Para que nós, mulheres, aceitemos o nosso papel específico na santificação do sacerdócio, temos de estar dispostas a abandonar a postura antagônica que muitas vezes assumimos frente aos homens. Muitos danos foram causados na dinâmica entre homens e mulheres por causa das formas radicais de feminismo, que procuram opor homens e mulheres numa interminável luta por poder. Isso serviu para criar uma fratura em todo tipo de relação entre homens e mulheres, inclusive entre sacerdotes e mulheres.

O sacerdócio precisa da influência de mulheres santas, mas essa influência não deve vir de uma posição de poder que tantas tentam alcançar exigindo a ordenação de mulheres ao sacerdócio e ao diaconato permanente, assim como de outros papéis de liderança leiga no seio da Igreja. (É um caso irônico, já que as mulheres dominam a maior parte das posições de liderança nas paróquias e nas dioceses.)

Se o principal objetivo de uma mulher é ter um lugar de autoridade na hierarquia quando defende a igualdade, então ela não compreende a natureza do sacerdócio nem o seu chamado para servir a Cristo como mulher na Igreja. Qualquer movimento, da parte de homens e mulheres, que não busque na Igreja mais do que o poder vinculado ao sacerdócio está separado do sacerdócio instituído por Cristo na Última Ceia.

“Cristo lavando os pés dos seus discípulos”, por um seguidor de Peter Paul Rubens.

Quando Nosso Senhor instituiu o sacerdócio, mostrou aos Apóstolos que ser um de seus sacerdotes significa ser um homem de serviço e entrega radical. Significa abandonar o desejo de poder, honra e status no mundo, a fim de assumir o lugar mais baixo na cruz. Eles não devem pretender dominar o mundo ou a Igreja. Em vez disso, devem seguir o caminho do Servo Sofredor, que se esvazia a si mesmo por amor ao Pai para a salvação do mundo. Isso quer dizer que qualquer argumento pela igualdade entre os sexos centrado na ordenação de mulheres e em dar mais poder a elas no seio da Igreja está nas antípodas daquilo e de Quem o sacerdócio representa.

A resposta a como as mulheres podem, especificamente, ajudar a renovar o sacerdócio requer um distanciamento do desejo por controle sobre os homens e de uma “igualdade” falsa e mundana, e a adoção de uma visão de mundo sobrenatural. Nós, mulheres, somos chamadas por nossos dons femininos singulares a ajudar na santificação dos sacerdotes. É um papel essencial, mas que está muito em baixa por causa das constantes disputas de poder que ocorrem até nas menores paróquias.

A outra disparidade crítica entre mulheres de fé e sacerdotes é o fato de que todos os relacionamentos em nossa cultura foram reduzidos ao sexo. Isso quer dizer que a autêntica complementaridade entre homem e mulher, um dom de Deus, foi perdida. Essa complementaridade não diz respeito apenas ao amor romântico e ao casamento; inclui também amizades e laços familiares, ambos em nível material e espiritual.

Sim, homens e mulheres devem ser mais prudentes em seus relacionamentos por causa da atração natural que sentem um pelo outro. Mas isso não quer dizer, de modo algum, que homens e mulheres sejam incapazes de expressar uma caridade autêntica e santa. Significa apenas que é necessário um esforço mais profundo, assim como uma vigilância constante. Não podemos nos esquecer de que o maligno está sempre à espreita. Se houver uma falta de maturidade espiritual em um dos lados, a relação não dará certo e poderá ser uma fonte de perigo espiritual para ambos os lados. Isso quer dizer, simplesmente, que a dedicação à santidade e ao progresso espiritual deve estar acima de todo o resto — e esse é um bom conselho, inclusive para uma cultura saudável. O que não devemos fazer de modo algum é estabelecer uma divisão rígida entre homens e mulheres, evitando qualquer amizade ou cooperação, por causa de um puritanismo equivocado e temeroso. 

Nosso maior exemplo sobre o papel das mulheres e o sacerdócio vem de Nossa Senhora. Ela é o exemplo por excelência para nós. Ela é Rainha e Mãe de todos os sacerdotes, e é por meio do seu exemplo que mulheres e sacerdotes podem adquirir uma compreensão mais clara de como as mulheres podem ajudá-los a crescer em santidade, sobretudo em tempos de crise.

Essa dimensão mariana se vê principalmente na maternidade espiritual dos sacerdotes. Naturalmente, esse papel remonta a Nossa Senhora, que se tornou Mãe de todos os sacerdotes quando o seu Filho, moribundo na cruz, lhe entregou São João. Ao longo de toda a história da Igreja, essa foi uma missão que muitas mulheres — leigas e religiosas — receberam de Cristo por meio de Nossa Senhora. 

Na década passada, houve um movimento ainda maior de promoção da maternidade espiritual dos sacerdotes na Igreja. A Congregação para o Clero publicou em 2007 um documento sobre a necessidade da maternidade espiritual e da adoração eucarística para a santificação dos sacerdotes. É um chamado que tem início no segredo do coração, mas que pode se manifestar de diversas formas segundo a vontade particular de Deus para cada mulher.

