Voltemo-nos agora para o maior tema do mundo inteiro, do universo inteiro; voltemo-nos para o tema que faz todo anjo pôr-se de joelhos e curvar a cabeça, ao mesmo tempo que faz todo demônio vomitar de desgosto, rosnar enfurecido e gritar de angústia: esse assunto não é outro senão a Santíssima Eucaristia. 

Fé na Presença Real

Querido pai, imagine o seguinte: e se começassem a circular em todas as redes sociais e canais de TV notícias de que Jesus Cristo apareceu em sua paróquia? Multidões de fiéis e céticos encheriam o santuário e as ruas, atirando-se ao chão para se prostrar diante do corpo e sangue de Nosso Senhor.

Você colocaria seu filho no carro imediatamente? Faltaria ao treino de futebol? Adiaria seus afazeres? Você e seu cônjuge olhariam um para o outro com espanto e fascínio, um pouco de medo e receio? Seu coração bateria acelerado? Sua mente seria tomada por memórias de vergonha e remorso?

E como você prepararia seu filho para esse milagre? Que palavras usaria para inspirá-lo, para fazê-lo concentrar-se em Cristo? Não se preocuparia com a possibilidade de o fim do mundo ter chegado para você, seu cônjuge e seus pequenos? Diante de Jesus Cristo na carne, como você se portaria? Ficaria excessivamente preocupado com seu cabelo ou com sua roupa mais nova, ou ficaria talvez mais preocupado com o estado de sua alma?

Você pediria e até imploraria a seus filhos de todas as idades que olhassem fixamente para o Deus deles com a mais profunda reverência? Ao perceber a incapacidade deles para isso, você se arrependeria de ter perdido inúmeras oportunidades de os ensinar a fazê-lo?

Quanta vergonha você não sentiria, se seus filhos adolescentes mexessem no celular diante daquele que morreu por eles na cruz? Quanta vergonha você e seu cônjuge não sentiriam, se Jesus lhes perguntasse: “Por que vos portais de forma tão piedosa agora?” Vocês respondem: “Vós sois meu Senhor, meu Salvador”. Ele então faz a seguinte pergunta: “Mas por que estais agindo tão diferentemente do modo como sempre agis?

Você responde: “Porque nunca antes tinha estado diante de Vós”. Ele balança a cabeça lentamente e diz as mesmas palavras que proferiu há dois mil anos: “Felizes aqueles que creram sem ter visto” (Jo 20, 29).

Talvez esta imagem nos ajude a perceber como é pequena a nossa fé. Mas não é o caso de todos. Os eleitos, aqueles poucos que entram pela porta estreita (cf. Mt 7, 14), não precisam de olhos para enxergar o corpo e o sangue de Jesus Cristo. Mas tampouco seus filhos precisam!

Um grande rei e santo francês, Luís IX, não precisava de olhos para crer. O Pe. Michael Müller, um dos grandes amantes da Eucaristia, conta a seguinte história em sua obra-prima The Blessed Eucharist: Our Greatest Treasure [“A Santíssima Eucaristia: Nosso Maior Tesouro”, aparentemente sem tradução portuguesa]:

Certo dia, quando São Luís, rei de França, foi convidado a ir a uma igreja em que Nosso Senhor aparecera na Sagrada Eucaristia sob a forma de uma criança, respondeu: “Não irei ver meu Senhor na Santíssima Eucaristia, porque creio firmemente que Ele está presente nela como se eu o tivesse visto. Que os que não creem possam ir até lá para vê-lo” [i].

Então, bom pai, eu lhe pergunto novamente: o que faria se Nosso Senhor aparecesse em corpo e sangue em sua paróquia? Um santo responderia: “Nada além do que já faço todos os domingos”. Mas não somos todos pecadores? Embora devêssemos nos maravilhar com as coisas milagrosas, elas só são realizadas para incentivar a nossa fé.

Creia sem buscar milagres! Creia com os olhos da fé, não porque a ciência não consegue explicar os milagres eucarísticos. Creia, mesmo que você veja apenas a aparência do pão e do vinho.

Reflitamos sobre as razões por que Jesus eucarístico se esconde de você e de sua família. Se Ele quer que sua filha, usando véu e um belo vestido para a primeira Comunhão, creia nele, por que Ele não se revela? Trata-se de uma excelente pergunta, caso a tenha feito. 

