Durante anos fui um viciado em mídias sociais, checando regularmente meu celular à procura de atualizações no Facebook e no Twitter (estou muito velho para Snapchat) e compartilhando minha sabedoria mundo afora. Eu gostava de ganhar "curtidas" e retweets, tanto quanto qualquer outra pessoa (talvez mais).

Sim, eu olhava com desdém para posts de gatinhos e pensava que selfies eram narcisistas e irritantes. Mas, de forma geral, nunca me perguntei sobre a importância das mídias sociais como um todo. Não de um ponto de vista católico, pelo menos. Afinal de contas, elas não são a principal forma de comunicação hoje em dia? Não é necessário, aliás, que os católicos estejam presentes nelas para poder evangelizar? Isto não poderia ser visto, enfim, como parte do meu ministério enquanto padre, como um tipo de "paróquia cibernética"?

Como quer que seja, encontrei-me recentemente com um amigo seminarista que decidiu há uns dois anos parar de usar o Facebook. Ele confessou que sua vida, sobretudo como católico, melhorou muito desde então. E desafiou-me a seguir o seu exemplo.

Minha reação imediata foi fechar-me na defensiva, à semelhança de um viciado em jogos cuja esposa lhe pede que tente parar de apostar por um tempo. E o que me surpreendeu foi justamente essa reação interna. Afinal, por que a simples ideia de abandonar as redes sociais pareceu-me tão amedrontadora? Será que eu estava tão viciado assim em "curtidas" e retweets?

Enquanto eu pensava em excluir minhas contas de Facebook e de Twitter, as pessoas com quem conversei a respeito levantaram-me inúmeras objeções; dentre elas, apenas duas pareciam ter algum peso. As redes sociais, em primeiro lugar, são plataformas de comunicação, e é por isso que a Igreja não deve estar fora do Facebook e do Twitter, assim como São Paulo não fugiu do Areópago. Em segundo lugar, elas constituem um meio de manter contato com pessoas a que eu não teria acesso de outra forma.

Estes dois argumentos fizeram-me hesitar por um instante. Foi então que me perguntei pelo número de pessoas que verdadeiramente se convertem por causa de um tweet. Suspeito que não sejam muitas. Na verdade, é possível que mais gente se afaste da fé por causa das "guerras" intestinas travadas entre católicos on-line. As mídias sociais não são favoráveis a meio-termos e à moderação; antes, pelo contrário, tendem a acentuar o lado menos agradável da comunicação, e são os comentários mais escandalosos que costumam ganhar maior número de "curtidas".

Quem usa mídias sociais está constantemente exposto à tentação, como os jornalistas, a dar demasiada atenção ao que é escandaloso e polêmico, e isto vai na contramão do que São Paulo disse aos filipenses: "Tudo o que é verdadeiro, tudo o que é nobre, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, tudo o que é virtuoso e louvável, eis o que deve ocupar vossos pensamentos" (Fl 4, 8).

Quanto à segunda objeção, é preciso lembrar que é natural perder contato com as pessoas ao mudarem as circunstâncias que nos unem a elas. Seria inútil tentar congelar, numa espécie de "câmara criogênica" para amigos de Facebook, todo e qualquer relacionamento. De fato, um amigo de Facebook anunciou há poucas semanas que estava de volta à plataforma, e eu sequer havia notado que ele tinha deixado de usá-la. Isso diz tudo.

Quanto a mim, a razão básica que me levou a sair do mundo do Facebook e do Twitter foi a necessidade, frequentemente sublinhada por Bento XVI, do recolhimento interior. As mídias sociais costumam fazer-nos boiar na superfície, num comprometimento leviano com o mundo. Elas favorecem a escravidão ao momentâneo, à moda passageira, às controvérsias atuais. Elas militam contra a centralidade da Palavra, levando-nos a dar uma excêntrica atenção às puras palavras, como um balbuciar de Babel.

Como Bento XVI observou em 2005: "Deixemo-nos 'contagiar' pelo silêncio de São José! Temos tanta necessidade disso, num mundo muitas vezes demasiado ruidoso, que não favorece o recolhimento, nem a escuta da voz de Deus [...]. Cultivemos o recolhimento interior, para acolher e conservar Jesus em nossa vida."

Ora, o Facebook e o Twitter nunca me ajudaram a cultivar esse tipo de recolhimento, nunca me tornaram capaz de enraizar-me nas profundezas da presença de Deus em mim mesmo. Por isso, eles deviam sair de minha vida. Talvez nem todos passem por isso, mas creio que todos os católicos deveriam, pelo menos, começar a incluir o uso das mídias sociais em seus exames de consciência.

Excluí minhas contas de Facebook e de Twitter numa Sexta-feira Santa, e duvido que que meus "amigos" e "seguidores" se sintam abandonados ou, privados agora de meus posts e tweets, invadidos por uma sensação de abandono. A verdade é que a maior parte deles nem mesmo vai notar a minha ausência. (Nem mesmo quando eu morrer — mas isto fica para outro dia, assim espero).

Se estou com saudades das mídias sociais? Bem, estou escrevendo este artigo durante uma pequena pausa depois da Páscoa em Whitby e preciso ser honesto: queria muito tirar uma foto da Abadia da cidade e postá-la para que todos se alegrassem comigo por encontrar-me num lugar tão bonito, enquanto os outros estão sentados em seus escritórios. Mas não havia maneira. Por fim, não tirei foto alguma e fiquei a apreciar a vista.

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