A liturgia de hoje celebra a memória de São Paulo Miki e seus 25 companheiros mártires. Todos morreram crucificados durante a grande perseguição aos cristãos do Japão, no fim do século XVI. O imperador japonês, estimulado por uma forte campanha de difamação contra os católicos, decidira reprimir os missionários espanhóis, a fim de livrar o seu país de uma possível escravidão. Foram martirizados padres, acólitos, catequistas, leigos e leigas. Eles morreram gloriosamente cantando hinos a Jesus Cristo, deixando-nos um grande testemunho da alegria cristã.
Na história dos santos de hoje, vemos como a difamação tem um efeito perigosíssimo dentro da comunidade. De fato, ao longo dos séculos, a calúnia sempre foi um instrumento do diabo para promover perseguições à Igreja. E as coisas não mudaram desde então. Isso que viveram os mártires japoneses não está tão distante da nossa realidade. Embora não haja, em nosso país, qualquer decreto de perseguição à Igreja, existe, por outro lado, um sistema de pensamento — que se encontra nas universidades, jornais, políticas públicas etc. — contrário à fé católica, por julgá-la, como na época de São Paulo Miki, uma ameaça à liberdade.
Com algumas nuances diferentes em cada época, a perseguição à Igreja segue firme e forte. Todavia, o pretexto de nosso tempo é um pouco mais elaborado. Para os ideólogos atuais, inimigos da religião, a Igreja seria apenas um bastião do capitalismo, para reprimir as pessoas sexualmente e submetê-las à lógica do mercado.
A propaganda anticristã pensa da seguinte maneira: em primeiro lugar, eles entendem que a sociedade está organizada por um mecanismo de opressão que obriga as pessoas a viverem de maneira consumista. Nesse caso, elas são constantemente estimuladas a comprar, comprar e comprar, de modo que acabam endividadas e reféns dos bancos. Assim, precisam empenhar toda a sua energia para trabalhar, aceitando salários mínimos e condições absurdas de jornada, que as tornam verdadeiras “escravas”.
Por isso, segundo esses ideólogos, somente uma revolta contra tal sistema poderia pôr abaixo os mecanismos de opressão e libertar os trabalhadores. Acontece, porém, que a Igreja Católica, dizem seus inimigos, não permite que o povo se revolte porque o reprime por meio da pregação sobre a castidade. O padre, com toda a sua pregação, causaria uma neurose nos fiéis que, com medo de pecar, preferem empenhar a sua energia sexual no trabalho do que em expressar seus verdadeiros sentimentos.
Essa é, de maneira muito sucinta, a teoria. É com base nessas premissas que hoje, por exemplo, já existe toda uma associação da tradição católica ao fascismo. Com essa propaganda, a Igreja tornou-se, aos olhos do mundo, uma ameaça à liberdade e, portanto, deve ser combatida em todas as esferas da sociedade. As pessoas são incentivadas a ter um pensamento “crítico” contra a Igreja, ou seja, a desconfiar do seu discurso, como se tudo se baseasse em uma busca de poder e domínio. Se o padre Paulo, por exemplo, ensina alguma verdade aqui no site, ele deve ser acusado de estar buscando domínio por meio da venda de cursos, não interessando se o que ele ensinou é verdade ou não.
Para compreender profundamente essa propaganda anticatólica, teríamos de estudar muita gente: marxistas, estruturalistas, pós-estruturalistas, desconstrucionistas, ideólogos de gênero etc. É mesmo uma “legião” de pensadores que têm se dedicado a combater a fé católica na sociedade. E, infelizmente, muitos de nossos jovens, que não fizeram a experiência do verdadeiro amor, são seduzidos por esse discurso, saindo das fileiras da Igreja para figurarem em outros campos.
Vejamos, por exemplo, por que tantos jovens hoje em dia negam o matrimônio. Nas páginas do Manifesto Comunista, de Marx e Engels, já se encontra uma dura crítica à família. Depois, na obra A origem da família, da propriedade privada e do Estado, os dois argumentam que a mulher, quando se casa, torna-se uma “escrava sexual” do marido, ao passo que a prostituta, ao menos, recebe pelos “serviços prestados”. Apesar da crueza desse pensamento, ele se desenvolveu muito nos últimos anos, ao ponto de se enraizar no imaginário de muita gente. As pessoas hoje acreditam que a solução para as crises matrimoniais é desfazer-se de qualquer vínculo, ou seja, livrar-se do casamento.