Em A Santíssima Eucaristia, o Padre Müller dá duas razões pelas quais Nosso Senhor se esconde na Eucaristia: 

Talvez tu perguntes: “Por que Nosso Senhor se esconde sob as aparências externas de pão e vinho? Por que não se manifesta sob as qualidades sensíveis de seu corpo, com suas mãos chagadas, seu semblante misericordioso, sua majestade radiante?”

Nosso Senhor age assim por duas razões: em primeiro lugar, para que não percamos o mérito da fé. Se víssemos Jesus Cristo tal como Ele é visto pelos bem-aventurados no céu, não poderíamos mais realizar um ato de fé em sua Presença Real, pois a “fé é a crença nas coisas que não enxergamos” (São Paulo).

Ora, depois desta vida Nosso Senhor deseja nos conceder uma grande recompensa por nossa fé, como Ele mesmo disse: “Felizes os que creram sem ter visto”.

Para não perderem o mérito de sua fé, muitos santos chegaram a pedir que Nosso Senhor não lhes enviasse consolações no Santíssimo Sacramento, algo que em algumas ocasiões Ele concedeu a seus servos escolhidos…

Esta é a segunda razão pela qual Nosso Senhor se esconde: para que possa nos inspirar a ter confiança. Se Ele se revelasse em toda a sua glória, tal como aparece aos anjos e santos no céu, quem ousaria se aproximar dele? Sem dúvida ninguém.

Mas Jesus deseja com toda a sinceridade unir-se intimamente às nossas almas, portanto Ele se oculta sob a forma exterior de pão, a fim de não termos medo dele. “Nosso grande rei”, diz Santa Teresa, “encobre a si mesmo para que possamos recebê-lo com grande confiança”.

Ajude seu filho a entender essas duas razões. Primeiro, porque seu pequeno deve enxergar a Eucaristia com os olhos da fé, já que nossa recompensa eterna baseia-se nessa mesma fé [ii]. Em segundo lugar, Deus se esconde do seu pequeno para que ele possa se aproximar da mesa de Comunhão com confiança. Seu filho ou filha não suportaria ver Nosso Senhor em sua glória triunfante.

Mas Jesus aparece ao seu filho como um pequeno pedaço de pão e um pouco de vinho, algo tão pequeno e inocente! Saber que seu filho pequeno e inocente, que fará a primeira Comunhão com apenas sete anos, pode receber em seu pequeno corpo e em sua alma o Deus do universo e a graça dele… é algo que não tem preço!

Reverência pela Santíssima Eucaristia

Por serem os primeiros educadores, os pais devem dar total prioridade ao ensino da piedade eucarística aos filhos. Seja para seu filho um exemplo vivo e mostre-lhe uma fé vibrante na Eucaristia. Mostre-lhe que sua fé é tão forte, que seu corpo muda na presença dele. O poderoso pai, que (para o seu pequenino) é o homem mais forte do mundo, se ajoelha humildemente diante do tabernáculo e se prostra diante da Presença exposta no ostensório. 

Poderoso pai dos pequeninos, mostre sua fraqueza, sua fragilidade, sua total e completa sujeição ao Rei do universo. Deixe que seu pequeno fique maravilhado com sua postura física, pois em nenhum outro lugar da vida ele verá papai tão submisso, com os olhos voltados para baixo, a cabeça curvada, os joelhos e as mãos dobradas e o coração tomado de humildade. 

Mostre ao seu filho, que um dia será um homem como você, que você não sabe nada, que não possui nada e que não é nada diante da Santíssima Eucaristia.

Mamãe, deixe toda a sua candura e competência, ordem e estrutura, delicadeza e decoro, inteligência e força femininas completamente rendidas diante da Presença. Ofereça-lhe cada parte do corpo e da alma, cada parte de sua pureza e de sua beleza; entregue tudo isso para que seu filho possa enxergar a verdadeira beleza de uma mulher inteiramente subordinada ao Rei dos reis; mostre tudo isso para que sua filha veja o que uma mulher de verdade faz em seu tempo mais produtivo e frutífero.

Seus filhos aprenderão mais com sua postura física diante da Presença Real do que com todas as condutas que você lhes incutir, todas as tarefas de casa que os ajudar a fazer e, mais ainda, do que toda a catequese que lhes der.

Ouçam-me, querido pai, querida mãe: diante da Santíssima Eucaristia, seu corpo é o catecismo mais verdadeiro que você pode dar aos seus pequenos.

