Permita-me contar duas histórias.

Depois de vários anos de casamento, percebi que a frequência de nossos “encontros românticos” — para dizer com delicadeza — não correspondia exatamente às minhas expectativas pré-nupciais para pessoas na casa dos 20 anos. Mencionei isso na época para Suann, minha amada esposa, que disse: “Não seja estúpido, estamos bem acima da média”. Tivemos essa conversa infrutífera, em ambientes diferentes, mas sempre com o mesmo desfecho, por vários meses.

Finalmente me ocorreu, sendo um cara lógico, que os dados concretos têm o poder de um fato irrefutável. Assim, embora parecesse que tinha abandonado o assunto, o que realmente fiz foi representar graficamente o nosso desempenho ao longo de um período de 12 ou 13 semanas. Registrei os pontos relevantes e — pensei de maneira bastante generosa — apaguei de meus cálculos todos os dias legítimos sem relações; não apenas dias relacionados à biologia normal, mas até mesmo aqueles envolvendo alegações (francamente duvidosas) de “cansaço”. Eu então, de uma forma muito razoável, apresentei as evidências a Suann. 

Eu aprendi muito. Principalmente: Não faça isso. Obtém resultados. Só não os que você deseja.

Aqui está minha outra história. Novamente, estamos casados há alguns anos. Temos empregos e um apartamento de um cômodo em Manhattan. A vida é boa e está prestes a melhorar. Acabo de ser aceito no melhor programa de bolsa de estudos de cinema do país. É o grande passo na carreira. Vamos morar em Los Angeles, Suann (é claro) vai encontrar trabalho e eu vou usufruir da minha bolsa. E estaremos no nosso caminho para o sucesso e ótimos momentos. Então, Suann chega em casa do médico. Ela diz: “Estou grávida”. E eu lembro dela me observando com muito cuidado.

Talvez outros homens tiveram esta experiência: o tempo desacelera bem bruscamente. A estrada à frente se divide em duas. A rota A tem uma placa que diz: “Isso é muito inconveniente e estraga tudo”. A placa na rota B diz: “Esta é uma notícia maravilhosa, querida; vamos em frente”. Enquanto isso, em minha cabeça, uma voz tênue dizia: “Pense antes de falar, amigo. As consequências virão”. Então eu escolhi — se não com muito entusiasmo, pelo menos de forma convincente — a opção B. A coisa toda levou dois batimentos cardíacos. E, novamente, aprendi muito. Principalmente: como ser um homem em vez de um ego radicalmente ensimesmado de calças; como ser marido e pai, no fim das contas.

Ora, esses dois casos estranhamente pessoais têm algo em comum: sexo. E, como alguém que agora está mais velho — se não mais sábio, pelo menos mais prudente —, quero recomendar, para as massas da América famintas de intimidade, os dois melhores especialistas em sexo que li em décadas. Eles me ensinaram muito.  

Nenhum dos dois, porém, tem algo a dizer sobre a técnica.

O filósofo italiano Augusto Del Noce.

No início da década de 1960, em seu ensaio The Ascendance of Erotism [“A escalada do erotismo”] (presente em The Crisis of Modernity, sem tradução portuguesa), o estudioso católico italiano Augusto Del Noce observou que o senso de modéstia da sociedade mudou tão drasticamente em menos de uma década, que “uma pessoa comum aceita, sem qualquer reação moral, exibições de sexualidade que há poucos anos eram inconcebíveis”. Ele observou que a modéstia, enquanto virtude, não era mais simplesmente ignorada, mas vista como um recurso repressivo do passado — “os mortos tentando sufocar os vivos” — e, portanto, algo ofensivo e anormal.

Assim, escreveu Del Noce, em um mundo que se recusa a atribuir qualquer propósito sagrado ao corpo, ou qualquer permanência aos relacionamentos; em um mundo que vê o cerne de uma boa vida como a felicidade sexual, identificada com o máximo do apetite e da atividade sexual, “não faz sentido falar de perversões sexuais; pelo contrário, as expressões homossexuais, masculinas ou femininas, devem ser consideradas as formas mais puras de amor”. Ele também acrescentou que “o domínio da sexualidade livre é o puro presente”, que repudia o passado e é indiferente ao futuro. Assim, é não apenas infértil — as crianças são um obstáculo para a liberdade pessoal —, mas também alienante e uma regressão ao “animalismo” subumano.  

Simplificando: a frequência e a variedade de parceiros têm muito pouco a ver com a felicidade sexual duradoura. Na verdade, elas funcionam exatamente da maneira oposta. Como acontece com tantas outras coisas na vida, muito de uma coisa boa, na hora errada e da maneira errada, torna o “bom” entediante e vazio. O acentuado declínio da atividade sexual entre os jovens de hoje tem tudo a ver com a cápsula de isolamento da pornografia e o colapso de qualquer significado mais elevado nas relações sexuais. Sexo sem amor — amor verdadeiro, do tipo que vem com obrigações e fardos inesperados, mas também alegrias inesperadas — mata o gosto por ambos.

O filósofo britânico Roger Scruton.

O falecido Roger Scruton, meu outro sexólogo favorito, e também filósofo, acrescentou em “O Rosto de Deus” que a beleza e o poder da sexualidade humana em lugar algum encontram-se tão vividamente corporificados quanto no rosto — especialmente nos olhos, onde reside nossa subjetividade, assim como ela reside no rosto daquele Outro a quem amamos e desejamos. E é por isso que, em um mundo comprometido com a mercantilização e pornificação de quase toda a vida em nome da “liberdade”, a primeira vítima é o rosto humano. Em nosso tempo, as imagens eróticas são uma ferramenta de comércio e, portanto, 

apresentam o corpo como foco e significado do desejo… [o que leva inevitavelmente] a uma marginalização, na verdade, uma espécie de profanação do rosto humano. E essa profanação do rosto também é um rompimento com o sujeito. O sexo, na cultura pornográfica, não é uma relação entre sujeitos, mas uma relação entre objetos.

Aonde estou querendo chegar, afinal de contas?

Estou escrevendo estas linhas no mesmo dia em que nasce nosso décimo primeiro neto, o sétimo filho de nossa filha. Suann e eu celebraremos nosso 51.º (quinquagésimo primeiro) aniversário [de casamento] em dezembro, um monumento à sua paciência. Seus olhos ainda são jovens. Eles nunca envelhecem. Eu ainda olho para eles, e dentro deles, com gratidão, deleite e desejo. Então, acredito que seja esta a lição que aprendi no fim das contas: qualidade, não quantidade.


Francis X. Maier é pesquisador sênior em Estudos Católicos no Ethics and Public Policy Center [“Centro de Ética e Políticas Públicas”], em Washington, D.C. Seu trabalho se concentra na intersecção entre fé cristã, cultura e vida pública, com atenção especial à formação e à atuação do laicato. Seu texto foi publicado originalmente no dia 27 de setembro de 2021.

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