É com grande alegria que publicamos, traduzida por nossa equipe, a novena em honra a São Filipe Néri escrita por São John Henry Newman. 

Composta como tributo de um santo ao fundador de sua Ordem religiosa (a Congregação do Oratório), esta novena apresenta uma estrutura diferente, talvez, daquela com que estamos acostumados. Aqui, o Cardeal Newman traz breves detalhes biográficos do “santo da alegria”, usando-os como exemplo de uma virtude qualquer que ele demonstrara em vida. Para cada dia, reflete-se sobre uma virtude e reza-se uma oração a São Filipe tendo esta virtude como tema principal. 

É uma forma, pois, não só de conhecer São Filipe Néri e aumentar a devoção a ele, mas também de crescer nas virtudes, tornando-nos santos também nós.

A novena pode ser rezada a qualquer tempo, mas é recomendada principalmente nos dias que precedem a festa de São Filipe Néri (26 de maio); assim, seus dias próprios são de 17 a 25 de maio. Para tornar mais fácil a oração, indicamos essas datas já no texto abaixo, como consta no original. Ao final há uma ladainha a São Filipe Néri, que pode ser acrescentada a cada um dos dias da novena. 

1.º dia (17 de maio) — A humildade de São Filipe

  • Se ouvia falar de um crime, dizia: “Graças a Deus não fui eu, pois teria feito pior!”
  • Na confissão, enchia-se de lágrimas, dizendo: “Nunca fiz nenhuma ação boa!”
  • Quando uma penitente disse não suportar a grosseria com que o tratavam certas pessoas que muito lhe deviam, respondeu: “Fosse eu humilde, Deus não me teria mandado isto”.
  • Quando um de seus filhos espirituais lhe disse: “Padre, quisera eu ter um pouco da tua devoção, pois sei que és um santo”, ele respondeu com o rosto encolerizado, desatando nestas palavras: “Afasta-te de mim! Pois sou um diabo, não um santo!” 
  • Outro lhe disse: “Padre, fui tentado a pensar que não és o que todo o mundo diz de ti”, ao que ele respondeu: “Disto tenhas certeza: sou um homem como os outros, nada mais”. 
  • Ao saber que alguém tinha dele boa opinião, costumava dizer: “Ai de mim! Quantas menininhas pobres serão maiores no Paraíso do que eu jamais poderei ser!” 
  • Fugia a toda manifestação de estima. Não suportava ser objeto de reverência. Quando queriam tocar-lhe as roupas ou se ajoelhavam ao vê-lo passar, costumava dizer: “Levantai-vos! Saí do caminho!” Não gostava que lhe beijassem a mão, embora consentisse às vezes, para não ferir suscetibilidades. 
  • Era inimigo de toda briga e desentendimento. Tomava sempre em boa parte tudo o que lhe diziam. Tinha particular desgosto pela afetação, seja no falar, seja no vestir, ou em qualquer outra coisa. 
  • Não suportava duplicidades; quanto aos mentirosos, não os podia sequer encarar, e frequentemente lembrava a seus filhos espirituais que deviam fugir deles como da peste. 
  • Sempre pedia conselho, mesmo em assuntos de menor importância. Orientava frequentemente seus penitentes a nunca confiarem em si mesmos, mas a que aceitassem sempre o conselho de outros e rezassem tanto quanto possível. 
  • Comprazia-se em ser pouco estimado; antes, até desprezado. 
  • Tinha os modos mais afáveis ao tratar com os outros, uma grande doçura na conversa, e era cheio de compaixão e consideração. 
  • Nunca lhe agradou falar de si mesmo. Expressões como: “Eu disse”, “Eu fiz” raramente lhe vinham aos lábios. Exortava os outros a que nunca buscassem aparecer, sobretudo em coisas que os pudessem honrar, quer falassem a sério ou por brincadeira. 
  • Assim como São João Evangelista, já velho, dizia uma e outra vez: “Meus filhinhos, amai-vos uns aos outros”, também Filipe vivia a repetir sua lição predileta: “Sede humildes; tende-vos em pouca conta!” 
  • Dizia que, se fizermos um bom trabalho, mas outro levar o crédito, devemos alegrar-nos e dar graças a Deus. 
  • Dizia que ninguém deveria pensar: “Oh! Não hei de cair, não hei de pecar”, porque isso era sinal claro de que se iria cair. Desagradavam-lhe enormemente os que buscavam desculpas para os próprios atos, e chamava-lhes “Minha prezada Eva”, a qual preferiu justificar-se a ser humilde.

