos os Apóstolos e os missionários de todos os tempos, que, entre mil perigos e longe da pátria, correram e ainda hoje correm o mundo para levar a todos a mensagem cristã.

Se é verdade que todas as religiões são boas e iguais, por que então não deixam os espíritas aos brasileiros a religião católica, que mais de 90% afirma ter? Ou será que, segundo eles, todas as religiões são boas, menos a católica? Ou pensam eles que o Brasil é um país sem religião alguma? Se é verdade que todas as religiões são boas e iguais em essência, por que proclamou então Allan Kardec, em suas Obras Póstumas, que “o Espiritismo é a única tradição verdadeiramente cristã, a única instituição verdadeiramente divina e humana”?

Se todas as religiões são boas e iguais, então a vida mortificada dum São Pedro de Alcântara, glorioso padroeiro do Brasil, vale tanto aos olhos de Deus como a de um sultão turco no seu harém com 150 mulheres! Então Moisés, Brama, Marte, Júpiter, Lutero, Buda e Cristo (perdão, meu Deus!), todos merecem em igual medida os nossos respeitos! Então tanto faz se eu, com os astecas, sacrifico milhares de vidas humanas ou, com outros, adoro um touro, um gato, uma cegonha, o sol, a lua ou presto culto a Satanás.

Tudo isso será bom e igual, em essência, perante Deus?

Referências

  • Extraído e adaptado de Fr. Boaventura Kloppenburg, Resposta aos Espíritas, Rio de Janeiro: Vozes, 1954, pp. 17-21.

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