[No próximo dia 21 de março, às 21h, não perca “É por isso que sua oração não funciona”, uma aula do Padre Paulo Ricardo para todos que querem rezar bem e com fruto. Nossa transmissão acontece aqui, no site, e em nossas redes sociais.]

O divino Salvador não precisava buscar um lugar solitário para se entregar à oração, como nota Santo Ambrósio, pois, como sua bendita alma gozava sempre da união de seu Pai celestial, pensava nele em todos os lugares e em todas as circunstâncias e suplicava continuamente por nós. Apesar disso — como narra São Mateus (Mt 14,23) — despedia ele o povo e subia ao monte para rezar na solidão. Fazia isso para nos persuadir da necessidade da oração mental ou meditação. Quem quiser operar seriamente a sua salvação, não deve deixar de forma alguma a oração mental.

1. A alma que não faz oração mental está primariamente privada de luz. Quem conserva os olhos fechados — diz Santo Agostinho — não poderá ver o caminho que conduz à pátria. As verdades eternas são coisas completamente espirituais, não podem ser vistas com os olhos do corpo, mas unicamente com os olhos do espírito, isto é, podem ser apreendidas só pela reflexão e meditação. Aqueles, pois, que não praticam a oração mental, não veem essas verdades e, consequentemente, não conhecem a importância de sua salvação eterna e os meios a empregar para assegurá-la.

“Cristo no Horto”, por Carlo Dolci.

A perdição de muitas almas provém unicamente da falta de reflexão das verdades eternas e do caminho que conduz ao céu. “Toda a terra está cheia de desolação porque não há ninguém que considere em seu coração” (Jer 12,11). Ao contrário, nos assegura o Senhor que quem tem as verdades da fé diante dos olhos, principalmente as da morte, do juízo e da feliz ou desgraçada eternidade que nos espera, nunca cometerá um pecado. “Recorda-te de teus novíssimos e jamais pecarás” (Eclo 7,40). Por isso, o divino Salvador nos admoesta que tenhamos sempre nas mãos nossas lâmpadas acesas: “Estejam cingidos os vossos rins e lâmpadas acesas nas vossas mãos” (Lc 12,35). Essas lâmpadas — diz São Boaventura — são as meditações piedosas, pois, na oração mental, o Senhor fala conosco e nos ilumina. “Vossa palavra é uma luz para meus pés” (Sl 118,105).

São Bernardo compara a meditação com um espelho, e com toda a razão: quando se tem uma mancha no rosto e se coloca diante de um espelho, vê-se a mancha e tira-se; quando, porém, não se olha para o espelho, fica a mancha no rosto, porque, como não se vê, não se pensa em removê-la. O mesmo se dá com a oração mental: quando se tem um defeito ou se encontra em uma ocasião perigosa e se vai à meditação como a um espelho, descobre-se imediatamente a falta que se tem, bem como a ocasião em que se acha, e, vendo-as, removem-se.

Santa Teresa escreveu ao bispo de Osma: “Ainda que nos pareça que não temos imperfeição alguma, contudo, descobrimos um grande número delas quando Deus nos abre os olhos da alma, como costuma fazê-lo na meditação” (Carta 8). Quem não medita — diz São Bernardo — dificilmente descobrirá suas faltas e, por conseguinte, não terá aversão a elas. Um tal não conhece igualmente os perigos a que está exposto a respeito de sua salvação e, por isso, não pensa também em precaver-se contra os mesmos. Mas aquele que se dá à meditação, conhecerá logo suas faltas e os perigos a que está exposto e, por esse conhecimento, será levado à aplicação dos meios necessários. Pela meditação se excitava Davi ao exercício da virtude e à emenda de vida: “Pensei nos dias antigos e tive na mente os anos eternos e meditei de noite no meu coração, e me exercitava e purificava o meu espírito” (Sl 76,67). Nos Cânticos assim se exprime o divino Esposo: “As flores apareceram na nossa terra; o tempo da poda já chegou; ouviu-se na nossa terra a voz da rola” (Ct 2,12). Quando a alma, qual pomba solitária, se afasta do tumulto do mundo para falar com Deus na oração, então aparecem as flores, isto é, os bons desejos; e é o tempo da poda, quer dizer, tempo de se purificar das faltas descobertas na oração. “Pondera que o tempo de podar já chegou — diz São Bernardo (De Consid., l. 1, c. 7) — quando bater a hora da meditação, pois ela ordena as nossas inclinações, dá a justa direção às nossas ações e nos corrige de nossas faltas”.

2. Sem oração mental não temos, em segundo lugar, a força necessária para resistir aos ataques de nossos inimigos e para praticar as virtudes cristãs. A meditação produz em nossas almas o mesmo efeito que o fogo sobre o ferro: estando o ferro frio, é duro, e não se deixa trabalhar; sendo posto ao fogo, torna-se mole e se sujeita à vontade do ferreiro; por isso é ele incandescido antes de ser trabalhado. “Só o ferro incandescido é que o ferreiro procura manejar com repetidas pancadas” — diz o venerável Bartolomeu dos Mártires.

“Nossa Senhora em oração”, por Giovanni Battista Salvi de Sassoferrato.