Visitando o Santíssimo Sacramento

Já refletiu sobre a sorte que é seu filho ou sua filha morarem perto do Santíssimo Sacramento? Aonde você não iria para seus pequenos receberem Nosso Senhor e serem recebidos por Ele? Depois de ler o pequeno trecho abaixo, você não explicaria aos seus pequenos a história dos reis magos de um modo diferente?

“Onde está o rei dos judeus que acaba de nascer?”, perguntaram os três magos a Herodes, rei de Jerusalém. “Onde ele está?”, repetem pelo grande desejo que têm de o encontrar. “Vimos sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo” (Mt 2, 2). Ah! dize-nos logo! Queremos tanto vê-lo! Viemos de tão longe só para o conhecer!

Amados cristãos, conheceis bem este relato, um entre os muitos acontecimentos maravilhosos da vida de nosso Deus e Salvador. Quando ouvis ou ledes páginas como esta, talvez sintais o desejo sincero de viver no tempo dos Apóstolos, para que tivésseis a dita de ver e ouvir a nosso Senhor e Salvador.

Sabei, porém, que sois hoje mais felizes do que então seríeis, se houvésseis vivido naquela época. No tempo dos Apóstolos, se quisésseis encontrar a morada de Jesus, teríeis provavelmente de viajar para longe e fazer muitas perguntas. Mas hoje, para o encontrar, não há necessidade de atravessar desertos e interrogar reis. Ele está, como o sabemos por fé, em nossas igrejas, não muito longe de casa [iii].

Quantas paradas rápidas você faz no mercado! Com que facilidade compra um lanche no drive-thru! Como fica feliz ao fazer uma refeição rápida com seu amigo! Mas o melhor que você consegue com essas coisas é um estômago cheio ou algumas risadas.

Enquanto isso, Nosso Senhor espera sozinho por você no tabernáculo. Ele oferece o alimento celestial que nunca deixará ninguém faminto. Oferece uma fonte inesgotável de força, zelo e paixão, não explosões de energia que se esgotam com o pôr-do-sol.

Ele oferece ouvidos inteiramente amorosos para escutar suas preocupações, um ombro onipotente no qual você pode se escorar para chorar e uma amizade perpétua que jamais o decepcionará. Ele se faz disponível em todas as igrejas católicas da terra. Ele espera por você. Como fez com seus Apóstolos no Getsêmani, Ele suplica: “Não pudestes passar um tempo comigo?”

Ou como perguntou a Adão e Eva depois que pecaram: “Onde estais?” Acima de tudo, talvez lhe pergunte: “Onde estão os vossos pequeninos?” Não disse Ele que devemos deixar os pequenos irem a Ele (cf. Mc 10, 14; Mt 19, 14)?

Querido pai, o quão decidido você é na hora de levar seu filho ao médico, ao dentista, ao oftalmologista, a qualquer um que seja necessário para cuidar daquele pequeno corpo? Mas, por favor, tenha em mente que aquele pequeno corpo voltará ao pó, os dentes cairão e os olhos perderão a capacidade de enxergar. Ainda assim, aquela pequena alma — feita à imagem e semelhança do Deus todo-poderoso — viverá para sempre, muito mais do que o tempo durante o qual poderá haver vida na terra, por muito mais tempo após a chama do sol se extinguir.

Hoje à noite, saia de casa com seu pequeno e olhem para o céu; fale para ele sobre a antiguidade das estrelas e que foram necessários milhões de anos para que a luz delas chegasse ao nosso planeta; diga-lhe que aqueles bilhões e bilhões de estrelas continuarão a maravilhar o universo por bilhões e bilhões de anos, ainda depois de o nosso planeta perder toda a sua bela cor de vida verde e água azul. 

Em seguida, olhe para seu filho e diga: “Mas você viverá mais do que todas as estrelas no céu. Sua alma continuará brilhando depois que cada um daqueles pontinhos no céu tiver desaparecido no nada. Você é imortal. Verá Marte se transformar em pó. Verá as maiores estrelas se tornarem pedregulhos flutuando no espaço. Você viverá mais do que cada objeto material no vasto universo de Deus. Por quê? Porque Deus ama você mais do que a todos os cometas, planetas, buracos negros e estrelas. Deus fez você à sua imagem e semelhança para que pudesse estar com Ele para todo o sempre”.

