Diz-se que, quando pessoas consagradas a Deus, mas em estado de pecado mortal, aproximavam-se de Santa Catarina de Sena, ela via seus pecados e sentia uma tal náusea, que era obrigada a virar o rosto.

Por mais forte razão, a Santa Virgem via o pecado nas almas culpadas como nós vemos, nós, as feridas purulentas em um corpo doente. Ora, a plenitude de graça e de caridade, que não cessou de crescer nela desde sua imaculada conceição, aumentava proporcionalmente em seu coração a capacidade de sofrer do maior dos males. De fato, disto sofre-se tanto mais quanto mais se ama a Deus, Bem soberano, a quem ofende o pecado; e as almas, que o pecado mortal desvia de seu fim último e as torna dignas da morte eterna.

Maria, sobretudo, vê, sem ilusão possível, preparar-se e consumar-se o maior dos crimes: o deicídio; ela vê o paroxismo do ódio contra aquele que é a Luz, a mesma Bondade e Autor da salvação.

Para entrever o que foi o sofrimento de Maria, é preciso pensar em seu amor natural e sobrenatural, em seu amor teologal, por seu Filho único, não apenas amado, mas legitimamente adorado, a quem amava muito mais que a sua própria vida, posto que era seu Deus. Ela o concebera miraculosamente, o amava com um coração de Virgem, o mais puro, o mais tenro, o mais rico de caridade que jamais existiu, excetuado o coração do Salvador.

Ela sabia incomparavelmente melhor que nós a razão superior da crucifixão: a redenção das almas pecadoras; e, no mesmo instante, tornava-se, de modo mais profundo que nunca, a mãe espiritual destas almas por salvar.

Se Abraão sofreu de modo heróico ao preparar-se para imolar seu filho, não sofreu senão por algumas horas, e um anjo desceu do céu para impedir a imolação de Isaac. Ao contrário, desde as palavras do velho Simeão, Maria não cessará de oferecer aquele que devia ser Sacerdote e vítima e se oferecer com ele. Esta dolorosa oblação durará por anos e, se um anjo desceu do céu para parar a imolação de Isaac, nenhum desceu para impedir a de Jesus.

Donde a invocação "Coração doloroso e imaculado de Maria, rogai por nós". Nesta invocação, a palavra "imaculado" lembra o que Maria recebeu de Deus e "doloroso", tudo o que fez e tudo que sofreu com seu Filho, por Ele e n'Ele, para nossa salvação. Com Ele, mereceu, de um mérito de conveniência, não apenas a aplicação dos méritos do Salvador a tal ou tal alma, como Santa Mônica por Santo Agostinho, mas mereceu com o Redentor "a liberação do gênero humano" ou a redenção objetiva, donde o título de Corredentora, que lhe é mais e mais reconhecido pela Igreja.

Verdadeiramente, a plenitude de graça e de caridade aumenta consideravelmente nela a capacidade de sofrer do maior dos males. Ela, que deu à luz a seu Filho sem dor, dá à luz aos cristãos em meio aos maiores sofrimentos. Que preço pagou por nós? "Nós lhe custamos seu Filho único", diz Bossuet. "Era a vontade do Pai eterno fazer nascer filhos adotivos pela morte do Filho verdadeiro".


Extraído de "La Capacité de souffir du péché en Marie Immaculée", in: Angelicum, vol. 31 (1954), fasc. 4, pp. 352-357.

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