Oração. — São Filipe, meu glorioso padroeiro, que desprezastes como lixo os louvores e mesmo a estima dos homens: alcançai-me por vossas preces, de meu Senhor e Salvador, esta justa virtude. Quão arrogantes são meus pensamentos, quão desdenhosas minhas palavras, quão ambiciosas minhas obras! Obtende-me aquela baixa autoestima com que fostes agraciado; obtende-me o conhecimento do meu nada, de forma que eu possa alegrar-me ao ser menosprezado e buscar ser grande somente aos olhos de meu Deus e Juiz.

2.º dia (18 de maio) — A devoção de S. Filipe

“A Madonna aparecendo a S. Filipe Néri”, de Sebastiano Conca.
  • A chama interior de devoção em São Filipe era tão intensa, que ele às vezes desmaiava por causa dela, ou se via forçado a meter-se na cama, como que adoentado pelo amor divino.
  • Quando era jovem, às vezes sentia esse divino fervor com tanta veemência, que não podia conter-se, lançando-se no chão como que em agonia e clamando: “Basta, Senhor, basta!” 
  • O que São Paulo diz de si mesmo parece ter-se cumprido também em Filipe: “Estou cheio de consolação, inundado de alegria” (2Cor 7, 4). 
  • Embora gozasse tal consolo, costumava dizer que queria servir a Deus não por interesse, isto é, porque lhe era prazeroso, mas por puro amor, ainda que não sentisse gratificação nenhuma em amá-lo. 
  • Ainda leigo, comungava todas as manhãs. Já velho, tinha êxtases frequentes durante a Missa. 
  • Por isso é costume ver São Filipe pintado com seus paramentos vermelhos, para lembrar seu ardente desejo de derramar o próprio sangue por amor a Cristo. 
  • Era tão devoto de seu Senhor e Salvador, que estava sempre a pronunciar o nome de Jesus com indizível doçura. Sentia também um prazer extraordinário em recitar o Credo, e tinha tanto carinho ao Pai-nosso, que se detinha em cada pedido como se nunca fosse passar ao próximo. 
  • Tinha uma tal devoção ao Santíssimo Sacramento, que, quando caía doente, não podia dormir antes de comungar. 
  • Quando lia ou meditava sobre a Paixão, via-se-lhe o rosto empalidecer como cinzas e os olhos cheios de lágrimas. 
  • Quando um dia caiu enfermo, trouxeram-lhe algo para beber. Ele pegou o copo, mas, ao aproximá-lo da boca, parou e começou a lamentar amargamente: “Oh! meu Cristo, vós passastes sede na cruz, mas não lhe deram de beber senão vinagre e fel! E eu, aqui na cama, com tantas comodidades à minha volta, e com tantas pessoas a me assistir!…”
  • Seja como for, Filipe não fazia muito caso dessa sua delicadeza de sentimentos, pois dizia que emoção não é devoção, que lágrimas não significam que o homem está na graça de Deus e que não devemos supor que alguém é santo só porque chora quando fala de religião. 
  • Filipe era tão devoto da Virgem Maria, que sempre lhe trazia o nome nos lábios. Ele rezava duas jaculatórias em honra dela. A primeira: “Virgem Maria, Mãe de Deus, rogai por mim a Jesus”; a outra: simplesmente “Virgem Mãe”, pois dizia que nestas duas palavras estão contidos todos os louvores possíveis a Maria.
  • Tinha também particular devoção a Santa Maria Madalena, em cuja vigília nasceu, e aos Apóstolos São Tiago e São Filipe; também por São Paulo Apóstolo e por Santo Tomás de Aquino, Doutor da Igreja.

