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Texto do episódio
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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos
(Mc 7, 24-30)

Naquele tempo, Jesus saiu e foi para a região de Tiro e Sidônia. Entrou numa casa e não queria que ninguém soubesse onde ele estava. Mas não conseguiu ficar escondido.

Uma mulher, que tinha uma filha com um espírito impuro, ouviu falar de Jesus. Foi até ele e caiu a seus pés. A mulher era pagã, nascida na Fenícia da Síria. Ela suplicou a Jesus que expulsasse de sua filha o demônio. Jesus disse: “Deixa primeiro que os filhos fiquem saciados, porque não está certo tirar o pão dos filhos e jogá-lo aos cachorrinhos”.

A mulher respondeu: “É verdade, Senhor; mas também os cachorrinhos, debaixo da mesa, comem as migalhas que as crianças deixam cair”.

Então Jesus disse: “Por causa do que acabas de dizer, podes voltar para casa. O demônio já saiu de tua filha”. Ela voltou para casa e encontrou sua filha deitada na cama, pois o demônio já havia saído dela.

Hoje, celebramos a memória de Santa Escolástica, virgem contemplativa e irmã de São Bento, o grande fundador do monaquismo ocidental. Sobre a vida de Santa Escolástica, as poucas informações que temos foram narradas por São Gregório Magno, em seus Diálogos, ao falar sobre a vida de São Bento. Nesse relato, Escolástica é descrita por Gregório Magno como uma jovem que, desde a mais tenra idade, sempre foi consagrada ao Senhor. Daí pode vir o sentido de seu nome, como aquela que se consagrou à escola do Senhor. Depois que São Bento iniciou sua vida cenobítica em Monte Cassino, Santa Escolástica também se estabeleceu nessa região como monja. Gregório Magno relata que, nessa ocasião, São Bento foi visitar sua irmã, conforme fazia uma vez ao ano. Durante a visita, os dois entreteram-se em colóquios espirituais e compartilharam suas reflexões sobre as verdades sobrenaturais. Ao final do dia, São Bento, em obediência à própria regra que proibia de passar a noite fora do mosteiro, despediu-se de sua irmã. Ela, porém, pediu que ele permanecesse. De forma resoluta, ele se negou e tentou ir embora. No entanto, Escolástica começou a chorar copiosamente, e suas lágrimas foram seguidas por uma tempestade muito forte e inusitada que impediu seu irmão de ir embora. São Bento ainda tentou reprovar a atitude da irmã. Ao que ela respondeu com simplicidade de coração: “Eu pedi a ti e me negaste; eu pedi ao meu Deus e Ele me ouviu”. Assim, o irmão permaneceu e ambos passaram a noite em santos colóquios. Três dias depois, no mosteiro, São Bento olhou para o alto e viu a alma de Escolástica subindo aos céus em forma de pomba. A partir desse relato, São Gregório conclui: “Como diz São João evangelista, ‘Deus é amor’ e, embora Bento fosse um grande santo, Deus ouviu a oração de Escolástica, porque com justíssima razão, teve mais poder aquela que mais amou.” Para nossa vida de oração, é de grande valia tal ensinamento de que a oração possui maior eficácia quando movida por um coração cheio de caridade. Que Santa Escolástica nos ensine a cultivar esse amor em nossos corações, a fim de que contribuamos para o transbordamento da caridade divina sobre este mundo.

* * *

A cura da filha de uma cananéia (cf. Mt 15,21-28; Mc 7,24-30)

Nesta narração, os autores sagrados pretendem chamar a atenção dos leitores, mais que para o milagre realizado por Cristo, para a fé da mulher cananéia.

Jesus retira-se para a Fenícia. — V. 21. E, tendo partido dali (da região de Genesaré), Jesus retirou-se às partes, i.e. para o território de Tiro e de Sidônia, i.e. da Fenícia, da qual Tiro e Sidônia eram as duas cidades principais. Cristo refugia-se numa região de pagãos ou para esquivar-se dos fariseus, ou para fugir à perseguição de Herodes (cf. Mt 14,13); por isso, tendo entrado em casa, i.e., na casa de alguém, provavelmente de um pagão, não queria que ninguém o soubesse, mas não pôde ocultar-se (Mc).

