Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
(Mt 9,18-26)
Enquanto Jesus estava falando, um chefe aproximou-se, inclinou-se profundamente diante dele, e disse: “Minha filha acaba de morrer. Mas vem, impõe tua mão sobre ela e ela viverá”.
Jesus levantou-se e o seguiu, junto com os seus discípulos. Nisto, uma mulher que sofria de hemorragia há doze anos veio por trás dele e tocou a barra do seu manto. Ela pensava consigo: “Se eu conseguir ao menos tocar no manto dele, ficarei curada”. Jesus voltou-se e, ao vê-la, disse: “Coragem, filha! A tua fé te salvou”. E a mulher ficou curada a partir daquele instante.
Chegando à casa do chefe, Jesus viu os tocadores de flauta e a multidão alvoroçada, e disse: “Retirai-vos, porque a menina não morreu, mas está dormindo”. E começaram a caçoar dele. Quando a multidão foi afastada, Jesus entrou, tomou a menina pela mão, e ela se levantou. Essa notícia espalhou-se por toda aquela região.
No Evangelho de hoje, Jesus ressuscita a filha de Jairo. Santo Agostinho, ao comentar sobre os vários mortos que Jesus ressuscitou durante seu ministério, nota que existe uma progressão: a filha de Jairo, tendo acabado de morrer, é ressuscitada ainda em casa; o filho da viúva de Naim é ressuscitado a caminho do cemitério, enquanto Lázaro é ressuscitado depois de já sepultado.
Ora, como Jesus não ressuscita os mortos simplesmente pela ressurreição física, mas também pela mais importante, que é a espiritual, Santo Agostinho interpreta que há vários estágios de pecado dos quais Jesus pode nos retirar. Ou seja, existem aquelas pessoas que pecam intimamente, de forma escondida, ainda “dentro do quarto”, como a filha de Jairo; existem aquelas pessoas que pecam publicamente, como o filho da viúva de Naim, que está a caminho do cemitério com uma multidão; e existem aquelas pessoas que estão totalmente sepultadas e amarradas no pecado, que é o caso de Lázaro.
O que podemos aprender dessa verdade? Podemos compreender que, seja qual for o estágio do nosso pecado, Jesus é quem irá nos tirar dele. No entanto, é importante que nós saibamos onde está o nosso pecado, embora seja mais difícil para aquela pessoa que já fez do pecado um projeto de vida. Existe uma característica importante na ressurreição da filha de Jairo: o fato de que os pecados íntimos, escondidos, às vezes são os mais difíceis de abandonar, porque a pessoa não se dá conta de seu pecado e continua mentindo para si mesma, escondendo seus erros.
Os grandes pecadores, os pecadores públicos, às vezes não precisam de exame de consciência, pois eles conhecem o próprio pecado: “O meu pecado está sempre à minha frente”, diria o salmo (51 [50], 3). Contudo, aquelas pessoas que têm pecados secretos talvez estejam no caminho da morte eterna sem saber nem suspeitar. Portanto, fazer um diligente exame de consciência, com muita sinceridade, e buscar a Confissão é fundamental para a nossa vida espiritual.
Jesus quer entrar também nas câmaras secretas do nosso coração e ressuscitar-nos desses pecados escondidos. Para isso, aproximemo-nos dele com fé, como aquela mulher que sofria de hemorragia, e Ele irá nos ressuscitar. Tenhamos fé na sua intervenção e, assim como Jairo se prostra diante de Cristo para adorá-lo, prostremo-nos nós também e peçamos humildemente: “Senhor, ressuscitai a minha filha, que secretamente jaz no quarto morta”, ou seja: “Ressuscita-me, Senhor, dos meus pecados secretos”.
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