Ninguém sabe como construir outra Catedral de Chartres. À medida que o tempo cobra seu preço nos tijolos e no cimento, e os vândalos e incendiários os destroem, as maravilhas da cristandade desaparecem. Nós, católicos amantes da tradição, levantamos impotentes o lamento: “Nestes dias de males e vida errante, recorda-se Jerusalém das delícias dos tempos idos” (Lm 1, 7). Parece que a restauração da beleza na arte e na cultura é uma causa agora totalmente perdida.
Cristo, que tudo conhece, sabe que os fiéis que buscam a restauração da beleza não o fazem como estetas ou antiquários, mas como a noiva que andava pelas ruas, na escuridão da noite, em busca daquele a quem amava a sua alma (cf. Ct 3, 1s). O Noivo não se esconde da noiva para sempre. Mesmo em suas Lamentações, Jeremias afirma: “O Senhor é bom para quem nele confia, para a alma que o procura” (Lm 3, 25). Nossas lágrimas são justificadas, mas agora devemos enxugá-las e começar a abrir um túnel através da barricada chamada modernismo, que entrava o caminho da restauração. Verdadeiramente, Cristo deixou um caminho para nós; acontece que ele é muito pequeno.
Inúmeras almas abraçaram a chamada pequena via de Santa Teresinha do Menino Jesus na prática da virtude moral e, como resultado, avançaram para a santidade. A santa descreve sua pequena via de forma sucinta: “É a via da infância espiritual, é o caminho da confiança e do total abandono” [1]. Mas, assim como o reino moral está repleto de potenciais atos de amor, como frutas ao alcance da mão, prontas para a colheita, também o reino material proporciona ocasiões para pequenas vitórias da beleza. Com muita frequência, católicos bem-intencionados desistem totalmente do reino material e, embora vivam vidas virtuosas, de grande beleza espiritual, permitem que a feiura material se espalhe por seus lares, seus trajes e suas igrejas. Essa apatia em preservar e promover a beleza no reino material vai contra a vontade de Deus, que colocou especificamente o homem para administrar a Criação material. Talvez não possamos bordar paramentos como as Irmãs da Visitação, tampouco compor Missas como os monges que produziram o Kyriale, mas podemos cuidar com amor das toalhas do altar e fazer o nosso melhor para aprender a arte do canto gregoriano. Da mesma forma, não podemos construir uma catedral gótica, mas podemos pelo menos fazer de nossas casas lugares belos. Na busca pela restauração, devemos nos tornar como crianças espirituais, contentes em sua humildade com as pequenas obras das crianças, nunca cansados demais para fazer com alegria o nosso melhor e sem jamais pensar em desistir da luta.
Aos oito anos de idade, Teresa escreveu com vivo entusiasmo a sua irmã Paulina: “Se soubesses: no dia de Santa Domítia, minha tia colocou-me um cinto cor-de-rosa e eu joguei rosas para Santa Domítia” [2]. Anos mais tarde, no auge de sua doutrina espiritual, ela continuou no mesmo tema, comparando suas boas obras a flores que se lançam: “Mas como haverá ela de testemunhar seu amor, uma vez que o amor se prova pela obras? Pois bem! A criancinha lançará flores, haverá de embalsamar com seus perfumes o trono real...” [3]
Para ilustrar as boas obras, Teresa usou o ato de lançar pétalas, partindo do pressuposto de que qualquer pessoa estaria bem familiarizada com essa imagem. Infelizmente, hoje em dia, é raro que vejamos procissões religiosas com este tipo de devoção. Os países mais ricos do mundo são muito parcimoniosos para comprar algumas rosas para a Eucaristia. Além de aspergir Nosso Senhor com as pétalas espirituais de nossas boas obras, devemos, literalmente, aspergi-lo com pétalas. Devemos persistir em resgatar e manter os velhos costumes que eram tão belos e simples. Devemos fazer altares em nossas casas, e plantar belos jardins, e vestir-nos bem, e pintar, e cantar, e trazer de volta a cerimônia e a dignidade ao ato de comer. A lista de pequenas coisas que podemos fazer em nossos lares e igrejas é interminável e, se vivermos o ano litúrgico em sua plenitude, estaremos sempre ocupados nos preparando para a próxima festa. Em tudo isso, praticamos a pequena via da beleza, limpando a sujeira que obscureceu o espelho da Criação e permitindo-lhe refletir, mais uma vez, a imagem de Deus.
