Se na Quaresma nós recordamos as sete dores de Nossa Senhora, contemplando as espadas que lhe atravessaram a alma neste vale de lágrimas, o tempo pascal serve para meditarmos as suas alegrias

Pode soar estranho, mas é isso mesmo: como há a devoção às sete dores de Maria, há também a devoção às suas sete alegrias; assim como celebramos Nossa Senhora das Dores, também a honramos com o título de Nossa Senhora das Alegrias (ou dos Prazeres).

“O Cristo Ressuscitado aparece à Virgem Maria”, gravura de Sir Robert Strange (século XVIII).

E não é uma devoção recente esta que a Igreja nos põe diante dos olhos na Páscoa. Basta lembrar que a imagem mais antiga que há no Brasil, retratando a Virgem das Alegrias, chegou-nos no longínquo ano de 1558, pelas mãos do Frei Pedro Palácios. Foi ele o fundador do Convento da Penha, em Vila Velha (ES). Lá e em todo o estado capixaba, é na segunda-feira após a Oitava de Páscoa que se celebra esse título mariano.

Por que nessa data? Porque, segundo uma antiga e piedosa tradição, Nossa Senhora teria sido a primeira a receber a visita de seu Filho Ressuscitado — muito antes de todas as aparições relatadas nos Evangelhos. Não se trata de um artigo de fé católica, deve-se dizer, e o próprio Pe. Paulo Ricardo já teve a oportunidade de explicar por que a Santíssima Virgem não precisava desse consolo por parte de seu Filho, dado não ter perdido em nenhum momento a fé na ressurreição dele. Mas, ao mesmo tempo, inúmeros autores piedosos defendem a tese, como Santa Brígida da Suécia, São Vicente Ferrer, Santo Inácio de Loyola e São João Paulo II. A questão está longe de ser “caso encerrado”, portanto. 

Quanto à Coroa das Sete Alegrias propriamente dita, parece ter se originado no seio da própria Ordem franciscana: 

Em 1442, no tempo de São Bernardino de Siena, se difundiu a notícia de uma aparição da Virgem a um noviço franciscano. Este, desde pequeno, tinha o costume de oferecer à bem-aventurada Virgem uma coroa de rosas. Quando ingressou entre os Irmãos Menores, sua maior dor foi a de não poder seguir oferecendo à Santíssima Virgem esta oferenda de flores. Sua angústia chegou a tal ponto que decidiu abandonar a Ordem Seráfica. A Virgem apareceu para consolá-lo e lhe indicou outra oferenda diária que lhe seria mais agradável. Sugeriu-lhe recitar a cada dia sete dezenas de Ave Marias intercaladas com a meditação de sete mistérios gozosos que ela viveu em sua existência. Desta maneira teve origem a coroa franciscana, Rosário das sete alegrias.

Para os que quiserem se unir à Mãe de Deus em suas sete alegrias, eis o modo tradicional de meditá-las.


1. No primeiro mistério, consideramos a alegria de Nossa Senhora ao ouvir, de São Gabriel Arcanjo, que Deus a escolhera para Mãe do Salvador.
Rezam-se um Pai-nosso, dez Ave-Marias e um Glória ao Pai.

2. No segundo mistério, consideramos a alegria de Nossa Senhora na casa de sua prima, Santa Isabel, quando esta a saudou pela primeira vez como Mãe de Deus.
Rezam-se um Pai-nosso, dez Ave-Marias e um Glória ao Pai.

3. No terceiro mistério, consideramos o gozo inefável de Nossa Senhora, no estábulo de Belém, quando seu divino Filho nasceu milagrosamente.
Rezam-se um Pai-nosso, dez Ave-Marias e um Glória ao Pai.

4. No quarto mistério, consideramos a alegria de Nossa Senhora quando os três magos vieram de longe adorar o Menino Jesus e oferecer-lhe presentes: ouro, incenso e mirra.
Rezam-se um Pai-nosso, dez Ave-Marias e um Glória ao Pai.

5. No quinto mistério, consideramos a alegria de Nossa Senhora ao reencontrar o seu divino Filho no Templo, entre os doutores da Lei.
Rezam-se um Pai-nosso, dez Ave-Marias e um Glória ao Pai.

6. No sexto mistério, consideramos a alegria e o júbilo da Santa Mãe de Deus, quando, na manhã de Páscoa, foi a primeira a ver seu Filho ressuscitado e glorioso.
Rezam-se um Pai-nosso, dez Ave-Marias e um Glória ao Pai.

7. No sétimo mistério, consideramos a maior de todas as alegrias de Nossa Senhora, quando morreu santamente e foi elevada aos céus, em corpo e alma, acima dos coros angélicos e à direita de seu divino Filho, que a coroou Rainha de todos os anjos e santos.
Rezam-se um Pai-nosso, dez Ave-Marias e um Glória ao Pai.

Oração final. — Lembrai-vos, ó piíssima Virgem Maria, de que nunca se ouviu dizer que algum daqueles que tivesse recorrido à vossa proteção, implorado a vossa assistência, reclamado o vosso socorro, fosse por vós desamparado. Animado eu, pois, com igual confiança, a vós, Virgem das virgens, como a Mãe recorro; de vós me valho e, gemendo sob o peso dos meus pecados, me prostro a vossos pés. Não desprezeis as minhas súplicas, ó Mãe do Filho de Deus humanado, mas dignai-vos de as ouvir propícia e de me alcançar o que vos rogo. Amém.

O que achou desse conteúdo?

Mais recentes
Mais antigos