O Oriente Médio não é a única região do mundo a lidar com o problema do terrorismo. Desde 2009, a Nigéria tem visto a ascensão, principalmente ao norte do seu território, do grupo fundamentalista islâmico Boko Haram. A facção, que também é chamada de "Estado Islâmico da África Ocidental" (ISWAP, em inglês), milita principalmente pelo fim da educação ocidental no país.

"As ideias centrais da seita são a estrita adesão ao Corão e à Hadith (os ditos do Profeta Maomé)" [1]. "A sua meta é criar o reino de Deus na terra através da rígida aplicação da lei islâmica, ou sharia. Qualquer coisa que se ponha no caminho dessa meta deve ser destruído. Para Boko Haram, a violência não é uma perversão do Islã, mas um meio justificável tendo em vista o 'fim puro' que é almejado" [2].

Abu Qaqa, um porta-voz do grupo, explica: "O nosso objetivo é colocar a Nigéria em uma situação difícil e inclusive desestabilizá-la, para substituí-la pela sharia". Ele também afirma que a agenda do grupo é "levar a Nigéria de volta ao período pré-colonial, quando a lei da sharia era praticada".

De 2002, quando foi fundado, até 2009, o grupo era comandado por Mohammed Yusuf. Até então, nenhum incidente violento por parte da facção fora registrado, embora várias autoridades muçulmanas locais já acendessem um alerta para o perigo da seita. Depois de um conflito com o governo nigeriano, em julho de 2009, porém, Yusuf foi morto e os seus seguidores decidiram mudar de estratégia, unindo à militância política a prática de ataques suicidas, sequestros e assassinatos.

Os atentados no país, constantes nos últimos anos, atingem tanto muçulmanos quanto cristãos. O novo líder da facção, Abubakar Shekau, declara abertamente a sua pretensão de " encharcar a terra da Nigéria com o sangue dos cristãos e dos chamados 'muçulmanos' que contradizem o Islã" [3].

Em 2011, durante a Vigília de Natal, 40 católicos foram mortos enquanto saíam da Missa. Os fiéis foram atingidos por duas explosões com carros-bomba.

Os líderes da religião islâmica, por sua vez, são acusadas pelos fundamentalistas de conluio com o governo nigeriano. "De acordo com a retórica do grupo, uma nação secular promove a idolatria, é dizer, a adoração do Estado", explica o estudioso John Campbell. "O compromisso de fidelidade à bandeira e o canto do hino nacional são manifestações de tal idolatria e, por isso, são puníveis com a morte. O Estado é formado e sustentado pelos valores e pela educação ocidentais, e ambos são contrários à vontade de Alá".

Em 2012, após assassinar mais de 180 pessoas na cidade de Kano, a maior da região norte da Nigéria, Abubakar Shekau publicou um vídeo assumindo a autoria do atentado. "Eu gosto de matar qualquer um que Deus me mande matar – assim como eu gosto de matar galinhas e carneiros", declarou [4].

Em abril de 2014, Shekau também assumiu ser responsável pelo sequestro de 276 garotas em uma escola da cidade de Chibok. Ele reaparece em um vídeo postado na Internet, segurando um rifle e cercado por outros homens mascarados, ameaçando vender as jovens. "Eu sequestrei as suas filhas. Eu as venderei no mercado humano, por Alá. Alá disse que eu devo vendê-las. Eu vou vender mulheres", ele diz.

Desde o começo de 2014, o número de mulheres sequestradas pelos terroristas já passa a casa dos milhares. Testemunhos de jovens que foram libertas revelam as condições em que são mantidas as reféns. Elas são obrigadas a "se casarem" com os membros do grupo. Como, porém, não há monogamia no Islã, o termo mais exato para o que fazem é "estupro". As mulheres são forçadas a terem relações sexuais com vários homens.

"Transformaram-me em objeto sexual. Faziam turnos para se deitar comigo. Estou grávida e não sei quem é o pai", relata Asabe Aliyu, de 23 anos.

Grávida de quatro meses, Hamsatu, de 25 anos, conta que o pai de seu filho é membro do Boko Haram e que ela foi forçada a ter sexo com outros membros da milícia que tomaram o controle da sua cidade.

Outra garota, de nome Hauwa, sequestrada em setembro de 2013, dá o seu depoimento:

"Eu era forçada a participar com eles das operações. Geralmente me colocavam para carregar as balas. Faziam-me deitar no chão durante as operações, mas eu apenas segurava as balas. Quando eles me pediram para matar o primeiro homem, meu corpo começou a tremer e eu caí no chão. Eles me obrigaram a levantar e assistir enquanto eles matavam a segunda pessoa. Nesse ponto, como eles nos tinham ensinado a atirar, eu pensava que deveria pegar uma arma deles e me matar."

"Quando vi que seria forçada a casar, fingi sentir dores no estômago. Eles ficaram preocupados com que eu fosse HIV positivo, então me disseram para fazer o teste em um hospital. Foi assim que eu consegui escapar."

As experiências trágicas dessas jovens mobilizaram o mundo inteiro para a campanha Bring back our girls ["Tragam de volta as nossas garotas"], que pede o resgate de todas as mulheres sequestradas pelo Boko Haram. Segundo o movimento, das quase 300 reféns de Chibok, 230 ainda estão nas mãos do grupo terrorista.

Enquanto isso, Boko Haram continua a atormentar o norte da Nigéria. No começo deste ano, centenas de pessoas foram assassinadas na cidade de Baga, no que foi considerado um verdadeiro massacre, o pior ataque já perpretado pela facção criminosa. A Anistia Internacional estimou em 2 mil o número de mortos.

O governo nigeriano tem tido pouco sucesso para reprimir os fundamentalistas islâmicos. A derrota se deve, segundo os especialistas, à falta de investimentos e à corrupção no exército nacional.

O bispo Oliver Doeme, da diocese de Maiduguri, uma das mais atingidas pelo grupo terrorista, lamentou o fracasso do poder público em conter os militantes. "Tanto cristãos quanto muçulmanos estão sendo afetados, mortos e expulsos de suas casas, aldeias e cidades. Ambos foram dispersados e se tornaram refugiados em sua própria pátria", diz o prelado. "A vida se tornou tão banal que pode ser tirada a qualquer momento".

Subam aos céus, da Igreja no mundo inteiro, as orações dos fiéis cristãos por tantas famílias, mulheres e crianças que sofrem nas mãos dos terroristas de Boko Haram. Que, no seu sofrimento, unam a sua entrega à oferta amorosa de Cristo crucificado (cf. Cl 1, 24). E que o mundo islâmico possa abrir os olhos para reconhecer que, definitivamente, "não é razoável a difusão da fé mediante a violência" [5].

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