A mulher siro-fenícia (v. 22-29). — V. 22. E eis que uma mulher cananéia, i.e. uma dos fenícios, que eram cananeus (cf. Gn 10,15), vinda daqueles arredores, clamava, dizendo: Tem piedade de mim, Senhor, filho de Davi, pois minha filha é terrivelmente vexada pelo demônio. Esta mulher, que sem dúvida ouvira falar dos milagres de Cristo e da fama dele entre os judeus, saíra de sua região para suplicar a cura da filha. Logo, foi ter com Jesus pela primeira vez quando Ele ainda estava em território judeu; mas Cristo, como narra Mc, só lhe atendeu às preces em casa, i.e. quando já tinha chegado à Fenícia. — No segundo Evangelho, esta mulher cananéia é chamada ἑλληνίς, ou seja, de origem siro-fenícia, nome dado pelos romanos aos habitantes da Fenícia (anexa à província da Síria), para distingui-los dos libio-fenícios, na África setentrional.

V. 23s. A princípio, Jesus não atendeu ao pedido, razão por que os discípulos mesmos, enfastiados dos clamores e súplicas dela, rogavam ao Mestre que ouvisse logo a mulher e a despedisse em paz. Jesus, porém, recuou-se ainda uma vez porque eu não fui, disse, enviado desta vez, durante minha vida mortal, senão às ovelhas desgarradas da casa de Israel, pois cumpria anunciar primeiro aos judeus a palavra de Deus (cf. At 13, 46).

V. 25s. Já em casa (cf. Mc v. 25), novamente é rejeitado o pedido da mulher, mas desta vez com aparente desprezo, pois o Senhor, simulando o ódio e a aversão dos judeus aos gentios, dirige-se à cananéia nestes termos: Não é bom, i.e. não é justo, não convém tomar o pão dos filhos, i.e. o que é devido aos filhos, e lançá-lo aos cães. Em linguagem parabólica diz o mesmo que dissera antes (cf. v. 24). — Era costume entre os judeus chamar cães aos gentios: ‘A aliança santa é para vós, não para os que são estranhos a vós, para os cães [i.e. os estrangeiros]’ (Megilla, in Ex 12,16); ‘as nações do mundo assemelham-se aos cães’ (Midrash Tillim, in Sl 4).

V. 27. Mas a mulher, com grande acuidade e, ao mesmo tempo, admirável confiança e humildade, dá volta ao argumento: Também (gr.ναί = assim é), Senhor, quer dizer: ‘de fato! mas embora seja assim, tenho razão em te pedir’, pois também os cachorrinhos comem das migalhas que caem da mesa dos seus donos. — Os gentios não evitavam ter contato com cães, ao contrário dos judeus.

V. 28. Tendo ouvido isso, Jesus exclamou, como se não pudesse mais conter suas vísceras de misericórdia: Ó mulher, grande é a tua fé, ao que o evangelista acrescenta: E, desde aquela hora, ficou sã a sua filha (cf. Mc).

Comentário: 1) Esta mulher é como um tipo da gentilidade: ‘Oh! admirável inversão! Israel, outrora filho; nós, outrora cães, mas a diversidade de fé fez mudar a ordem dos nomes. É deles, com efeito, que mais tarde se dirá: Rodearam-me muitos cães (Sl 21,17), e: Guardai-vos desses cães, guardai-vos desses maus operários, guardai-vos desses mutilados (Fp 3,2), enquanto nós ouvimos com a siro-fenícia e a hemorroíssa: Grande é a tua fé, seja-te feito como tu o queres, e: Filha, a tua fé te salvou (Mc 5,34)’ (São Jerônimo). — 2) A cananéia dá um belíssimo exemplo das mais variadas virtudes aos cristãos: de fé, de reverência, de confiança, de humildade, de prudência, de perseverança na oração etc. — 3) Cristo ensina na prática a perseverar na oração: Deus parece ignorar pela demora a oração dos santos, mas para que se torne ainda mais ardente, como a chama ao ser agitada pelo vento (cf. Santo Agostinho).

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