São Filipe Benício nasceu em Florença no ano de 1233 e, antes do seu nascimento, o Todo-Poderoso tinha revelado à sua piedosa mãe que ele se tornaria ilustre por sua santidade. Ela sentia emanar de si uma luz brilhante que, espalhando-se cada vez mais, por fim iluminava o mundo inteiro com seus raios. Foi este um dos incentivos que a levou a não negligenciar nada do que era necessário para formar no filho a mente e o coração de um santo.

O seguinte episódio reforçou ainda mais sua convicção. Dois religiosos da recém-fundada Ordem dos Servitas foram até a casa dela. Filipe, que na época tinha apenas cinco meses de idade, depois de observá-los por alguns instantes, disse: “Eis os servos de Maria: dá-lhes uma esmola, minha mãe.” Todos os presentes, muito surpreendidos com este milagre, chegaram à conclusão de que Deus tinha determinado um futuro notável para esta criança. O mesmo se podia deduzir de toda a sua conduta: ainda na infância, todas as ações de Filipe pareciam estar marcadas com o selo da santidade.

Um dia, depois de ter concluído os estudos, refletia sobre sua vocação. Como era quinta-feira depois da Páscoa, entrou na capela dos servitas, que ficava nos arredores de Florença, para assistir à Santa Missa. Na Epístola, foram lidas as palavras do Espírito Santo a São Filipe: “Aproxima-te e une-te à carruagem” (At 8, 29). Depois de ouvir estas palavras, entrou em êxtase e pareceu-lhe estar sozinho num vasto deserto, onde só se viam montanhas estéreis, rochedos e penhascos íngremes, ou pântanos cobertos de espinhos, repletos de répteis venenosos e cheios de armadilhas.

“Madonna com o Menino e São Filipe Benício”, por Francesco Zucco.

Filipe gritou de medo e, olhando à sua volta para salvar-se, viu lá no alto a Virgem Maria num coche, cercada de anjos e santos, segurando na mão o hábito dos servitas. Ao mesmo tempo, ouviu dos lábios de Nossa Senhora as palavras que acabavam de ser lidas na Epístola: “Aproxima-te e une-te à carruagem.” Depois desta revelação, Filipe já não duvidava de que era chamado a entrar na Ordem dos Servos de Maria. No dia seguinte, dirigindo-se à casa dos sete fundadores desta congregação, pediu para ser recebido como irmão leigo. Foi aceito de imediato, mas depois de ter servido nessa função por alguns anos, seu talento, conhecimento e santidade ficaram tão manifestos, que ele recebeu a ordenação sacerdotal.

Uma vez ordenado, Filipe foi elevado a sucessivas dignidades, até ser finalmente nomeado Superior Geral de toda a Ordem. Embora no início se opusesse humildemente a esta escolha, quando foi obrigado a obedecer, tornou-se zeloso nos esforços por difundir os princípios da santa Ordem, cujo objetivo é venerar a Santíssima Virgem e promover a sua honra. Enviou alguns dos religiosos à Cítia a fim de pregar o Evangelho e propagar a veneração à Mãe de Deus.

Filipe mesmo, junto com dois companheiros, percorreu um número incrível de cidades e províncias, exortando os pecadores ao arrependimento em todos os lugares, procurando acalmar as contendas que naquele tempo perturbavam o mundo cristão, desmascarando com seus sermões aqueles que se negavam a obedecer ao Papa e encorajando todos a ter maior amor a Deus e devoção à Santíssima Virgem. O Senhor ajudou-o de forma visível em todos os seus projetos, e obteve para ele a mais elevada consideração tanto do clero como dos leigos.

Quando os cardeais, em 1269, reunidos em Viterbo para eleger um novo Papa, não conseguiram chegar a um acordo, acabaram por escolher Filipe por unanimidade, pois todos o consideravam digno desta elevada posição. Informado disso, Filipe ficou tão aterrorizado que fugiu para o deserto do Monte Amiata, onde permaneceu escondido numa caverna até a eleição de outro Papa. Assim como esse gesto foi uma evidência de sua humildade, aquela tentativa de elegê-lo para o pontificado foi uma prova da elevada consideração que os prelados da Igreja tinham por suas virtudes e pelos muitos milagres que fizera.

