O humilde padre francês do século XIX, que se tornou tão querido aos católicos no mundo inteiro, começou a vida em 1786, como filho de um pobre camponês, no vilarejo de Dardilly, na França. Durante a sua infância, São João Maria Vianney trabalhou como pastor e ajudante no campo, e não começou sua educação senão a partir dos 20 anos de idade. Enquanto estudava para o sacerdócio, foi convocado para o serviço militar e tornou-se um recruta desertor, sendo obrigado por um tempo a esconder-se para escapar da polícia de Napoleão.

Sem saber nada de filosofia e tendo dificuldades em aprender o latim, ele por duas vezes foi recusado nos exames requeridos para ordenação. Aos 30 anos, acabou sendo feito sacerdote, mas se julgava que seria tão incompetente, que ele foi colocado sob a direção do padre Balley, um santo sacerdote da vila vizinha de Ecully, para ser mais bem instruído. Após a morte desse bom sacerdote, o padre João Maria foi transferido para a pequena vila de Ars, onde passou o resto de seus anos sobre a terra.

O santo levou uma vida austera, comendo os mais simples dos alimentos, usando roupas velhas e dormindo em uma cama dura. Era fato conhecido que as duas horas de sono a que ele se permitia todas as noites eram frequentemente interrompidas pelo demônio, que o tomava de assalto com sons ensurdecedores, conversas insultantes e abusos físicos. Essas visitas diabólicas eram ocasionalmente testemunhadas com apreensão pelos homens da paróquia, mas o piedoso cura encarava os ataques como rotina e, às vezes, até fazia troça deles.

O santo sacerdote possuía muito dons extraordinários, como o da cura e a habilidade de ler as mentes e os corações de seus penitentes. Foi esse dom em particular que fez a sua fama se espalhar em toda a França, conduzindo multidões de almas perturbadas a procurar a guia e a assistência do humilde padre que lhes conhecia os pecados secretos e o passado escondido.

O frágil cura começava a ouvir confissões a partir da 1h da madrugada, e o que se conta é que ele passava de 13 a 17 (sofridas) horas por dia confinado no abafadiço confessionário.

Completamente exausto pelos labores apostólicos e pelas penitências adicionais que infligia ao seu corpo macilento, o santo morreu em paz no dia 4 de agosto de 1859, depois de receber as consolações finais da religião católica. Quarenta e cinco anos depois, em 17 de junho de 1904, seu corpo foi exumado com vistas à sua beatificação e foi encontrado seco e enegrecido, mas absolutamente incorrupto. Apenas o seu rosto, que ainda era possível reconhecer perfeitamente, sofrera um pouco os efeitos da morte. Após removerem os seus órgãos internos,

os sagrados despojos foram envoltos em faixas e depois revestidos com ricos ornamentos: uma túnica de seda branca, uma batina de seda preta, um roquete de ricos bordados e uma estola com flores de lis e rosas bordadas a ouro. Nos dedos enegrecidos foi entrelaçado um rosário de jaspe e o rosto coberto com uma máscara de cera, reproduzindo as feições do servo de Deus. A 2 de abril de 1905, ao ser apresentada, aos anciãos de Ars que haviam conhecido o pe. Vianney, a relíquia do seu corpo tal como hoje aparece aos olhos dos peregrinos, todos exclamaram em lágrimas: “É ele mesmo!” [1]

Durante o ano de sua beatificação, o coração intacto de Vianney foi removido e abrigado num bonito recipiente à parte: o Relicário do Coração do Cura d’Ars.

O magnífico relicário que contém o corpo do santo foi doado por padres de todo o mundo e está situado em cima de um altar da basílica (Basilique), que foi anexada à velha igreja paroquial (Église). Diante do relicário de ouro, que expõe as relíquias aos fiéis, o santo sacrifício da Missa é continuamente oferecido durante o verão por padres peregrinos.

Em Ars, estão preservados os cômodos em que o santo viveu, mantidos exatamente como estavam no dia de sua morte, em cujas paredes podem ser vistas imagens penduradas pelo próprio cura. Também estão mantidos ali os seus artigos pessoais, o seu breviário, o Rosário que ele usava com frequência, uma disciplina tingida de sangue e a cama em que ele ateou fogo durante uma das frequentes visitas que recebeu do diabo.

São João Maria Vianney, que, enquanto seminarista, tanta dificuldade teve em ser admitido ao sacerdócio, mas que exerceu de modo tão edificante a sua vocação, foi canonizado em 1925 e nomeado depois padroeiro dos párocos do mundo inteiro.

Referências

  1. Francis Trochu, O Cura d’Ars (rev. por Luiz Márcio Beletto Sansani). São Paulo: Cultor de Livros, 2015, p. 647.

Notas

  • Esse texto foi levemente adaptado de Joan Carroll Cruz, The Incorruptibles, Charlotte: TAN Books, 2012, pp. 257s.

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