Vimos ao longo deste curso que o Anel representa para Tolkien a mentalidade mágico-tecnológica que se apoderou em boa medida do homem dos nossos tempos. Trata-se, de um lado, da renúncia a crescer interiormente pelo exercício das virtudes morais e, de outro, da pretensão de querer construir um “mundo melhor” recorrendo a artificialismos técnicos e impessoais.
O homem de hoje, noutras palavras, quer gozar de uma felicidade que só se alcança pela virtude sem ter de pagar o preço de vencer-se a si mesmo precisamente através da virtude e da conformidade com a ordem natural das coisas.
Esse mesmo problema, denunciado por Tolkien sob a figura do Anel do Poder em sua literatura fantástica, foi denunciado também pelo Papa Pio XII, em sua radiomensagem de Natal de 1953, com o nome de “espírito técnico”, caracterizado como uma certa concepção de vida e de mundo consistente “em considerar como o mais alto valor humano […] o tirar o maior proveito das forças e dos elementos da natureza”, priorizando sobre “todas as outras atividades humanas os possíveis métodos técnicos de produção mecânica, vendo neles a perfeição da cultura e da felicidade terrena” [1].
Pio XII,...