Pai amoroso, mãe amorosa, já refletiu sobre o fato de que a alma de seu filho viverá mais do que tudo o que existe no universo material? Pense nisso da próxima vez que o mandar escovar os dentes, que estão em deterioração, mas deixar de ajudá-lo a examinar sua consciência imortal. Pense nisso da próxima vez que dirigir às pressas pela cidade para chegar a este ou àquele médico, mas deixar de visitar o divino Médico que espera na Santíssima Eucaristia, num tabernáculo dourado, a apenas alguns metros de onde você está neste exato momento.

Leve seu pequeno — por cinco minutos! O quê? Você não tem tempo? Tem muitas coisas para fazer? Muitas incumbências? Nosso Senhor eucarístico sabe que as crianças não conseguem ficar sentadas e quietas; Ele as fez assim. Sabe que as crianças não compreendem os mistérios sacramentais; Ele lhes revelará as verdades quando quiser.

Ele sabe que vocês, pai e mãe, estão exaustos e querem apenas que as coisas sejam feitas, mas os chama como pais a ir muito além da eficiência. Seu filho não precisa ser um estudante de destaque, um grande atleta ou um grande músico. Mas precisa aprender que a Santíssima Eucaristia é a resposta a todos os problemas da vida

Em A Santíssima Eucaristia, o Padre Müller desafia o leitor a refletir sobre os problemas da vida à luz das bênçãos que Deus pôs à nossa disposição. Como pai ou mãe, toda a sua atenção e energia devem ser aplicadas para que seu filho entenda o seguinte, independemente da idade:

Por que tornar a vida tão difícil, reclamar das suas cruzes e provações e ser tão impaciente em cada dificuldade? Por que invejar os ricos deste mundo, os grandes e os que recebem honrarias? Por que se aborrecer com as feridas e reclamar nas adversidades? Por que desfalecer com a simples ideia de abnegação e conflito? Não és católico? Não tens os amáveis ritos da Igreja para tranquilizar-te e os sacramentos para nutrir-te, as bênçãos dela para fortalecer-te e a absolvição dos pecados para purificar-te? Não tens a Maria por Mãe e aos Anjos e Santos por padroeiros e protetores e, acima de tudo, no Santíssimo Sacramento, a Jesus por teu Pai? [iv] 

Você ensina a seu filho que o Santíssimo Sacramento é a satisfação dos desejos dele e a solução para os conflitos dele? Consegue perceber isso em sua própria vida? Como podemos ser tolos ao buscar respostas mundanas para tudo!

Vocês, queridos pais, são católicos! Católicos! Isso significa que, como explicou o Pe. Müller com tanta elegância, vocês têm acesso inimaginável à graça por meio da Igreja e dos sacramentos, particularmente por meio do Santíssimo Sacramento.

Levem seus filhos ao divino Médico. Agora. Se este pequeno texto lhes acender uma fagulha de zelo, por pequena que seja, leve-os agora, ainda que vocês tenham de ficar no estacionamento da paróquia. Deixem que seus filhos saibam que Deus está verdadeiramente presente na Eucaristia logo ali, do outro lado da parede.

Em seguida, rezem, papai e mamãe, para que, pelo resto da vida, seus filhos busquem a Eucaristia nos momentos de alegria e de tristeza. Se isso acontecer por causa de sua influência, vocês, queridos pais, terão cumprido a sua obrigação. E Jesus Cristo, segunda Pessoa da Santíssima Trindade, dirá a vocês: “Muito bem, servo bom e fiel”. Apenas imagine…

Notas

  1. Michael Müller, The Blessed Eucharist: Our Greatest Treasure (Charlotte, NC: TAN Books, 2010), p. 11.
  2. Neste trecho do texto original, comentando a obra do Pe. Michael Müller, o autor diz o seguinte: “Imagine o padrão a que seu filho estaria sujeito se tivesse a visão beatífica na terra! Ele teria a culpabilidade de um anjo. Nesse sentido, temos de agradecer a Deus por se ocultar aos nossos olhos durante esta vida terrena”. Na verdade, caro leitor, se o seu filho já visse a Deus face a face, não haveria por que falar de culpabilidade alguma da parte dele, pois, estando ele já confirmado na graça, não mais poderia pecar. Devido à imprecisão desta frase, preferimos omiti-la nesta tradução (N.T.).
  3. Id., p. 48.
  4. Id., p. 91.

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