Oração. — Filipe, meu glorioso padroeiro, obtende-me uma parte deste dom que tão abundantemente tivestes. Ai! o vosso coração ardia de amor, enquanto o meu é frio a Deus e vive apenas para as criaturas. Amo o mundo, o qual nunca me fará feliz; meu maior desejo é viver bem aqui embaixo!… Ó meu Deus, quando hei de aprender a não amar nada senão a vós? Alcançai-me, ó Filipe, um amor puro, um amor forte, um amor eficaz, de modo que, amando a Deus aqui na terra, possa eu gozar para sempre no céu de sua face, junto de vós e de todos os santos.

3.º dia (19 de maio) — A oração de São Filipe

  • Desde a juventude o servo de Deus dedicou-se intensamente à oração até adquirir tal hábito dela, que, onde quer que estivesse, sua mente estava sempre elevada às coisas celestes.
  • Às vezes esquecia-se de comer; às vezes, quando estava se vestindo, parava de fazê-lo porque o pensamento o levava para o céu, com os olhos abertos mas distraído de todas as coisas ao redor dele.
  • São Filipe tinha mais facilidade para pensar em Deus do que os homens para pensar no mundo.
  • Se alguém entrasse no quarto dele de repente, muito provavelmente o veria tão absorto na oração, que, se lhe fosse dirigida a palavra, não dava a resposta correta e tinha de dar uma ou duas voltas no cômodo antes de recobrar a consciência.
  • Bastava entregar-se ao hábito da oração no mais superficial para perder-se imediatamente na contemplação.
  • Era necessário distraí-lo para que esse contínuo esforço mental não lhe prejudicasse a saúde.
  • Antes de realizar qualquer trabalho, por trivial que fosse, sempre rezava; quando lhe perguntavam algo, só respondia depois que estivesse recolhido. 
  • Começava a rezar quando se deitava para dormir e tão-logo acordava; geralmente não dormia mais do que quatro horas ou, quando muito, cinco.
  • Às vezes, se alguém desse algum sinal de que havia observado São Filipe indo deitar-se tarde ou acordando cedo para rezar, o santo dizia: “O paraíso não é para preguiçosos”.
  • Ele se empenhava na oração além do ordinário nas festas mais solenes ou num período de necessidades espirituais urgentes, sobretudo na Semana Santa. 
  • Aconselhava os que não conseguiam meditar longamente a elevar a mente em orações jaculatórias como: “Jesus, aumentai a minha fé”; “Jesus, permiti que eu jamais vos ofenda.”
  • São Filipe deu início à oração em família em muitas das principais casas de Roma.
  • Quando um de seus penitentes lhe pediu que o ensinasse a rezar, respondeu: “Sê humilde e obediente, e o Espírito Santo te ensinará.”
  • Tinha particular devoção à Terceira Pessoa da Santíssima Trindade, e derramava diante dela as mais ferventes orações para pedir dons e graças.
  • Certa vez, passava a noite em oração nas catacumbas quando ocorreu um grande milagre: a divina presença do Espírito Santo desceu sobre ele sob a aparência de uma bola de fogo, entrando em sua boca e alojando-se em seu peito. Desde então, passou a ter uma palpitação sobrenatural no coração. 
  • Costumava dizer que, se as nossas orações estão prestes a ser atendidas, não devemos abandoná-las, mas rezar com o mesmo fervor de antes.
  • Aos iniciantes recomendava particularmente que meditassem sobre os Novíssimos e costumava dizer que aqueles que não descem ao inferno por pensamento e temor nesta vida correm grande risco de ir para lá quando morrerem. 
  • Quando desejava mostrar a necessidade da oração, dizia que um homem que não reza é um animal sem razão.
  • Muitos dos seus discípulos progrediram muito no exercício da oração — não somente religiosos, mas também leigos, artesãos, comerciantes, médicos, advogados e cortesãos — e tornaram-se homens de oração em grau tão elevado, que receberam favores extraordinários de Deus.

Oração. — Filipe, meu santo padroeiro, ensinai-me com o vosso exemplo e por meio das vossas intercessões a graça de buscar meu Senhor e Deus a todo momento e em todos os lugares, e de viver em sua presença numa relação sagrada. Assim como os filhos deste mundo olham para os ricos e os homens de boa posição para lhes pedir os favores que desejam, que eu possa sempre elevar meus olhos, minhas mãos e meu coração para o céu e refugiar-me na Fonte de todo o bem para pedir os bens de que necessito. Assim como os filhos deste mundo conversam com os amigos e neles se aprazem, que eu possa sempre estar em comunhão com os santos e anjos, e com a Santíssima Virgem, Mãe do meu Senhor. Rezai comigo, São Filipe, como rezastes com os vossos penitentes aqui na terra, e então a oração se me fará doce como se fez a eles.

