“Onde está o rei dos judeus que acaba de nascer?”, perguntaram os três magos a Herodes, rei de Jerusalém. “Onde ele está?”, repetem pelo grande desejo que têm de o encontrar. “Vimos sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo” (Mt 2, 2). Ah! dize-nos logo! Queremos tanto vê-lo! Viemos de tão longe só para o conhecer!
Que alegria deve ter sido a destes três santos reis à notícia de que o Salvador do mundo nascera em Belém! Com que presteza terão ido ao encontro do verdadeiro Rei, que os conduzira até ali debaixo de providencial estrela.
Amados cristãos, conheceis bem este relato, um entre os muitos acontecimentos maravilhosos da vida de nosso Deus e Salvador. Quando ouvis ou ledes páginas como esta, talvez sintais o desejo sincero de viver no tempo dos Apóstolos, para que tivésseis a dita de ver e ouvir a nosso Senhor e Salvador.
Sabei, porém, que sois hoje mais felizes do que então seríeis, se houvésseis vivido naquela época. No tempo dos Apóstolos, se quisésseis encontrar a morada de Jesus, teríeis provavelmente de viajar para longe e fazer muitas perguntas. Mas hoje, para o encontrar, não há necessidade de atravessar desertos e interrogar reis. Ele está, como o sabemos por fé, em nossas igrejas, não muito longe de casa.
Os magos só o podiam achar num único lugar, nós o temos em todas as partes do mundo, onde quer que se conserve o Santíssimo Sacramento. Não somos, pois, mais felizes do que aqueles que viveram nos tempos do Salvador? Sim, somos mais felizes do que eles. Nenhuma alma fiel pode pô-lo em dúvida. No entanto, podemos também dizer que fazemos bom uso dessa dita?
Ai de nós! Quantos não hão de confessar que, até hoje, nunca visitaram Jesus sacramentado! São como a sobrinha da imperatriz Santa Cunegunda, Jutta, da qual se conta que preferiu ficar em casa, sem nenhuma razão aparente, enquanto se expunha na igreja o Santíssimo Sacramento. Santa Cunegunda, acesa de indignação, deu uma forte bofetada na cara da sobrinha, e o Senhor, em castigo daquela indiferença, deixou impressa no rosto de Jutta, como sinal indelével, a marca dos dedos da tia.
Nem a todos é dado lembrar-se por tais meios deste grave dever para com Jesus sacramentado. Por isso vos apresento algumas razões que devem induzir cada alma fiel a mostrar doravante mais fervor, gratidão e amor ao nosso divino Salvador, visitando-o muitas vezes neste mistério de amor e pedindo-lhe graças não só para si, mas para todos os que se mostram frios e indiferentes ao amor sem medida e à paciência do Deus escondido sob as espécies sacramentais.
Uma só consideração há que, mais do que qualquer outra, nos devera persuadir a visitar Jesus Cristo frequentemente em nossas igrejas. É o pensamento do amor sem medida que Ele nos manifesta neste adorável mistério. Tenho “as minhas delícias junto aos filhos dos homens” (Pv 8, 31), diz o divino Salvador nas Sagradas Escrituras.
Oh! se já é grande a condescendência do rei em convidar o pobre vassalo ao palácio para lhe fazer companhia, qual não será a de Jesus Cristo, Rei do céu e da terra, que nos diz: “Vinde a mim, vós todos que estais aflitos sob o fardo, e eu vos aliviarei” (Mt 11, 28)!
Não devêramos considerar grande graça e não menor favor sermos convidados à sua presença, ou a colocar as nossas delícias naquele que tem em nós as suas, indo visitá-lo?
Meu Jesus, por que me amas tanto? Que bem vês em mim, que estás tão apaixonado por mim? Já te esqueceste dos pecados pelos quais te ofendi tão gravemente? Oh! como posso amar outra coisa senão a ti, meu Jesus e meu tudo? Ninguém jamais fez tanto para me fazer feliz como tu, ó amável, ó muitíssimo amável Jesus! Nunca me deixes amar nada além de ti.
Se tivésseis um amigo que sempre vos quis bem e vos prometeu ajuda em qualquer necessidade, protestando o grande prazer que teria em vos ajudar, seríeis sem dúvidas muito mal agradecidos, se a ele não recorrêsseis quando preciso. Mas em quem — pergunto-vos eu — haveis de encontrar melhor amigo, ou um mais fiel e mais generoso do que em Jesus sacramentado? Há porventura alguém que mais sinceramente vos queira bem, que mais deseje vossa felicidade, que com mais rapidez e gozo atenda aos vossos pedidos do que Ele? Não deveríeis, pois, sentir-vos atraídos a ir atrás do vosso Rei e melhor Amigo para lhe manifestardes toda a vossa gratidão?
