“Um filme perigoso...”. Assim um grupo pró-aborto do Canadá rotulou o longa Unplanned, que estreou esta semana nos cinemas brasileiros. Considerado “polêmico” por parte da “crítica especializada”, a produção chegou a ser censurada ou restringida para maiores de 16 anos, como foi o caso no Brasil. Mas qual seria a razão para tanto alarde? Por que esse filme de baixo orçamento preocupou tanto os defensores do aborto, fazendo-os endossar notas de repúdio, ameaças e até campanhas de boicote?

A resposta é simplesmente esta: escândalo dos escândalos para quem deseja matar bebês no ventre materno, Unplanned, lançado aqui como 40 Dias: O Milagre da Vida, conta a história de Abby Johnson, uma ex-diretora da clínica Planned Parenthood, nos Estados Unidos, que, após ter visto por ultrassom um procedimento de aborto, decidiu abandonar as fileiras da empresa para engrossar o apelo dos pró-vida. O filme se baseia no livro autobiográfico de Abby, cujo primeiro capítulo já publicamos aqui anos atrás. Trata-se de um relato comovente e, ao mesmo tempo, chocante que, verdade seja dita, é realmente “muito perigoso” para os advogados do aborto; mas não porque incentive alguma violência — não, o filme nem de longe sugere isso —, e sim porque expõe um dado bastante inconveniente: a legalização do aborto jamais serviu para a proteção das mulheres, pois, ao fim e ao cabo, a questão sempre foi o poder, a formação de uma indústria extremamente lucrativa que se tornou um império multinacional às custas de milhões de vidas inocentes.

A reviravolta na história de Abby começou precisamente quando ela se deu conta disso. Depois de oito anos iludida, julgando que a Planned Parenthood era apenas mais uma ONG para garantir os “direitos reprodutivos” da mulher e o acesso a métodos contraceptivos, ela descobriu que, no fim das contas, a instituição para a qual trabalhava tinha uma meta bem mais prática: ter lucros provendo abortos. Não interessava a saúde das pacientes. Não interessava a vida das mulheres. Não interessava sequer a ideologia. A verdade veio à tona quando Abby, após ter questionado a orientação para aumentar os procedimentos abortivos, foi formalmente repreendida pela empresa. “Aborto é o que paga o seu salário”, ouviu de sua supervisora. 

De fato, a Planned Parenthood, fundada em 1916 pela ativista Margaret Sanger, tornou-se uma instituição poderosíssima mundo afora, graças a verbas governamentais e doações de grupos como Rockfeller e Ford. Paralelamente, o fornecimento do chamado “aborto seguro” é uma de suas principais fontes de renda, dado que outros serviços têm sido menos procurados, segundo o relatório anual da empresa. Em 2019, o rendimento total da Planned Parenthood ficou em torno de US$ 1,6 bilhão. Entre os anos de 2017 e 2018, foram realizados mais de 330 mil abortos pela instituição, com preços de US$ 350 a US$ 900 cada, dependendo do tempo de gestação. Quanto mais adiantada for a gravidez, mais caro o aborto.

Unplanned não é, decerto, uma produção para vencer 11 estatuetas do Oscar, mas só por apresentar esse lado obscuro do movimento pró-aborto — que, de outro modo, dificilmente chegaria à opinião pública — já vale o ingresso. Trata-se de um filme panfletário? Pode ser, em alguns momentos. Mas que filme, hoje em dia, poderia gabar-se de não sê-lo? Desde que Hollywood abandonou o bom senso da moral para mergulhar de vez na baixeza e no politicamente correto, a maior parte das grandes produções é agora marcada por panfletagem ideológica, e predominantemente de esquerda (o que só deve piorar com a nova orientação da Academia de Cinema para a defesa da “diversidade”). Unplanned, portanto, não é só oportuno, mas necessário para romper uma narrativa única, sobretudo quando uma atriz do porte de Michelle Willians, por exemplo, sobe ao palco para receber o Globo de Ouro e atribui a conquista do prêmio ao aborto que cometeu anos atrás, e isso sob aplausos da imprensa.

As ONGs pró-aborto sempre tiveram a seu favor os grandes meios de comunicação, que trabalham diuturnamente para forjar a ideia de que se trata de uma “questão de saúde pública”, coisa por si só abjeta, porque supõe que uma mulher precisa matar o próprio filho “com segurança” para manter-se saudável. Para isso, não se envergonham de publicar matérias alarmistas, as tais “fake news”, sobre supostos números de mortes em casos de abortamento clandestino. E pintando uma imagem cinicamente “humanista”, tentam ganhar a opinião pública por meio de um discurso sobre “direitos humanos” e “igualdade de gênero”. É o suprassumo da hipocrisia que, diante de um filme como Unplanned — uma produção modesta, sim, mas perfeitamente capaz de atrair a audiência —, não pode se sustentar de pé, a não ser pelo uso da força e da difamação. Daí toda a campanha de boicote e censura contra o filme, a pretexto de um perigo de violência e ataques contra clínicas e médicos que fazem aborto.

Mas se há uma coisa que o espectador não verá durante 1h49min de cenas é alguma incitação à violência. Ao contrário, os roteiristas tiveram a sensibilidade de deixar bem evidente a diferença entre os grupos de pró-vida, como o 40 dias pela Vida, e os de pessoas isoladas que agem mais pelas paixões do que pela razão. No fundo, o que há é uma crítica severa a quem pretende salvar vidas por métodos desumanos. Unplanned mostra que a verdadeira defesa da vida não é feita por discursos de ódio ou ataques pessoais, o que nos igualaria ao outro lado, mas pela doação de si mesmo, pelo sacrifício dos próprios interesses em benefício dos outros. Nesse sentido, a única violência explícita que o espectador que for ao cinema deve esperar é aquela mesma do aborto, cuja consequência é sempre mortal.

De resto, apesar de alguns crerem que Unplanned “não é um filme ideal para se ver na reabertura dos cinemas”, não há nada mais apropriado para os brasileiros assistirem agora do que à verdade nua e crua a respeito do que é mesmo um abortamento, sobretudo após o caso da menina de 10 anos, de São Mateus (ES), que foi tão explorado e deturpado pela militância pró-aborto. Porque o verdadeiro “perigo” não é um filme no cinema, mas o que essas ONGs ditas “humanistas” vêm tramando há anos por debaixo dos panos para instituir a matança de bebês no nosso país.

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