Reportagem publicada esta semana na revista Veja causou alvoroço nas redes sociais, depois de descrever Marcela Temer, a esposa do vice-presidente da República, como uma mulher "bela, recatada e 'do lar'". Aparentemente, os adjetivos não foram bem aceitos pelo público na Internet. Alguns veículos de comunicação chamaram a matéria de "machista" e "intolerante".
Agora abstraiam, por um momento, da figura de Marcela Temer, do conteúdo do artigo e de qualquer conotação política que ele tenha. O verdadeiro debate aqui é de natureza moral. Qual é, no fim das contas, o problema de uma mulher ser ou mesmo identificar-se como "recatada, modesta e do lar"? De onde surgem tantas reações negativas a esse perfil?
A resposta para essa pergunta deve ser encontrada no tsunami cultural que tem devastado o mundo todo, principalmente a partir da década de 70. Tudo começou com uma simples "onda" (alguns sutiãs queimados aqui, outros livros de protesto acolá), mas, graças à atuação da mídia, as coisas tomaram proporções catastróficas. Até algum tempo atrás, ser "bela, recatada e do lar" não só era uma característica comum às mulheres, como toda a sociedade estava projetada para formar as mulheres deste modo, seja dentro da família, seja dentro das escolas. "Modéstia", "recato", "pudor" e "maternidade" nem sempre foram xingamentos. Antes de as pessoas enlouquecerem, eram todas metas que os pais almejavam para a educação das suas filhas. Protestos para usar shortinho nas escolas eram impensáveis há alguns anos.
Por que o quadro social e familiar mudou tanto?
As feministas dirão que os tempos são outros, porque as mulheres se emanciparam. Os fatos mostram, no entanto, que os tempos são péssimos, porque as mulheres, na verdade, se deixaram manipular. E é fácil demonstrar como.
Olhemos, em primeiro lugar, para o que aconteceu esta semana nas redes. Não é curioso que os protestos ao perfil "bela, recatada e do lar" tenham viralizado com tanta rapidez, ganhando espaço até mesmo nos veículos informativos de grande circulação? — Vejam, dizem as notícias, trata-se de mulheres esclarecidas, que não se deixam enganar pelo discurso do patriarcado opressor e misógino! Elas resistem à manipulação! — A pergunta que deve ser feita é: que grande mérito existe em "resistir" a um discurso com o qual já ninguém está mais de acordo? Qual a grande coisa em criticar "vestidos na altura dos joelhos" quando quase nenhuma mulher os usa? O que há de "resistência" em falar mal das donas de casa, quando o que as mulheres querem é justamente ficar longe de casa? É muito fácil falar de "empoderamento" quando se é carregado pela correnteza de um rio. Só uma coisa verdadeiramente viva é capaz de nadar contra a corrente.
Dizendo mais claramente, não é preciso ter coragem nenhuma para usar um shorts curto ou uma blusa decotada quando está todo o mundo fazendo o mesmo. Ousadia quem tem é a mulher que, em tempos de pouco tecido, escolhe cobrir o seu corpo com respeito; que, em tempos de ódio à maternidade, escolhe ter uma família numerosa; que, em tempos de depravação geral, escolhe viver o recato e a decência. Essa é uma mulher de bravura, que não adere simplesmente às "modas" do momento.
Quanto à ideologia por que morre de amores a nossa elite cultural, um olhar acurado às suas raízes justifica ainda mais o uso do termo "manipulação". O movimento feminista adora falar de "libertação sexual" e de "empoderamento da mulher", apontando o dedo à Igreja, à imagem da Virgem Maria e à família burguesa, como se fossem eles os grandes inimigos da emancipação feminina.
A verdade é que nada escraviza tanto as mulheres quanto o feminismo moderno. O feminismo que lhes diz que não serão felizes enquanto não tiverem uma carteira de trabalho e não se sujeitarem a seus patrões (para substituir os maridos de que elas querem prescindir). O feminismo que lhes diz que não serão livres enquanto não transformarem os seus úteros em túmulos (para que não sacrifiquem a sua "realização profissional"). O feminismo que lhes diz que não serão iguais enquanto não superarem os homens em imoralidade e em depravação. E, por fim, o feminismo que lhes diz que não deveriam sequer ter a opção de ficar em casa para cuidar dos próprios filhos, porque isso ajudaria a perpetuar "os mitos da família, da maternidade e do instinto materno". Palavras da ativista Simone de Beauvoir, documentadas para quem as quiser ler.
Na verdade, o grande problema de uma "mulher, recatada e do lar" — seja quem for, desde Nossa Senhora a uma humilde mãe de família — é que ela lembra às pessoas do nosso tempo o fracasso da educação que temos recebido e repassado aos nossos filhos e filhas. Nós deixamos de acreditar no amor e já estamos convencidos de que não é possível viver senão movidos por nossas carências afetivas e impulsos sexuais desordenados.
Educar uma pessoa — qualquer pessoa, seja mulher, seja homem — para a virtude, para o respeito ao próprio corpo e ao próximo, é tarefa difícil, que exige paciência, dedicação e perseverança. Mas nós, pelo visto, não queremos nada disso. Estamos satisfeitos com nossa medíocre "felicidade animal", com nosso desleixo generalizado, com nossa falta de amor próprio.
Enquanto tivermos alma, no entanto, o profundo vazio de nosso coração continuará clamando bem alto para que voltemos à casa do Pai. E sentirmo-nos orgulhosos por comer a lavagem dos porcos só vai aumentar ainda mais a nossa miséria.
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