4.º dia (20 de maio) — A pureza de São Filipe

“Pintura de São Filipe Néri”, por Sebastiano Conca.
  • Sabendo o quanto Deus se agrada com a pureza de coração, tão-logo São Filipe chegou à idade da razão e adquiriu a capacidade de discernir o bem do mal, começou a guerrear contra os males e as sugestões do inimigo, e jamais descansava até sair vitorioso. Desse modo, apesar de ter vivido no mundo quando jovem e ter conhecido todo tipo de gente, sua virgindade ficou imaculada naqueles perigosos anos da vida.
  • Jamais se escutou de seus lábios palavra alguma que ofendesse a mais severa modéstia, e no modo de se vestir, na postura e no semblante manifestava a mesma bela virtude.
  • Certo dia, quando ainda era leigo, alguns libertinos o tentaram descaradamente a pecar. Quando percebeu que seria impossível fugir, começou a falar com eles sobre o quão terrível é o pecado e terrível a presença de Deus. Ele o fez com tanta angústia, sinceridade e fervor, que suas palavras perfuraram como espada aqueles corações abandonados, e ele não apenas persuadiu-os a renunciar ao terrível pensamento como os resgatou de seus hábitos viciosos.
  • Noutra ocasião, alguns homens maus, acostumados a pensar serem melhores que todos, valeram-se de algum pretexto para receber São Filipe em casa por acreditarem que ele não era aquilo que o mundo dizia dele; então, após terem se apossado dele, puseram-no à força diante de uma grande tentação. São Filipe, em apuros, vendo que as portas estavam fechadas, ajoelhou-se e começou a rezar a Deus com um fervor tão impressionante e com uma eloquência celeste tão profunda, que os dois miseráveis que estavam no cômodo não ousaram dirigir-lhe palavra e, ao fim e ao cabo, deixaram-no e mostraram-lhe o caminho para fugir.
  • Sua pureza virginal destacava-se no semblante. Os olhos eram tão claros e luminosos, que nenhum pintor jamais conseguiu dar-lhes expressão, e não era fácil para ninguém fitá-lo por um longo período, pois ele deslumbrava como um anjo do Paraíso. 
  • Mesmo em idade avançada, seu corpo exalava uma fragrância que, apesar da decrepitude da velhice, revigorava os que estavam por perto. Muitos diziam sentir a devoção ser-lhes infundida ao simples cheiro de suas mãos. 
  • O mau odor do vício oposto não era para o santo mera figura de linguagem, mas uma realidade, de modo que conseguia detectar as almas obscurecidas por ele; e costumava dizer que era tão horrível, que nada no mundo se lhe podia igualar além do próprio Maligno. Antes que seus penitentes começassem a confissão, às vezes lhes dizia: “Ó meu filho, já sei quais são os teus pecados.”
  • Muitos admitiam ser imediatamente libertos das tentações quando ele lhes impunha as mãos sobre a cabeça. A mera alusão ao nome dele tinha o poder de proteger contra Satanás os que eram atacados com os seus dardos de fogo. 
  • Ele exortava os homens a jamais confiarem em si mesmos, qualquer que fosse o conhecimento que tinham de si, ou por mais longos que fossem seus hábitos de virtude.
  • Costumava dizer que a humildade era a verdadeira guardiã da castidade, e que a falta de piedade para com o próximo era um presságio de uma rápida queda. Quando encontrava um homem censurador, seguro de si e sem temor, dava-o como perdido. 

Oração. — Filipe, meu glorioso padroeiro, que com tanto zelo sempre guardastes imaculado o lírio branco de vossa pureza, a ponto de a majestade dessa justa virtude irradiar dos vossos olhos, brilhar em vossas mãos e ser fragrante em vosso hálito; obtende-me este dom do Espírito Santo: que jamais deixem qualquer impressão em minha alma nem as palavras nem os exemplos dos pecadores. E como o meu terrível inimigo deve ser subjugado por meio da fuga das ocasiões de pecado, da oração e da constante busca por estar ocupado, obtende-me a graça de perseverar nessas práticas necessárias.

