Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
(Lc 9,22-25)
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: “O Filho do Homem deve sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos sumos sacerdotes e doutores da Lei, deve ser morto e ressuscitar no terceiro dia”. Depois Jesus disse a todos: “Se alguém me quer seguir, renuncie a si mesmo, tome sua cruz cada dia e siga-me. Pois quem quiser salvar a sua vida, vai perdê-la; e quem perder a sua vida por causa de mim, esse a salvará. Com efeito, de que adianta a um homem ganhar o mundo inteiro, se se perde e se destrói a si mesmo?”
Ontem iniciamos a Quaresma: era Quarta-feira de Cinzas. Hoje continuamos nossa caminhada regular quaresmal: é Quinta-feira depois das Cinzas. O Evangelho nos manda renunciar a nós mesmos e tomar a Cruz. É interessante notar, para ler este Evangelho no seu contexto, que nós estamos no capítulo nove de São Lucas, em que Jesus decide subir a Jerusalém, expressando essa decisão de forma muito solene e clara.
Pois bem, tomada a decisão de subir a Jerusalém, sabendo que estava chegando o tempo de sair deste mundo e ir para o Céu, Jesus tem claro que Ele precisa passar pela Páscoa, deve sofrer para entrar na glória. Ele fala também não somente do seu próprio sofrimento, mas do nosso sofrimento.
Se lermos esse mesmo evangelho de São Lucas, depois da Ressurreição, em caminhada com dois discípulos de Emaús, Jesus começa a explicar-lhes as Sagradas Escrituras, dizendo: “Não devia o Cristo sofrer para entrar em sua glória?”. Esse “devia” é revelador, pois nos mostra que, de fato, há um vínculo de necessidade que une misteriosamente a Cruz à glória, a Morte à Ressurreição.
Nós que iniciamos a caminhada quaresmal não podemos perder de vista que, após esses quarenta dias, com a celebração do centro do ano litúrgico, que é a Páscoa — Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus, no Tríduo Pascal —, iremos viver ainda cinquenta dias de Páscoa, tempo em que celebramos a Ressurreição.
Portanto, estamos diante de uma “moeda”. Há dois lados: Jesus irá, sim, a Jerusalém para padecer e morrer, mas isso porque estará chegando o tempo de subir aos Céus e entrar na glória. “Não devia o Cristo sofrer para entrar na sua glória?”. Esse “devia” é também para nós.
É interessante notar que o cristianismo, nos últimos tempos, está infelizmente se cobrindo de matizes e ênfases na glória, na Ressurreição, no aleluia, na alegria da manhã de Páscoa, mas não é capaz de viver a tragédia da Sexta-feira Santa. Ora, é uma única realidade, são os dois lados da mesma moeda.
Não haverá Ressurreição se não houver Morte, por isso seguir Cristo é, sim, segui-lo para a vida, porque Ele é o Deus da vida; mas não há vida verdadeira se não houver morte daquilo que nos leva para a morte. Se temos uma sanguessuga, temos algo que está nos tirando a vida; se temos algo que nos arrasta para a morte, isso deve morrer para que possamos ter vida.
Quaresma é tempo de matar. Mas matar o quê? Matar o homem velho, a mulher velha. Isso é necessário. Os fiéis têm de compreender isso, e seria importante que você, hoje, parasse para meditar, enxergando em seu coração a verdade dessa necessidade de unir a Morte e a Ressurreição, e assim compreender que você não irá amar se antes não sofrer.
Se você nunca sofreu por ninguém, então você nunca amou ninguém; se você nunca viveu a Quaresma, você não entrará na Páscoa que Deus lhe preparou.
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