Provavelmente, poucas pessoas pensarão que Frodo Bolseiro, o pequeno herói de “O Senhor dos Anéis”, tenha muito a ver com a Quaresma. Qual é a relação entre um hobbit e o hábito de jejuar? O que “O Senhor dos Anéis” tem a ver com o Senhor que morreu por nós na Cruz? Qual é a relação entre a Terra Média e a razão de ser da Quaresma?

São boas perguntas para as quais J. R. R. Tolkien deixa entrever uma resposta quando diz que “O Senhor dos Anéis é, evidentemente, uma obra fundamentalmente religiosa e católica”.

Como isso é possível? Como uma história sobre hobbits, anões, elfos e magos pode ter algo a ver com a vida, morte e ressurreição de Cristo?

A resposta é revelada na data em que o Um Anel é destruído. O Um Anel, “que a todos rege… para na escuridão atá-los”, é destruído no dia 25 de março. Isto deveria chamar a nossa atenção, porque 25 de março é, evidentemente, a festa da Anunciação, data em que o anjo do Senhor anunciou a Maria e ela concebeu do Espírito Santo. É a data em que o Verbo se fez carne e habitou entre nós e em que Deus se fez homem. A maioria dos católicos sabe disso, mas poucos sabem que, segundo a tradição, 25 de março é também a data da Crucifixão. É, portanto, não apenas o dia em que Deus se tornou homem, mas também o dia em que Cristo morreu por nossos pecados.

Tolkien sabia disso, pois sempre foi um católico praticante.

Mas o que a data da Encarnação e da Crucifixão tem a ver com a destruição do Um Anel?

O Anel é “o Um Anel que a todos rege… para na escuridão atá-los”. O pecado original é o Um Pecado que a todos rege para na escuridão atar-nos. O Um Anel e o Um Pecado são destruídos na mesma data. Tolkien quer que estabeleçamos essa correlação. Ele está nos mostrando que o poder do Anel está ligado ao poder do pecado. O Anel é sinônimo de pecado.

“Começa a jornada de Gollum”, por Frederic Bennett.

Isto quer dizer que colocar o Anel é um ato pecaminoso. Quando o fazemos, desaparecemos do mundo bom que Deus criou, mas tornamo-nos visíveis para o demoníaco Senhor das Trevas, porque entramos em seu domínio. Se usarmos o Anel habitualmente, vivendo em pecado, viciados em estilos de vida destrutivos, nossa alma começa a murchar e encolher. Deixamos de ser o bom hobbit que Deus nos criou para ser e transformamo-nos em criaturas miseráveis, como Gollum, que não querem outra coisa senão o pecado, o qual se torna “precioso” para nós, apesar de nos tornar miseráveis. Dito de outro modo, um estilo de vida pecaminoso tem o poder de nos gollumizar.

Se o uso do Anel simboliza a vida mergulhada no pecado, a posse do Anel significa o carregamento da Cruz. Se somos portadores do Anel e não usuários dele, carregamos o peso do pecado sem pecar. Tomamos a nossa cruz e seguimos a Cristo.

Frodo Bolseiro, por ter sido escolhido para ser o portador do Anel, é o portador da Cruz. Ele é, portanto, uma figura de Cristo. Por isso, Tolkien faz com que ele saia de Rivendell em 25 de dezembro e chegue à Montanha da Perdição (Gólgota) em 25 de março (Sexta-feira Santa). A viagem, ou peregrinação, de Frodo começa no dia do aniversário de Cristo e termina na data da morte de Cristo.

Será que um hobbit tem alguma coisa a ver com o hábito de jejuar? Será que a viagem de Frodo é um reflexo da nossa própria jornada quaresmal até os pés da Cruz? Será que “O Senhor dos Anéis” é uma obra fundamentalmente religiosa e católica?

Pode acreditar [que sim]!

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