Os meios de comunicação social, embora exerçam papel fundamental para a informação, podem contribuir gravemente para a desmoralização da sociedade. Em 1952, quando os primeiros ventos de mudanças na legislação do divórcio sopravam sobre o Brasil, o então arcebispo de Cuiabá (MT), Dom Francisco Aquino Corrêa, escrevia jubiloso, no dia de ação de graças: “Não podemos esquecer aqui a vibrante reação e repulsa da opinião nacional às recentes ameaças do divórcio, o que prova que o Brasil se sente muito bem, na sua posição quase singular de povo anti-divórcio" [1]. Após várias décadas, o cenário brasileiro é exatamente o oposto. O divórcio não só virou lei como é advogado por grande parte da população. E isso se deve, principalmente, à atuação dos chamados mass media que, ao longo desses anos, ora por meio de telenovelas, ora pela divulgação de “indiscrições sensacionalistas e insinuações caluniosas", trabalharam minuciosamente para moldar a opinião pública à sua imagem e semelhança [2].
Com raras exceções, a mídia é, inegavelmente, contrária à moral cristã. Dia sim dia também, a fé católica é atacada nas bases, a fim de que a Igreja deixe de exercer seu papel de Mater et Magistra. Ainda soam frescas em nossas memórias as estultices do diretor da BBC, Mark Thompson, acerca do posicionamento da emissora em relação ao islã e ao cristianismo: “Zombaremos de Jesus, mas não de Maomé" [3]. No Brasil, onde Thompson parece ter feito escola, de maneira parecida expressou-se recentemente um comediante, que protagonizou um dos “vídeos de humor" mais estúpidos contra os cristãos: “Eu, por exemplo, não faço piada com Alá e Maomé, porque não quero morrer! Não quero que explodam a minha casa só por isso" [4]. Assim funciona a lógica da covardia. Em nome do politicamente correto, o cristianismo é massacrado publicamente. Em nome do politicamente correto, coloca-se uma redoma de vidro sobre um grupo — mas não por respeito aos seus costumes e tradições, é óbvio, e sim por puro medo das possíveis consequências — e o escárnio sobre outro. Ora, que isto fique bem claro: os meios de comunicação social devem tutelar pelo respeito à dignidade da pessoa humana, inclusive por sua sua fé [5].
Antes de tornar-se João Paulo I, o cardeal Albino Luciani fazia um juízo certeiro sobre as ambiguidades da mídia. O então patriarca de Veneza dizia [6]:
Estes instrumentos, que pela sua própria natureza devem ser transmissores da verdade, se forem manipulados por pessoas astutas, à força de bombardearem os receptores com as suas cores sonorizadas e com uma persuasão tanto mais eficaz quanto mais oculta, são capazes de fazer que os filhos acabem por odiar o que seus pais possuem de melhor, e que as pessoas vejam como branco o que é preto.
Não seria o caso das telenovelas, por exemplo? Que dizer das inúmeras vezes em que a moral foi vilipendiada, com vistas a alcançar bons números de audiência, através de pornografia, cenas de adultério, defesa do aborto e de práticas contrárias à família? É verdade que elas não começaram com o beijo gay. As primeiras novelas a figurar na televisão brasileira ainda apresentavam algum resquício de moral e fidelidade aos ensinamentos cristãos. Os ataques, porém, foram introduzidos pouco a pouco e de maneira sutil, a fim de anestesiar a consciência das pessoas, para que, quando fosse posta em prática a “solução final", por assim dizer, já não se encontrasse qualquer sombra de oposição. Na sua autobiografia, o escritor e romancista Dias Gomes (1922-1999), um dos maiores expoentes nesta luta de descristianização da sociedade, conta em detalhes como fazia para driblar a censura militar e disseminar as ideias comunistas na sociedade [7]:
“– Não passa – disse Nélson – os milicos não vão deixar.
– Mas eu mudei o título e os nomes das personagens. Também o protagonista não é mais cabo da Força Expedicionária, é um fazedor de santos. Claro, o sentido da história continua o mesmo.
– Ah, assim é capaz de passar, esses milicos são muito burros."
O escritor falava de Roque Santeiro, um grande sucesso na história da teledramaturgia. Apresentando uma caricatura da Igreja Católica, Gomes atacou o celibato dos padres e defendeu a Teologia da Libertação numa única cajadada. A história apresentava a figura de dois clérigos. Enquanto o tradicional encarnava a opressão aos pobres, aproveitando-se da devoção popular, o liberal inspirava a luta pela liberdade, inclusive pelo romance com uma de suas paroquianas. O ator Cláudio Cavalcanti — que fez o papel do padre comunista Albano — explica a ideia numa entrevista à própria emissora:
Em 2008, o economista peruano Alberto Chong publicou uma pesquisa pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento, na qual comprova a relação direta entre a mudança de comportamento do povo brasileiro e as ideias ensinadas pelas novelas [8]. “A família está no centro dessas transformações", declarou Chong à revista Época. Neste sentido, mais uma vez é preciso repetir as palavras de Bento XVI ao povo brasileiro, quando da sua visita a este país, em 2007: “É preciso dizer não aos meios de comunicação social que ridicularizam a santidade do matrimônio e a virgindade antes do casamento" [9]. É preciso dizer não, sobretudo, àqueles meios de comunicação que, esquecendo-se da sublime vocação do homem, entorpecem a mentalidade e fazem do pecado um projeto de vida. Àqueles que não conduzem para a Jerusalém celeste; ao contrário, conduzem para Sodoma e Gomorra. Àqueles que rejeitam a paternidade de Deus para buscar a satisfação material. Finalmente, é preciso dizer não à pompa do diabo e às suas mentiras. Com Cristo ou contra Cristo.
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