Por outro lado, ninguém se casa para fazer do parceiro um escravo. As motivações, no mais das vezes, são genuínas: as pessoas se casam porque sentem ao menos algum afeto um pelo outro. Depois, infelizmente, por conta do pecado original, elas podem sentir o peso do egoísmo e naufragar no relacionamento, ocasionando grandes sofrimentos para os dois. De fato, o casal precisa fazer certos sacrifícios para poder viver plenamente o casamento. Ninguém pode ser tão espaçoso. O casamento seria como “um banquinho apertado onde dois devem se sentar”. Se um não ceder espaço ao outro, alguém deve cair.
Nas dificuldades do matrimônio, o casal é chamado a lutar contra o seu egoísmo. Contudo, a serpente lhe sugere a desobediência como sugeriu ao primeiro casal: “Serão como deuses, livrem-se do casamento”. Aqui nasce o discurso de empoderamento, machismo, feminismo, que coloca homens e mulheres em rivalidade.
A Igreja não desconsidera todas as consequências do pecado para a relação do casal e sabe que, em muitos casos, há esposos e esposas que se comportam como déspotas, ditadores e tiranos. Mas a solução para isso não é livrar-se da família, como querem os ideólogos; o caminho é a conversão. Porque, quando as pessoas caem na sedução diabólica, elas acabam reféns de uma escravidão muito pior. A Igreja, por outro lado, quer conduzi-las a um amor sobrenatural.
Para não cair naquela sedução, que tem levado muitos à escravidão das drogas, da depressão, da mutilação etc., é necessário enxergar a experiência fundamental dos mártires de Nagasaki. Eles tudo fizeram por amor a Cristo. Do mesmo modo, alguém só deve casar por amor a Jesus, com a finalidade de levar seu companheiro ou a sua companheira para o Céu. O casal deverá lutar junto por isso, santificando a própria família.
Nessa dinâmica, a Igreja não impõe a fé católica a ninguém. Ela não pretende escravizar qualquer pessoa com seus dogmas, mas iluminar a sociedade com a luz do amor de Deus, que não escraviza quem quer que seja. Ao contrário, o Amor liberta. Quando a Igreja, por conseguinte, propõe a castidade a um jovem, educando-o a fugir do sexo desregrado, ela apenas o conduz para o caminho da doação e do amor. E isso é libertar de verdade, pois, enquanto uma pessoa casta, que se doa, pode pecar a qualquer momento, uma pessoa escrava do pecado não pode ser santa a qualquer momento. O viciado pelo pecado é o verdadeiro escravo.
As virtudes, as coisas de Deus, sempre nos deixam livres. Os mártires de Nagasaki foram homens, mulheres e crianças livres que poderiam, a qualquer momento, dizer não a Jesus. Mas o amor os impeliu a dizer sim e hoje são mártires gloriosos. O Imperador achava que eles eram escravos e instrumentos de escravização do Japão, mas ele estava errado. Aqueles santos eram livres e verdadeiros instrumentos da libertação espiritual do Japão.
Com efeito, nós devemos enxergar, como católicos autênticos, que a Igreja Católica nos liberta quando ensina o desapego e a pobreza, quando nos adverte contra o fascínio dos meios de consumo. Ela também nos liberta quando nos ensina a não fazer do trabalho uma idolatria, mas um meio de santificação equilibrado e justo, dando tempo para a família, para a oração e a vida interior. Ela nos liberta quando nos retira da escravidão das redes sociais e outros meios de comunicação, que predem o ser humano a todo custo. No fim das contas, ela é a única que realmente combate essa lógica do capitalismo selvagem, e não o contrário.
Nós católicos não temos de escolher entre capitalismo e comunismo. Nós escolhemos Cristo e a sua liberdade. Não nos interessa ser escravos nem do sistema de mercado capitalista nem de uma ideologia que deforma a natureza humana, como o comunismo, que faz com que as pessoas não queiram mais constituir e ser família, não queiram mais a castidade, não queiram mais a sua identidade natural criada por Deus. Nós não precisamos seguir qualquer ideologia.
Nossa escolha é por aceitar o Deus verdadeiro, nos submetermos a Ele e servi-lo, porque servire Deo regnare este… servir a Deus é reinar.
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