Vinte e um. Foi o número de cristãos mortos pelo Estado Islâmico, em um vídeo divulgado pelo grupo terrorista, no dia 15 de fevereiro, há pouco mais de um mês.
A gravação – produzida com música de fundo e efeitos de edição – leva o título A message signed with blood to the nation of the cross ["Uma mensagem assinada com sangue para a nação da cruz"]. No vídeo, membros do Estado Islâmico, vestidos de preto, trazem consigo 21 cristãos coptas do Egito, com macacões alaranjados, e os conduzem ao longo da Costa de Wilayat Tarabulus, na Líbia, à beira do Mar Mediterrâneo. Eles enfileiram "os seguidores da hostil Igreja Egípcia", ajoelhados, e cortam as suas cabeças, deixando vermelhas de sangue as águas costeiras. É possível ver os lábios dos mártires se mexendo e invocando o nome de Jesus antes da morte.
No dia 17 de fevereiro, o Papa Francisco ofereceu a sua Missa matutina na Capela da Casa Santa Marta por esses "vinte e um irmãos coptas, decapitados só porque eram cristãos".
Muitas vezes, o Ocidente tende a olhar para os martírios do Império Romano – os cristãos crucificados, decapitados ou entregues aos leões nas arenas do Coliseu – como para um passado distante. As pessoas são quase tentadas a pensar que as atrocidades de outrora ficaram para trás, que as loucuras de um Nero ou de Diocleciano já não se repetem mais na era contemporânea, tão certas estão da civilidade e superioridade moral dos tempos modernos.
Ledo engano. Longe daqui, cabeças humanas são decepadas, apenas por crerem em Cristo; pelo simples fato de terem sido banhadas, um dia, pelas santas águas do Batismo. 15 de fevereiro – escolhido pelos terroristas muçulmanos para mandar a sua "mensagem de sangue" ao mundo – já era o dia dos mártires São Faustino e São Jovita. Os dois – um sacerdote e um diácono católicos, respectivamente – também foram decapitados, em Roma, no ano de 146. Agora, quase dois mil anos depois, no mesmo dia 15, a história recorda aos homens uma lição há muito esquecida: o Cristianismo ainda é, de fato, a religião mais perseguida do mundo.
A verdade é que as perseguições sempre estiveram presentes na história da Igreja. Foi o próprio Senhor quem alertou os Seus discípulos: "Sereis expulsos das sinagogas, e virá a hora em que todo aquele que vos matar, julgará estar prestando culto a Deus" ( Jo 16, 2). Ao lado dessa previsão aparentemente terrível, todavia, o mesmo Jesus ajuntou uma promessa extraordinária: "Felizes aqueles que sofrem perseguição pelo amor da justiça, porque deles é o Reino dos céus" (Mt 5, 10).
Ora, como podem ser felizes estes homens que perderam as próprias cabeças? Como podem ser chamados bem-aventurados estes rapazes que, tendo família, mulher e filhos e "uma vida inteira pela frente", perderam tudo de uma só vez?
Poder-se-ia responder, com Nosso Senhor, que "quem ama pai ou mãe, filho ou filha, mais do que a mim, não é digno de mim" ( Mt 10, 37). Ou recorrer a Santo Tomás de Aquino e explicar que as "realidades invísiveis" valem muito mais do que este mundo visível [1].
Todavia, é melhor que os leitores que acompanham estas parcas linhas ouçam, eles mesmos, o testemunho de Beshir, que perdeu seus dois irmãos, Bishoy (25) e Samuel (23), nas mãos dos terroristas islâmicos. Trata-se de uma pessoa real, afetada diretamente pelas crueldades do Estado Islâmico. Perguntado sobre como se sente em relação à perda dos dois, Beshir não hesita em dizer: "São meu orgulho (...). Eles me fazem andar de cabeça erguida".
Eis a razão da bem-aventurança destes 21 mártires coptas do Egito: eles morreram por amor a Cristo. E "não existe maior prova de amor do que dar a vida por seus amigos" (Jo 15, 13).
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