São Filipe Benício, retratado por Pietro Perugino.

São Filipe levou para o túmulo sua inocência e pureza sem mácula, mas foi muito severo consigo mesmo para conseguir preservá-las. Possuía em grau eminente o espírito de oração, pois, além de ocupar grande parte da noite em exercícios de devoção, também elevava a mente a Deus durante suas várias ocupações cotidianas, por meio de breves aspirações. Nunca empreendia nada sem antes recomendá-lo em oração a Deus, e quanto mais importante o assunto, mais longas e fervorosas eram suas orações. O único objetivo de suas muitas e laboriosas viagens era a glória de Deus e o bem dos homens, e seu esforço constante era evitar ofensas à divina Majestade e trabalhar pela salvação das almas. 

Mas como podemos descrever sua terna devoção à Santíssima Virgem, que ele amou e honrou como mãe desde a sua primeira infância? Ainda jovem, celebrou várias festas e fez muitas orações para honrá-la. Entrou para a Ordem dos Servos de Maria, porque estes tinham por obrigação promover o culto e a honra a Nossa Senhora. Em todos os seus sermões, exortava o povo a louvar Maria e a recorrer a ela em todas as suas dificuldades. Em suma, não descuidou nada do que julgou necessário ou útil para instituir e difundir a devida devoção à Rainha do Céu.

Embora, em muitos lugares, tenha sido levado a suportar muitas dificuldades e perseguições, o amor a Deus e à Santíssima Virgem não o impediu de continuar seu trabalho apostólico. Enquanto isso, a fraqueza de seu corpo manifestava claramente que seu momento derradeiro se aproximava. Por isso, dirigiu-se ao seu convento em Todi e lá visitou primeiro a igreja. Prostrou-se diante do altar e, após uma longa e fervorosa oração, levantou-se novamente e disse: “Recebei, Senhor, a minha ação de graças; aqui está o lugar de meu repouso.”

“Visão de São Filipe Benício”, por José Campeche y Jordán.

Na festa da Assunção de Nossa Senhora, São Filipe Benício pregou pela última vez, e com tal eloquência e unção, que todos os ouvintes ficaram muito comovidos. Ao sair do púlpito, foi acometido de uma febre que, embora os outros considerassem irrelevante, ele mesmo encarou como mensageira da morte. Por isso, foi carregado para um aposento especial e lá permaneceu deitado, mas ninguém conseguiu persuadi-lo a tirar o tosco cilício que usava constantemente.

Depois disso, passou os dias que lhe restavam na terra instruindo e exortando os seus religiosos, rezando para Deus e invocando a intercessão da Bem-aventurada Virgem, arrependendo-se dos seus pecados e desejando ser admitido na presença do Altíssimo.

Tendo recebido com grande devoção os santos sacramentos, pediu aos seus irmãos que rezassem a Ladainha dos Santos. Quando chegaram às palavras: “Ainda que pecadores, nós vos rogamos: ouvi-nos”, entrou em êxtase e perdeu de tal modo a consciência que parecia já estar morto. Permaneceu neste estado por três horas, quando um de seus amigos o chamou em voz alta. Acordou como se estivesse num sono profundo e contou como tivera uma terrível luta contra Satanás; como este o havia acusado por seus pecados e tentado fazê-lo desesperar da misericórdia de Deus. Quando o combate estava no auge, porém, a Virgem Santíssima apareceu a Filipe e, afastando Satanás, não só o salvou de todo o perigo, mas também lhe mostrou a coroa que o esperava no outro mundo.

