Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
(Lc 6,1-5)
Num sábado, Jesus estava passando através de plantações de trigo. Seus discípulos arrancavam e comiam as espigas, debulhando-as com as mãos. Então alguns fariseus disseram: “Por que fazeis o que não é permitido em dia de sábado?” Jesus respondeu-lhes: “Acaso vós não lestes o que Davi e seus companheiros fizeram, quando estavam sentindo fome? Davi entrou na casa de Deus, pegou dos pães oferecidos a Deus e os comeu, e ainda por cima os deu a seus companheiros. No entanto, só os sacerdotes podem comer desses pães”. E Jesus acrescentou: “O Filho do Homem é senhor também do sábado”.
Celebramos hoje a memória do grande São Gregório, Papa, que, por sua grandeza, ficou conhecido como São Gregório Magno. São Gregório é para nós um exemplo fulgurante de como uma pessoa dedicada à vida de oração e à vida contemplativa é, verdadeira e necessariamente, também um bom pastor, mas não o inverso. Vejamos o que isso significa.
Muitos se iludem, dizendo que a vida contemplativa e a vida pastoral são a mesma coisa, que a “ordem dos tratores não altera o tombar da terra”… Mas não são a mesma coisa. Não, porque quem tem uma vida contemplativa como São Gregório Magno — que foi monge, debruçou-se sobre a Palavra de Deus e deixou-se iluminar e transformar por ela —, quando alguém assim, que se deixou modificar interiormente pela graça , é designado para exercer o pastoreio das ovelhas, torna-se então um pastor fantástico.
Mas o inverso já não é verdadeiro. Uma pessoa que se entrega ao pastoreio, mas não possui vida interior, não passará de uma Marta agitada, “porque sem mim”, diz Nosso Senhor Jesus Cristo, “nada podeis fazer”. A vida de São Gregório Magno é exemplar. Em primeiro lugar, Gregório decidiu ser monge e se dedicar a Deus. Nessa dedicação aos estudos e à oração, o Papa pediu que ele fosse aprocrisiário (cargo semelhante ao de núncio apostólico) em Constantinopla, na época a sede do Império.
Então, como “embaixador” em Constantinopla, teve tempo de ler os escritos antigos, comentar e conhecer profundamente a Palavra de Deus. Com isso, ele foi transformando-se espiritualmente. Em Roma, iniciou uma comunidade monástica no monte Célio, onde verdadeiramente queria dedicar o resto dos seus dias a Nosso Senhor; mas as necessidades da cidade de Roma, que estava sendo dizimada tanto de fora para dentro como de dentro para fora, levaram Gregório ao pastoreio.
Roma era uma cidade invadida pelos bárbaros e internamente dizimada pela peste. Não somente isso, também havia um processo de decadência moral, com o agravamento da ignorância das pessoas… É o início da Idade Média, num tempo de verdadeira tragédia e catástrofe para a Igreja, no sentido de que ela havia perdido o substrato civilizacional do Império Romano, sobre o qual a Igreja ia semeando o Evangelho. Era um tempo de barbárie.
No entanto, Gregório Magno, vai ao encontro das necessidades do povo e torna-se um pastor fantástico. Podemos dizer literalmente que ele foi o “salvador” da cidade de Roma em várias ocasiões durante a vida. Mas não somente: foi o “salvador” de muitas pessoas e de muitas almas, na cidade de Roma e no mundo inteiro, principalmente com os seus escritos, como grande mestre espiritual; com seus comentários às Sagradas Escrituras, sobretudo ao Livro de Jó, que ficou tão famoso; com a sua Regra Pastoral, que foi um luzeiro para toda a Idade Média e ainda o é hoje.
Gregório Magno é, portanto, um farol em seus ensinamentos, que brotam da contemplação. Foi um homem que contemplou e transmitiu aos outros as verdades contempladas. Esse é o segredo de todos os santos pastores. Porém, nós modernos, que nos achamos mais sábios e melhores do que eles, queremos ser primeiro Martas agitadas e pensamos que vamos salvar muita gente… Na verdade, estamos colocando em perigo a nossa alma e a dos outros! — Que São Gregório Magno nos ilumine e, do Céu, interceda por nós.
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