Que diríeis se um homem rico fosse morar perto de um mendigo com o único propósito de o aliviar mais facilmente em suas necessidades? Que diríeis de um tal senhor? “Oh!”, exclamaríeis: “Por sua extremada bondade, merece ser honrado, louvado e amado por todos! Como é feliz o pobre que tem um tal senhor como amigo!”
Ora, enquanto nenhum rico deste mundo jamais foi tão longe em amor pelos pobres, Jesus Cristo, o Rei do céu e da terra, foi ainda além em seu amor por nós, pobres pecadores. Ele faz morada em nossas igrejas, segundo a conveniência de cada um de nós. Ah! Como somos felizes! Quer Deus que aproveitemos essa felicidade visitando-o frequentemente no Santíssimo Sacramento. Foi assim que pelo menos os santos sempre demonstraram gratidão.
Santa Maria Madalena de Pazzi visitava Jesus sacramentado trinta vezes por dia. A condessa de Feria, discípula de São João de Ávila, depois religiosa da Ordem das Clarissas, era conhecida como Esposa do Santíssimo Sacramento graças às suas fervorosas e prolongadas visitas.
Interrogada certa feita sobre o que fazia durante as muitas horas que passava diante da sagrada Presença, ela respondeu:
Eu poderia lá estar por toda a eternidade! Não está lá a própria essência de Deus, que é o alimento dos bem-aventurados? Bom Deus! Perguntam o que fazemos diante de ti. Mas o que não fazemos? Amamos, louvamos, agradecemos, suplicamos. Que faz um mendigo na presença de um homem rico? Que faz o doente quando vai ao médico? Que faz quem tem sede à beira de uma fonte? Ou um homem faminto a uma mesa farta?
Santa Isabel da Hungria acostumara-se desde menina a visitar muitas vezes Jesus Cristo no Santíssimo Sacramento. Se desse com a igreja fechada, beijava-lhe carinhosamente a fechadura da porta e as paredes por amor ao Cristo ali presente. Santo Afonso, impossibilitado pela idade de caminhar até a igreja, fez-se levar até lá numa cadeira para fazer a visita de costume ao seu amado Salvador.
Pe. Louis la Nusa, grande missionário da Sicília, ainda jovem estudante, era tão apegado a Jesus Cristo, que parecia não poder afastar-se da presença de seu amado Senhor, tal era o prazer que nele encontrara. Obrigado pelo diretor a não permanecer mais de uma hora diante do Santíssimo, tinha de fazer-se tanta violência, transcorrido o tempo da visita, para se separar do peito de Jesus quanto uma criança tirada à força do seio materno. Seu biógrafo diz que, quando era forçado a deixar a igreja, Pe. Louis voltava-se uma e outra vez para o altar, como se não pudera despedir-se do Senhor, cuja presença lhe era tão doce e consoladora.
Pe. Salesio, S.J., consolava-se até mesmo falando do Santíssimo Sacramento. Não podia visitá-lo com a frequência desejada; mas, chamado ao portão, ao regressar ao quarto ou ao passar de uma a outra parte da casa, aproveitava qualquer momento para fazer uma visita ao seu amado Senhor, a ponto de não haver hora do dia em que o não visitasse. Desse modo, mereceu a graça do martírio em mãos hereges por defender a presença real no Santíssimo Sacramento.
Oh! Como os exemplos dos santos humilham a nós, que tão pouco amor temos a Jesus Cristo e tão negligentes somos em visitá-lo! Alguém pode dizer: “Tenho muito que fazer; estou ocupado; não consigo encontrar tempo”. Amados cristãos, não digais: “Tenho muito que fazer”, mas: “Tenho muito amor e afeição aos bens deste mundo e muito pouco a Jesus Cristo”.
Afinal, encontramos tempo para comer e beber, para descansar e dormir, para conversar e rir, tempo para todas as nossas ocupações ordinárias; encontramos tempo até para pecar… Ora, como é possível que haja tempo para tantas coisas? Porque sempre há tempo para o que se ama.
Se são raras as vezes que visitas o Senhor sacramentado, tendes já um sinal evidente do pouco que o amas. Procurai amá-lo mais, e então encontrareis tempo para o visitar. Não digais: “Estou ocupado”. Ora, existiram santos muito ocupados, até mais do que nós, e mesmo assim não lhes faltava tempo para visitar o Senhor. Cremos realmente ter mais ocupações do que São Venceslau, rei da Polônia, ou São Luís, rei de França? E no entanto, porque amavam ternamente a Jesus Cristo, seu Rei, encontravam tempo para o visitar todos os dias.
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