Após relatar o episódio aos que o cercavam, deixando todos impressionados, pediu o que chamava de “seu livro”, o crucifixo, e, apertando-o contra o coração, entoou o cântico de louvor de São Zacarias (cf. Lc 1, 68-79) e, em seguida, o Salmo 30. Ao chegar às palavras: In te, Domine, speravi — “Em vossas mãos entrego o meu espírito” (v. 2), olhou mais uma vez para o crucifixo e concluiu sua santa e frutuosa vida na oitava da Assunção de Nossa Senhora, no ano de 1285. A biografia deste santo contém muitos milagres que ele realizou em vida, e muitos outros que aconteceram por sua intercessão depois de sua morte bem-aventurada.

Considerações práticas

I. Antes da morte, São Filipe Benício foi provado por uma grande luta. Satanás acusava-o de seus pecados, procurando assim levá-lo ao desespero (embora fossem pecados pequenos e Filipe há muito já tivesse se arrependido deles). Se isso aconteceu com o lenho verde, o que ocorrerá com o seco? Que combate será reservado aos pecadores que, em vida, cometeram iniquidades sem se preocupar com a penitência? 

Se Satanás perturbou São Filipe, recordando-lhe seus pequenos pecados, como não atormentará aqueles a quem pode apontar grandes pecados, e talvez faltas não bem confessadas! Se teve o atrevimento de tentar desesperar um homem tão santo, quanto mais não tentará aquele que, em vida, ofendeu o Altíssimo tantas vezes e tão arbitrariamente, e que bebeu o pecado como água!

Escultura de São Filipe Benício, por Rinaldino di Francia.

Ah! Cuidado, ó pecador! E aprenda a não acreditar em Satanás. Quando o diabo tenta induzi-lo a fazer o mal, apresenta tudo como se fosse muito fácil; não diz nada sobre a dimensão do pecado. Ele fala com você sobre a misericórdia de Deus, dizendo: “Podes admitir esse pecado. Deus é misericordioso. Ele te perdoará.” Pense bem: ao apresentar-lhe a misericórdia de Deus, Satanás na verdade quer o induzir a pecar. Porém, na hora de sua morte, ele volta essa mesma misericórdia contra você. Então, ele apresenta a grandeza de seu pecado e a rigorosa justiça de Deus, a fim de encher sua alma de desespero. Por isso, não acredite nele.

Coloque agora diante dos olhos a grandeza do pecado e a justiça do Todo-Poderoso, para que você evite o mal, ou, se tiver se tornado culpado dele, para que faça penitência. Se fizer isso agora, você poderá, em sua última hora, consolar-se com o pensamento da misericórdia divina. “Não confies nunca em teu inimigo” (Eclo 12, 10).

II. Em sua grande batalha, São Filipe Benício foi visivelmente ajudado pela Mãe de Deus, que afastou Satanás e mostrou ao santo moribundo a coroa que o esperava no Céu. Assim a Mãe amorosíssima recompensou a devoção de seu servo fiel.

Se quiser receber o auxílio de Nossa Senhora, honre-a com verdadeira devoção filial. Peça-lhe com frequência e fervor para obter de Deus a graça de combater com valentia as tentações de Satanás, tanto agora como na hora de sua morte. Ela ouvirá suas preces e virá em seu socorro. E os espíritos malignos, que temem o nome de Maria, fugirão de você. “Os espíritos do Inferno temem a Rainha do Céu e fogem logo que ouvem seu nome”, diz o piedoso Tomás de Kempis. Também escreve São Boaventura: “Os inimigos visíveis não temem um exército bem treinado tanto quanto os espíritos malignos temem o nome de Maria.”

Referências

  • Extraído, traduzido e adaptado passim de: Lives of the saints: compiled from authentic sources with a practical instruction on the life of each saint, for every day in the year, v. 2. New York: P. O’Shea, 1876, p. 241ss.

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NC
Nathalino Cardoso
18 Set 2024

Ótimo e estimulante a ser fiel a Jesus e Maria

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DB
Danielle Bandeira
27 Ago 2024

Nasceu no ano de 1283 e morreu no ano 1285?

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GB
Guilherme Bandeira
23 Ago 2024
(Editado)

São Filipe Benício, rogai por nós miseráveis pecadores!

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