Para guardar os mandamentos e conselhos de Deus deve-se ter um coração mole, isto é, dócil, que facilmente receba as impressões e inspirações divinas e imediatamente se dirija conforme elas. Salomão pedia ao Senhor tal coração, dizendo: “Senhor, dai ao vosso servo um coração dócil” (1Rs 3,9). Em consequência do pecado, nosso coração atualmente é duro e indócil por natureza: inteiramente inclinado aos gozos sensuais, resiste à lei do espírito, por cuja causa lamentava o Apóstolo: “Vejo outra lei em meus membros, que resiste à lei de meu espírito” (Rm 7,23). Contudo, sob a influência da graça que recebemos na meditação, tornamo-nos moles e dóceis: na consideração da bondade, do grande amor que Deus nos demonstrou e dos imensos benefícios com que nos cumulou, sentimo-nos inflamados, comovidos, e, por isso, também mais prontos para obedecer à voz do Senhor. Pelo contrário, o coração, sem oração mental, permanece duro, rebelde e desobediente, e perde-se miseravelmente: “O coração duro será oprimido de males, no fim da vida; e quem ama o perigo, perecerá nele” (Eclo 3,27).

Por esse motivo exortava São Bernardo ao Papa Eugênio II a que nunca deixasse a oração mental por causa dos trabalhos externos: “Eu temo, meu Eugênio, que deixes a oração e a meditação por causa dos muitos trabalhos e que, assim, teu coração se endureça, porque então não terá mais horror de si mesmo e se tornará insensível” (De Consid., l. 1, c. 2).

Muitos consideram como perdido e inútil o tempo considerável que as almas devotas empregam na oração mental, visto que, segundo eles, esse tempo poderia ser muito melhor empregado na prática de boas obras. Não pensam, porém, que a alma adquire na meditação a força para vencer seus inimigos e para praticar a virtude, conforme a sentença de São Bernardo: “Desse ócio provém a força”. Justamente por isso proíbe o Senhor despertar a sua esposa do sono: “Eu vos conjuro, filhas de Jerusalém (…) que não desperteis nem façais levantar-se minha amada até que ela o queira” (Ct 3,5); pois o sono ou o descanso que a alma goza na meditação é de suma necessidade para a vida espiritual. Quem não pode dormir, também não tem força para trabalhar nem para andar, e desfalece necessariamente no caminho. Do mesmo modo, uma alma que deixa de descansar, isto é, de renovar suas forças na oração mental, torna-se incapaz de praticar o bem e de resistir às tentações; ela cai de uma falta em outra.

3. Em terceiro lugar, sem a meditação não praticamos como devemos a oração de petição, que é indispensável para a salvação eterna. Se negligenciamos a suplicação, Deus não nos assiste mais; sem a assistência de Deus, porém, não podemos guardar seus mandamentos. Por isso, São Paulo exorta os fiéis a rezar sem interrupção: “Orai sem interrupção” (1Ts 5,17). Nós todos somos uns pobres mendigos, como dizia de si mesmo Davi: “Eu sou um mendigo e pobre” (Sl 39,18). O único recurso dos pobres consiste em pedir esmolas aos ricos.

“Ação de graças de uma anciã pelo alimento”, de Nicolaes Maes.

Do mesmo modo, devemos nós empregar esse meio na nossa pobreza espiritual e procurar alcançar de Deus, pela oração, as graças que precisamos. São João Crisóstomo diz: “Sem oração é simplesmente impossível viver virtuosamente” (De orat. Dom., l. 1). Donde provém a grande depravação dos costumes que se vê por toda a parte — pergunta o sábio Bispo Abelly — a não ser do abandono da meditação? Quando não se medita e se vive continuamente nas distrações que consigo trazem os negócios seculares, não se conhecem as próprias necessidades espirituais nem os perigos que ameaçam a alma, nem mesmo a necessidade de rezar que pesa sobre cada homem.

Em consequência dessa cegueira, deixa-se a oração de petição, e assim, perde-se infalivelmente. O célebre Bispo Palafox diz, nas suas anotações às cartas de Santa Teresa: “Como poderemos perseverar no amor de Deus, se Deus mesmo não nos der a perseverança? Como, porém, nos concederá o Senhor a perseverança se não lha pedimos? Como lha pediremos, se não praticamos a oração mental? Sem a oração mental não temos nenhum comércio com Deus e não podemos nos conservar na virtude” (Carta 8). São Roberto Belarmino exprime o mesmo pensamento, dizendo que é moralmente impossível viver isento do pecado se não se pratica a oração mental.

Talvez aqui objete alguém: De minha parte eu não faço meditação, mas também não deixo a oração vocal. A isso se deve responder com Santo Agostinho que, para alcançar as graças de que se precisa, não basta rezar só com a boca, mas deve-se rezar também com o coração. As orações vocais muitas vezes são feitas com muitas distrações e só com a voz do corpo e não com a do coração, principalmente quando são muito compridas e recitadas por aqueles que não sabem meditar; por isso, Deus apenas as ouve e raramente as atende.

Muitos rezam o Terço, ou o ofício da Santíssima Virgem, ou outras devoções externas e, contudo, vivem em pecado mortal. Dedicando-se, porém, à meditação, é impossível perseverar no pecado. Um grande servo de Deus dizia: “Oração e pecado não podem estar juntos”. A experiência ensina que aqueles que se consagram à meditação, não caem na desgraça de Deus. E se, por infelicidade, lhes acontecer isso, se não abandonarem a oração mental, entrarão brevemente em si e se converterão a Deus. “Por mais imperfeita que seja uma alma — diz Santa Teresa —, se perseverar na oração mental, o Senhor a conduzirá finalmente ao porto da salvação” (Vida, c. 8).

Referências

  • Trecho do livro Escola de Perfeição Cristã, parte 2, cap. 11, § 1.º, “Necessidade da oração mental para alcançarmos a salvação”. Este livro é uma compilação dos escritos de Santo Afonso feita pelo Pe. Édouard Saint-Omer, CSsR.

O que achou desse conteúdo?

0
0
Mais recentes
Mais antigos