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Quais são as nossas reais intenções?

Nada é mais pernicioso à vida cristã do que uma intenção torcida, que faz passar por devoção e zelo religioso o desejo, oculto e nem sempre confessado, de cultuar a própria imagem, fazendo de Deus um espectador da nossa “virtude” e um mordomo dos nosso caprichos.

Texto do episódio
01

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
(Lc 6, 6-11)

Aconteceu num dia de sábado que, Jesus entrou na sinagoga, e começou a ensinar. Aí havia um homem cuja mão direita era seca. Os mestres da Lei e os fariseus o observava, para ver se Jesus iria curá-lo em dia de sábado, e assim encontrarem motivo para acusá-lo. Jesus, porém, conhecendo seus pensamentos, disse ao homem da mão seca: “Levanta-te, e fica aqui no meio”. Ele se levantou, e ficou de pé. Disse-lhes Jesus: “Eu vos pergunto: O que é permitido fazer no sábado: o bem ou o mal, salvar uma vida ou deixar que se perca?” Então Jesus olhou para todos os que estavam ao seu redor, e disse ao homem: “Estende a tua mão”. O homem assim o fez e sua mão ficou curada. Eles ficaram com muita raiva, e começaram a discutir entre si sobre o que poderiam fazer contra Jesus.

É dia de sábado. Está Jesus na sinagoga, rodeado de judeus. Entre eles, há um de mão seca. Eis o cenário que todos veem; mas há algo que só Jesus pode enxergar: o segredo dos corações. Com efeito, ali também estavam os mestres da Lei, e o Senhor bem lhes conhecia a maldade, porque eles o observavam, para ver se, curando em dia de sábado aquele irmão doente, teriam motivo para o acusar de impiedade e desobediência. Jesus, porém, conhecendo esses pensamentos maliciosos, não tem medo de os enfrentar e, devolvendo a saúde à mão do homem, demonstrar a todos, de hoje e de então, que a caridade está acima até mesmo do preceito sabático. Não porque este não tenha importância, mas porque a sua finalidade, ao contrário do que pensavam os fariseus, não era uma inação absoluta, mas dispor o homem, mediante o culto divino, para a superabundância do amor a Deus e ao próximo. Apesar da boa obra que veem Jesus realizar, os doutores e mestres da Lei “ficaram com muita raiva, e começaram a discutir entre si sobre o que poderiam fazer contra Ele”. Essa atitude, por sua vez, mostra que nem sempre, quando pensamos estar cumprindo os Mandamentos de Deus e da Igreja, temos uma intenção totalmente reta. Os fariseus que aqui vemos, por exemplo, observavam os rituais da sua religião com uma fidelidade mais do que literal, e no entanto o coração e os pensamentos deles estavam longe de Deus. Também isso pode suceder conosco, quando a prática da nossa santa religião, de início até bem intencionada, se vai transformando pouco a pouco num culto a nós mesmos, onde Jesus só parece ter espaço como certo “adereço” piedoso, e não como centro ao qual convergem todos os nossos afetos e ações. Façamos, pois, um sincero exame de consciência e vejamos se, na nossa vida cristã, o que nos tem movido é o desejo de nos unirmos a Cristo, despojando-nos do que somos para sermos todos dele, ou a pretensão, oculta e silenciada, de cultuarmos a nossa própria imagem, fazendo Deus servir aos nossos caprichos. Deixemos que Cristo nos revele a nossa miséria e vergonha: “Levanta-te, e fica aqui no meio”, porque é só assim, com franqueza e humildade, que poderemos começar a dar-lhe o culto que Ele merece.

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