Dados os ataques ao sacerdócio e os escândalos atuais, é cada vez mais necessário que os sacerdotes saibam que essas mulheres estão presentes em seu meio, lutando espiritualmente por eles na oração, oferecendo sacrifícios e reparações e encorajando-os — como fez Nossa Senhora em Caná —, a fim de ajudá-los no caminho da santidade.

Os sacerdotes precisam saber que há mulheres dedicadas a ajudá-los em seu ministério sacerdotal e que não procuram ter controle ou poder sobre eles. Há muitos sacerdotes que pensam estar sozinhos, e é por isso que o Espírito Santo têm tornado públicas algumas mães espirituais, enquanto outras permanecem escondidas. A própria Igreja afirmou que esse chamado é essencial, embora ainda seja muito incompreendido.

Independentemente de como ele se manifeste na vida de uma mulher, esse chamado é, acima de tudo, uma vocação mariana. Trata-se de amar os sacerdotes com o Imaculado Coração de Maria, ou seja, com um amor desinteressado que busca o bem supremo, isto é, sua santificação. Ser mãe espiritual significa morrer para si, como ocorre na maternidade natural. A missão de uma mãe espiritual se resume a trabalhar na ordem sobrenatural para que os sacerdotes cheguem a ser santos. Isso quer dizer que lutas por poder ou afetos desordenados não têm lugar aqui. De fato, não podemos desejar o bem de outra pessoa se formos escravos do nosso próprio ego, do desejo de controle ou se cairmos em tentação.

A verdadeira maternidade espiritual também complementa a paternidade espiritual, na medida em que ajuda a desenvolver as duas vocações. Sacerdotes — assim como maridos e pais — precisam das mulheres para crescer em sua paternidade espiritual. Por isso é essencial que os sacerdotes sejam marianos, senão correrão o risco de cair num celibato desordenado ou ficarão alheios às necessidades das mulheres que estão sob os seus cuidados. A feminilidade autêntica, que está enraizada na caridade e em uma identidade mariana, ajuda a conduzir os sacerdotes mais profundamente ao Sagrado Coração de Jesus por meio do Imaculado Coração de Maria. Esse é o caminho para uma santidade mais elevada.  

As mulheres podem ridicularizar essa função, mas isso equivale a assumir uma mentalidade mundana. Todo poder espiritual exercido por santas ao longo dos séculos — incluindo a mais recente favorita de todos nessa época de escândalos: Santa Catarina de Siena — vinha de sua disposição para travar, primeiro, batalhas espirituais. Santa Catarina foi uma mulher de profunda oração, jejum, sacrifício, mortificação e reparação. Foi por causa dessa vida íntima com Deus plena de amor que ela foi capaz de ajudar a sacerdotes, bispos e Papas. Ela não estava interessada no poder e na honra do mundo. Por isso Deus a chamou para realizar grandes missões. Deus não chama quem anda à procura de poder mundano em postos de influência. Não podemos servir a dois senhores.

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RL
Raiene Lemos
3 Dez 2024
(Editado)

Parece que Deus me deu uma (talvez duas) graça de luz sobre o tema. É consolador para o sexo feminino, que nenhuma crise no clero foi, é ou será culpa nossa. Em certo sentido, é um alívio muito grande. Lendo a passagens das obras de Teresa sobre sentir tal vocação, como a de baixo, agora, sinto uma leveza. Os argumentos nunca me convenceram, são todos insuficientes, quando não falsos, decidi aceitar apenas por pura obediência e abnegação. Há muita necessidade, ou melhor, é "desesperadamente" necessária a Fé no Amor de Deus para O amar, depois, nos sacrifícios. É necessária também para não fazer surgir/evitar ou aumentar os transtornos psicológicos (e somáticos). Como o amor tende ao absoluto, quer o bem do ser amado a todo custo, a própria custa, até o sacrifício total consumado, e como o amor é extático, a complacência pelo bem do amado lhe será mais doce e alegre do que o próprio bem, tal felicidade compensa aquilo que é sacrificado. Estou tentando ser otimista.

Apenas tentando, pois ainda me parece (juízo prático) o catolicismo a religião da dor, da humilhação, da agonia, do sangue, do abatimento, da tristeza mais enfadonha e da morte.

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RL
Raiene Lemos
22 Out 2024
(Editado)

Daqui a menos de um mês irei fazer 25 anos, e estou muito triste com isso. Me lembro desta citação de Santa Teresa do Menino Jesus: "Feliz de morrer aos 24 anos, porque antes desta idade não se é geralmente ordenado padre. Então Deus, chamando-me a si, poupa-me o desgosto de ter vivido sem o ter sido, e sem a esperança de o ser algum dia". Apenas me deixem chorar. 🥲 Eu não queria poder e honra nenhuma perante os homens, mas apenas fazer Jesus ganhar a vida em minhas mãos. 🌕🤏 Mesmo que eu viva um hipotético chamado à Maternidade Espiritual, que é uma vocação mariana, ainda é desolador, pois a Virgem Maria gerou Jesus na Sua Natureza Humana, Ela Lhe deu a vida. Mas a santidade é "um morrer antes de cabalmente morrer", não ter vontade própria, viver para o Querer de Deus. Amar a Deus até o desprezo/esquecimento de si.

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