[Esta matéria é de autoria do Mons. Charles Pope.]
À medida que se aproxima a Páscoa, é útil refletir sobre o que realmente fazemos nesses dias. Uma pergunta que recebi de um leitor de minha coluna no Our Sunday Visitor ajudará a estruturar a discussão e responder a algumas perguntas.
Minha família e eu estamos fazendo um estudo bíblico online com outras pessoas. Enquanto os livros de Êxodo e Levítico eram lidos, havia várias referências aos dias de festa judaica, como a Páscoa, o Pentecostes e o Yom Kippur, nos quais o próprio Senhor explicava, com detalhes muito exatos, como essas festas deveriam ser celebradas. Em muitos casos, o Senhor disse estas palavras ou algo parecido: “Guardareis aquele dia de geração em geração: é uma instituição perpétua” (Ex 12, 17). Eu sei que Jesus introduziu a Nova Aliança, que substituiu a Antiga, mas as palavras de Deus aqui parecem inequívocas. Deus não quis dizer o que disse aqui? — Nome, local omitido.
Seria errado dizer que nós, como cristãos, não observamos de forma alguma as solenes festas judaicas. Fazemos mais do que observá-las, nós lhes damos pleno cumprimento. Essas festas do Antigo Testamento apontavam para Cristo e são cumpridas por Ele.
O exemplo mais claro disso é a Páscoa. Cristo Jesus é o nosso Cordeiro pascal. Em cada Páscoa, celebramos solenemente que Cristo, nosso Cordeiro pascal, foi sacrificado de uma vez por todas. Somos libertos da morte e fazemos nosso êxodo da escravidão do pecado para a liberdade gloriosa dos filhos de Deus.
Portanto, nós fazemos mais do que celebrar a Páscoa; em Cristo, nós a cumprimos, ou seja, participamos plenamente de tudo o que a Páscoa significa. Em certo sentido, nós a celebramos todos os domingos, que são uma “mini-Páscoa”.
Quanto à festa judaica de Pentecostes (também chamada Festa das Semanas, das Colheitas ou Shavuot), nós continuamos a celebrá-la também. Embora fosse essencialmente uma festa para celebrar o fim da colheita do trigo, ela também comemorava a entrega das Tábuas da Lei. Como cristãos, cumprimos essa festa porque celebramos a Lei inscrita em nossos corações (não somente em tábuas de pedra) pelo Espírito Santo, e o chamado da Igreja para sair e produzir uma grande colheita.
Outra grande festa judaica é o Yom Kippur, o Dia da Expiação. Aqui também o que eles esperavam e ansiavam foi cumprido (não deixado de lado) em Cristo, que expia os nossos pecados, não apenas uma vez por ano, mas de uma vez por todas, e essa misericórdia está à nossa disposição todos os dias.
Santo Irineu de Lião fala desses prenúncios e de seu cumprimento em Cristo:
Deus continuou chamando-os para o que era primário por meio do que era secundário, isto é, através de prenúncios da realidade: das coisas do tempo para as coisas da eternidade, das coisas da carne para as coisas do espírito, das coisas terrenas para as coisas celestes. Como ele disse a Moisés: “Cuida para que se execute esse trabalho segundo o modelo que te mostrei no monte” (Ex 25, 40).
Por quarenta dias, Moisés se ocupou em lembrar as palavras de Deus, os padrões celestiais, as imagens espirituais, os prenúncios do que estava por vir. S. Paulo diz: eles beberam da rocha que os seguia, e a rocha era Cristo (cf. 1Cor 10, 4). Depois de falar das coisas que estão na Lei, continua: “Todas essas desgraças lhes aconteceram para nosso exemplo; foram escritas para advertência nossa, para nós, que tocamos o final dos tempos” (1Cor 10, 11).
Por meio de prenúncios, eles aprenderam a reverência a Deus e a perseverança em seu serviço. A Lei era, portanto, uma norma de vida para eles e uma profecia do que estava por vir (Adversus Haereses, IV 14, 2-3; 15, 1).
E devemos lembrar também o ensino de S. Paulo: “Ninguém, pois, vos critique por causa de comida ou bebida, ou espécies de festas ou de luas novas ou de sábados. Tudo isso não é mais que sombra do que devia vir. A realidade é Cristo” (Col 2, 16-17). Ele diz algo semelhante em Rm 14.
O leitor também me apresenta uma citação que trata da perpetuidade desses ritos antigos: “Guardareis aquele dia de geração em geração: é uma instituição perpétua” (Ex 12, 17). No entanto, a palavra hebraica para “perpétuo” é olam, que admite muitas nuances de significado. Pode significar “perpetuamente”, mas também pode significar “muito tempo ou duração”. Portanto, o significado não é tão inequívoco quanto se poderia pensar.
Por fim, não devemos esquecer que os Apóstolos receberam autoridade de Cristo para ligar e desligar. Portanto, no concílio de Jerusalém (cf. At 15), os Apóstolos e sacerdotes reunidos determinaram que toda a lei cerimonial judaica e as observâncias tradicionais não se aplicavam aos convertidos gentios. Jesus já havia estabelecido alguns precedentes a esse respeito quando declarou puros todos os alimentos (cf. Mc 7, 19) e desconsiderou algumas das regras mais rígidas sobre o trabalho no sábado.
Portanto, temos um triplo ensino. Primeiro, estamos fazendo mais do que observar as antigas festas; nós estamos dando-lhes pleno cumprimento em Cristo. Em segundo lugar, a palavra olam não significa necessariamente “para sempre”. E terceiro, a Igreja, que agora inclui os gentios, tem autoridade para regular tais observâncias e discernir, com Cristo, o que, do Antigo Testamento, é vinculante e o que não se aplica mais, ou o que é cumprido de maneira mais rica.
Em breve estaremos na Páscoa do Senhor. Jesus é o Cordeiro de Deus, que tira os pecados do mundo! Em breve, a batalha que Ele travou por nós se fará presente mais uma vez.
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