Alguns poderão salientar, com razão, que o contexto histórico de Teresa, a Belle Époque, estava impregnado de sentimentalismo, que se manifestou no terrível kitsch, o qual não só não é o caminho para penetrar a barricada do modernismo, como talvez seja uma das doenças que pavimentaram o caminho para o surgimento da “síntese de todas as heresias”. Os vápidos [tons] pastéis, as estátuas de gesso inchadas, a confusão empoeirada e efeminada daquela era melosa enojaram muitos corações viris e causaram uma reação desordenada em direção ao vazio “limpo” do minimalismo, que ainda hoje reverbera em ondas de iconoclasmo. O kitsch surge de um desejo apressado de “fazer alguma coisa” para conseguir emoções agradáveis. Quão diferentes são os anjos bordados à máquina em poliéster, dançando na frente do altar, das cruzes vermelhas meticulosamente bordadas à mão nas tradicionais alfaias de linho! Para evitar cair no kitsch, devemos desacelerar e deixar que a tradição de nossa fé forme o nosso gosto e sature os nossos objetivos artísticos. Ninguém que pondera, em espírito de oração, um afresco de Giotto terá a inspiração de fazer uma estola Children of the World [4]. O fato de a devoção às vezes esbarrar no beco sem saída do kitsch não nos dispensa de prosseguirmos sempre rumo à restauração. À medida que iluminarmos a estrada com pequenos lampejos de verdadeira beleza, ajudaremos a guiar a nós mesmos e a nossos companheiros de viagem para longe de caminhos falsos.
Depois de abraçar todos os encantos de pequenas cruzes vermelhas, altares domésticos e pétalas de rosa, é claro que podemos recuar e perguntar: “O que são essas pequenas belezas em meio a tanta feiura?” — assim como o Apóstolo que, vendo tão poucos pães e peixes, indagou Nosso Senhor: “Que é isto para tanta gente?” (Jo 6, 9b). Não aprouve porém a Nosso Senhor explicar seu milagre na época, e provavelmente não lhe aprazerá explicar agora como ou quando Ele planeja usar os nossos pães e peixes. Um aspecto crucial da pequena via é a confiança cega de nossos esforços às mãos de Deus. Se nossos esforços não renderem senão um altar doméstico antes que soe a trombeta, é irrelevante. Nosso Senhor quer que seu povo seja alimentado com a beleza para não desmaiar ao longo do caminho. Ele pede nossos pães e peixes. Não sejamos derrotistas como os Apóstolos, mas simples e confiantes, como a criança que apresentou os seus cinco pães e dois peixes (cf. Jo 6, 9). Se a fé do tamanho de um grão de mostarda pode mover montanhas (cf. Mt 17, 20), então a beleza do tamanho de uma pétala de rosa pode inspirar outra Chartres. Precisamos apenas rezar com Santa Teresinha:
Ah, bem o sei… Esta perfumada chuva, estas frágeis pétalas sem nenhum valor, estes cânticos de amor do mais pequenino dos corações haverão de te encantar. Sim, estes nadas te alegrarão, e farão a Igreja Triunfante sorrir. Ela recolherá minhas flores, desfolhadas por amor e, fazendo-as passar por tuas divinas mãos, Jesus, esta Igreja do Céu, querendo brincar com sua filhinha, lançará, também ela, essas flores que, por teu toque divino, adquiriram um valor infinito. Ela as lançará sobre a Igreja Padecente para lhe extinguir as chamas, ela as jogará sobre a Igreja Militante a fim de lhe alcançar a vitória [5]!
Anna Kalinowska, autora deste texto, escreve sobre arte, cultura e liturgia para várias publicações, procurando inspirar os católicos à busca da beleza no seu dia a dia. Este artigo foi publicado originalmente a 2 de outubro de 2021, no site OnePeterFive.com.

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