Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
(Lc 17,26-37)
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: “Como aconteceu nos dias de Noé, assim também acontecerá nos dias do Filho do Homem. Eles comiam, bebiam, casavam-se e se davam em casamento, até o dia em que Noé entrou na arca. Então chegou o dilúvio e fez morrer todos eles. Acontecerá como nos dias de Ló: comiam e bebiam, compravam e vendiam, plantavam e construíam. Mas no dia em que Ló saiu de Sodoma, Deus fez chover fogo e enxofre do céu e fez morrer todos. O mesmo acontecerá no dia em que o Filho do Homem for revelado. Nesse dia, quem estiver no terraço, não desça para apanhar os bens que estão em sua casa. E quem estiver nos campos não volte para trás. Lembrai-vos da mulher de Ló. Quem procura ganhar a sua vida vai perdê-la; e quem a perde vai conservá-la. Eu vos digo: nesta noite, dois estarão numa cama; um será tomado e o outro será deixado. Duas mulheres estarão moendo juntas; uma será tomada e a outra será deixada. Dois homens estarão no campo; um será levado e o outro será deixado”. Os discípulos perguntaram: “Senhor, onde acontecerá isso?” Jesus respondeu: “Onde estiver o cadáver, aí se reunirão os abutres”.
Celebramos hoje a memória de São Martinho de Tours, santo extraordinário, modelo de leigo, de monge, de padre e de bispo. Quem foi São Martinho de Tours? Ele nasceu numa família pagã, na Hungria. No entanto, já com 11 anos de idade, quis ser cristão, mas o pai não permitiu que ele se convertesse. Mesmo assim, escondido do pai, ele se inscreveu entre os catecúmenos.
Quando o pai soube disso, alistou-o no exército para que ele fosse dissuadido de se fazer cristão. Então, com apenas 15 anos de idade, ele tornou-se suboficial do exército romano, foi mandado para a Gália, atual França, e ali começou a desempenhar seu papel de soldado.
Foi exatamente nesta época, em que ainda era catecúmeno, portanto não fora ainda nem batizado, que se deu o famoso episódio narrado por todos os seus biógrafos. São Martinho, com cerca de 20 anos de idade, oficial romano na cidade de Amiens, na França, vê um pobre no frio, no gelo, na neve, tiritando. Ele então, sendo soldado, tira a espada, corta metade da capa e a dá ao pobre para que ele se agasalhe. De noite, Martinho tem um sonho, no qual ele vê Cristo com a capa ao ombro a dizer: “Martinho catecúmeno, tu me agasalhaste no frio”.
Foi assim que esse homem, pouco tempo depois, pediu para sair do exército. O imperador, que era cristão, achou que ele queria fugir da batalha, mas Martinho heroicamente disse: “É o seguinte. Então me coloquem na frente da batalha, sem capacete, sem nada, e eu irei lutar e voltar ileso. Assim você verá que eu não estou fugindo da batalha. Só quero me dedicar a Deus”.
Deus, milagrosamente, poupou Martinho da morte porque houve uma trégua, paz com os adversários, portanto não houve batalha. No entanto, Martinho conseguiu ser liberado do serviço no exército e então se tornou monge. Depois voltou à terra natal para tentar converter os pais. Converteu a mãe, mas infelizmente não conseguiu converter o pai.
Depois, como missionário, tendo-se dedicado também por um tempo à vida contemplativa numa das ilhas do Mar de Reno, ele voltou para a França aos 45 anos e se tornou apóstolo e missionário em solo francês. Não queria de jeito nenhum ser bispo, por isso foi raptado pelo povo e sagrado bispo de Tours. É interessante ver a humildade de São Martinho, que queria ser simplesmente missionário e sacerdote. Ele foi colocado como bispo, combateu os hereges, fortaleceu a fé e finalmente, com 81 anos de idade, entregou a alma a Deus.
Seu biógrafo, Sulpício Severo, na narrativa de sua vida que se encontra no Ofício das Leituras do Breviário, conta-nos como foi a morte edificante de Martinho. Com 81 anos, já combalido de tantos trabalhos e sofrimentos, ele sentiu que iria morrer, então avisou aos monges e irmãos que lá estavam que, dentro em breve, ele iria entregar a alma a Deus.
O povo, comovido, derramou lágrimas, dizendo “Pai, por que vais nos deixar? Por que nós vamos ficar aqui, entregues a lobos vorazes? Por que não ficas conosco? A tua glória no Céu já está garantida”. Então Martinho disse uma palavra edificante diante das lágrimas dos irmãos: “Não recuso trabalho” — aos 81 anos de idade! —. “não recuso trabalho”. Embora ele generosamente tivesse aceitado ficar aqui neste mundo, era chegada a hora, então Martinho se entregou a Deus e morreu calmamente, entrando na paz e na recompensa dos justos.
Ora, a Igreja, que venera São Martinho como um dos primeiros santos que não foi mártir, apresenta-o como um exemplo de dedicação, um homem que viveu quase todos os estados de vida e nos oferece um magnífico exemplo de generosidade: embora homem de Deus, com a recompensa garantida, não recusou trabalho!
Sigamos o exemplo de São Martinho, sua grande caridade e amor a Cristo.
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