O Advento é o período em que a Igreja prepara o coração dos fiéis para a grande solenidade do Natal, celebrada todos os anos no dia 25 de dezembro, segundo uma longa tradição cristã. Todas as grandes solenidades litúrgicas são precedidas por uma preparação. No caso do Natal e da Páscoa, essa preparação é mais criteriosa, pois essas duas celebrações têm um significado todo particular para a economia da salvação. Trata-se de imitar a atitude de São João Batista, aplainando os caminhos do Senhor.
O Advento divide-se em quatro domingos. Durante essas semanas, os textos litúrgicos refletem não apenas sobre a Encarnação do Verbo, mas também sobre a segunda vinda de Cristo e o seu nascimento em nossas almas. Daí o nome Advento, que significa “vinda”, “chegada”. É Deus que vem visitar o ser humano para novamente torná-lo membro de Seu corpo e merecedor da felicidade eterna, privilégios que os homens haviam perdido por conta do pecado original.
As consequências do pecado na alma humana tornam a relação do homem com Deus extremamente difíceis. Abandonada às suas próprias forças, nenhuma pessoa é capaz de subir aos céus e encontrar-se face a face com o Senhor. A gravidade do pecado arrasta-nos sempre para baixo, de sorte que apenas uma força exterior pode nos puxar para cima outra vez. E essa força é a graça de Deus, cuja fonte é a carne de Cristo. Jesus encarnou-se para nos redimir e, pelo Espírito Santo, dispensar-nos todas as graças necessárias à nossa santificação. Desde o ventre de Maria, Ele já nos amava e redimia, razão pela qual os anjos cantaram e anunciaram aos pastores: “Hoje, na cidade de Davi, nasceu para vós o Salvador, que é o Cristo Senhor” (Lc 2, 10). O próprio nome Jesus, afinal, significa “Deus salva”.
O Advento nos recorda da nossa indigência e condição miserável. Um único minuto sem a graça de Deus é o bastante para cometermos os piores crimes da terra. Essa percepção de desespero diante da ausência de Deus era coisa bem comum no tempo de Jesus, e o povo de Israel alimentava a esperança pela chegada do Salvador, como um pequeno resto que rezava no Templo. Para os gregos, porém, a sensação era a do mito de Sísifo, que descrevia a humanidade como uma pessoa condenada eternamente a rolar uma pedra até o topo da montanha e vê-la cair; desejavam a felicidade, mas não encontravam quem pudesse levá-la até eles.
No mundo moderno, a felicidade tornou-se tão artificial que, embora os homens ainda se sintam insatisfeitos, as tantas ofertas de prazer conseguem iludi-los e afastá-los totalmente de Deus, que é visto como um estorvo. Por isso, a pedagogia da Igreja insiste no tempo do Advento como meio de despertar a consciência humana. O Salvador já veio e virá outra vez para nos julgar de nossas boas e más obras. Ele deseja nos salvar, mas não levará ninguém para o Céu que não tenha se esforçado para passar pela porta estreita. “Deus, que te criou sem ti, não te salvará sem ti”, dizia Santo Agostinho.
A humanidade vive agora o tempo da Igreja, que é esse período intermediário entre a primeira e a segunda vinda de Cristo. Trata-se, por assim dizer, de um grande tempo do advento. É a hora oportuna para aplicarmos os méritos da cruz de Cristo à nossa salvação, permitindo que Ele faça morada em nossas almas e tudo transforme pela sua graça santificante. Desse modo, poderemos também levá-lo a todas aquelas almas que se encontram perdidas, seja nas drogas, seja na luxúria, seja em qualquer vício destruidor. Com nossas orações e sacrifícios, poderemos alcançá-las para o Amor de Deus.
O tempo do Advento é, aliás, um tempo oportuno para vigílias e penitências. E é justamente nessa época que as famílias costumam se reunir para jantares e festejos. Trata-se do tempo ideal para o apostolado familiar, para aumentarmos nossas preces pela conversão de nossos irmãos e parentes. Um cristão sem essa urgência de salvar os demais não é cristão nenhum. Basta lembrar que o Advento é precedido pela festa de Santo André, o apóstolo que, imediatamente após encontrar-se com Jesus, foi anunciá-lO para seu irmão Pedro. Sejamos nós a nos darmos como presente para Jesus neste Natal, porque Ele já se doou totalmente a nós. Permitamos que Ele encontre, em nosso coração, uma verdadeira manjedoura.
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