Santa Maria Madalena de Pazzi, cuja memória a Igreja universal celebra neste 25 de maio, viveu na passagem do século XVI para o século XVII.

Enfrentando a resistência de uma família abastada, Madalena se fez carmelita com apenas 16 anos, em Florença. Passou em sua vida religiosa por inúmeros sofrimentos de ordem física e espiritual, pelos quais foi recompensada com experiências místicas e visões extraordinárias de Nosso Senhor, da Santíssima Virgem e de muitos outros santos.

Era uma mulher de muita oração e intimidade com a Palavra de Deus. Uma testemunha de seu processo de canonização conta que via Madalena passar horas meditando os Evangelhos:

"Eu me lembro, em particular, de que todos os sábados, tomando o livro dos evangelhos, ela pegava dois ou três pontos do evangelho do domingo seguinte, a sua escolha, e meditava sobre eles a semana inteira, gastando cerca de duas horas pela manhã e uma, à noite, nessa meditação." [1]

Depois de sua morte, no ano de 1607, o seu corpo foi um dos muitos na história da Igreja a experimentar o fenômeno da incorrupção:

"O corpo da santa foi cuidadosamente examinado durante as exumações de 1612 e 1625, e de novo em 1663 para o processo de canonização. A cada vez era atestado por todas as testemunhas que a preservação de seu corpo era de natureza miraculosa, 'já que ele não estava em nenhuma parte aberto ou embalsamado, nem nenhum artifício havia sido usado nele'." [2]

No momento de sua morte, as suas irmãs no convento afirmavam que seu corpo "não inspirava terror como os cadáveres geralmente fazem, mas, ao contrário, à morte daquela santa alma, seu rosto permaneceu alegre e todos os seus membros ficaram tão brancos quanto o marfim". Hoje, mais de 400 anos depois de sua morte, o "marfim" tomou uma cor amarelada, mas o seu rosto ainda sorri. Uma descrição recente de sua relíquia diz que Madalena "parece gentilmente dormir à espera da ressurreição" [3].

Visitante ilustre de seu corpo incorrupto foi a pequena Teresa de Lisieux, em 1887.

Teresa de Lisieux, aos 15 anos de idade.

O encontro entre essas duas santas mulheres se deu durante uma peregrinação da família Martin à Itália. Santa Teresinha, sua irmã Celina e seu pai Luís (também ele santo canonizado) voltavam de Roma, depois de uma tentativa frustrada de obter do Papa Leão XIII o ingresso prematuro de Teresa no carmelo. O breve episódio é relatado em seu famoso livro História de uma alma:

"Em Florença, fiquei contente de contemplar Santa Madalena de Pazzi no meio do coro das Carmelitas que nos abriram a grande grade. Não sabíamos deste privilégio, e como muitas pessoas queriam tocar seus terços no túmulo da Santa, só eu pude passar a mão pela grade que nos separava dele. Assim, todos me traziam os terços e eu estava toda orgulhosa com meu ofício... Achava sempre o meio de tocar em tudo." [4]

O primeiro dado notável desse encontro são as suas protagonistas: duas mulheres, veneradas como santas e mestras da vida interior pela Igreja Católica — a mesma que o feminismo moderno acusa de misoginia e de patriarcalismo. Ditas acusações se devem, em grande medida, a uma tremenda ignorância histórica. Desde o seu início, de fato, a religião cristã deu um tratamento especial às mulheres [5], a começar por Maria, escolhida por Deus para ser a própria mãe do Verbo encarnado:

"A mulher em si mesma [...] nunca foi tão exaltada como no cristianismo. Dir-se-ia até que o foi mais do que o homem, não só porque Jesus a encontrara mais aviltada, e a tomou de mais baixo, como também porque, pela apoteose incomparável de Maria Santíssima, colocou uma simples mulher em culminâncias inatingíveis a nenhuma outra criatura humana." [6]

A própria Santa Teresinha do Menino Jesus escreve que "elas [as mulheres] amam a Deus em número bem maior do que os homens, e durante a Paixão de Nosso Senhor, as mulheres tiveram mais coragem do que os Apóstolos, pois enfrentaram os insultos dos soldados e ousaram enxugar a Face adorável de Jesus" [7].

Assim, o sexo que acabou muitas vezes, após a queda do gênero humano, sucumbindo a uma dominação destruidora do sexo masculino (cf. Gn 3, 16), agora se encontra cumulado de inúmeros benefícios, a ponto de o Apóstolo dizer que, "em Cristo, não há nem judeu nem grego, nem escravo nem livre, nem homem nem mulher" (Gl 3, 28): independentemente do sexo com que nascem as pessoas, todas são chamadas à perfeição na caridade.

No encontro entre essas duas grandes almas, transparece, ao mesmo tempo, uma grande humanidade: Santa Teresinha não só contemplava Madalena, mas "achava sempre o meio de tocar em tudo". Olhando o modo como esta piedosa jovem tratou as relíquias de Santa Madalena de Pazzi, também nós aprendemos a venerar os restos mortais dos santos de Deus: embora não sejam "deuses", as suas almas já participam definitivamente da natureza divina (cf. 2 Pd 1, 4) no Céu.

Por isso, enquanto seus corpos parecem "gentilmente dormir à espera da ressurreição", nós, a exemplo de Santa Teresinha, achemos sempre o meio de tocar em suas santas relíquias, na esperança de que o mesmo repouso celestial de que eles gozam, nós também experimentemos um dia, por toda a eternidade.

Santa Maria Madalena de Pazzi,
rogai por nós!

Santa Teresinha do Menino Jesus,
rogai por nós!

Referências

  1. Chiara Vasciaveo. Maria Madalena de Pazzi, o tesouro escondido na Igreja. 30 Dias, n. 11 (2007).
  2. Joan Carroll Cruz. The Incorruptibles. Charlotte: TAN Books, 2012, p. 195.
  3. Ibid., p. 196.
  4. Manuscrito A, 66r. Obras completas: escritos e últimos colóquios. São Paulo: Paulus, 2002, p. 137.
  5. Cf. Rodney Stark. O crescimento do cristianismo: um sociólogo reconsidera a história. São Paulo: Paulinas, 2006.
  6. Dom Aquino Corrêa. Elevação da mulher (9 de dezembro de 1934). Discursos, v. 2, t. 2. Brasília, 1985, pp. 135-137.
  7. Manuscrito A, 66v. Obras completas: escritos e últimos colóquios. São Paulo: Paulus, 2002, p. 138.

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