5.º dia (21 de maio) — A ternura de coração de São Filipe

  • Filipe não suportava ver o menor sinal de sofrimento. Embora detestasse as riquezas, sempre desejava ter dinheiro para dar esmola.
  • Não suportava ver crianças pobremente vestidas e fazia tudo o que estivesse ao seu alcance para conseguir roupas novas para elas.
  • Preocupavam-no particularmente o sofrimento e a opressão dos inocentes. Quando um cavalheiro romano foi preso, acusado falsamente de ter matado um homem, chegou a apresentar a causa dele ao Papa, obtendo-lhe assim a libertação. 
  • Um sacerdote fora acusado por homens influentes e provavelmente sofreria por causa disso. São Filipe saiu em defesa dele com tanto entusiasmo, que demonstrou sua inocência ao público.
  • Noutra ocasião, ao ouvir falar de uns ciganos condenados a trabalhos forçados, foi ao Papa e obteve-lhes a liberdade. O amor dele à justiça era tão grande quanto sua ternura e compaixão. 
  • Logo após sua ordenação sacerdotal houve uma fome severa em Roma, e seis pães foram-lhe enviados em presente. Sabendo que na mesma casa se encontrava um pobre estrangeiro que sofria pela falta de comida, deu-lhe todos os pães, não tendo nada além de azeitonas para comer no primeiro dia.
  • São Filipe tinha um carinho especial pelos artesãos e pelos que tinham dificuldade em vender seus bens. Havia dois relojoeiros, artistas habilidosos mas velhos e sobrecarregados com a numerosa família. Encomendou-lhes vários relógios e encontrou uma maneira de vender todos a seus amigos. 
  • O zelo e a liberalidade dele resplandeciam diante de meninas pobres. Ele as sustentava quando não tinham outro meio de provisão. Encontrava dotes matrimoniais para algumas delas; a outras dava o que era suficiente para ser admitidas em conventos.
  • Era particularmente bondoso com os prisioneiros, a quem enviava dinheiro várias vezes na semana.
  • Não punha limites à afeição pelos pobres acanhados e modestos, e era mais generoso com eles nas esmolas.
  • Os estudantes pobres eram outro objeto de excepcional compaixão. Dava-lhes não só comida e vestuário, mas livros de estudo. Chegou a vender todos os seus livros para ajudar um deles.
  • Era muito sensível a qualquer gentileza que se lhe fizesse, de modo que um de seus amigos pôde dizer: “Não era possível presentear Filipe sem receber dele outro presente com o dobro do valor.”
  • Era muito carinhoso com os animais. Ao ver alguém pisar uma lagartixa, exclamou: “Cruel! Que te fez este pobre animal?”
  • Ao ver um açougueiro ferir um cão com uma faca, não conseguiu conter-se e teve grande dificuldade para se manter calmo.
  • Não suportava o menor sinal de crueldade contra animais sob qualquer pretexto. Quando um pássaro lhe entrava no quarto, abria a janela para que não fosse capturado.

Oração. — Filipe, meu glorioso advogado, ensinai-me a olhar para todas as coisas ao meu redor como criaturas de Deus e segundo o vosso modelo. Não permitais que me esqueça que o Deus que me criou é o mesmo que criou o mundo inteiro, todos os homens e animais que nele habitam. Alcançai-me a graça de amar todas as obras de Deus por amor a Ele, e todos os homens por amor ao meu Senhor e Salvador, que os redimiu na cruz. E, principalmente, permiti-me ser carinhoso, compassivo e amável com todos os cristãos, meus irmãos na graça. Vós, que na terra fostes tão carinhoso com todos, sede particularmente carinhoso conosco; senti e suportai conosco todos os nossos problemas e obtende-nos de Deus, com quem habitais na luz beatífica, todos os auxílios necessários para sermos levados com segurança a Ele e a vós.

6.º dia (22 de maio) — A alegria de São Filipe

  • Filipe acolhia com particular bondade os que lhe pediam conselho, e apesar de serem estranhos, recebia-os com tanta afeição como se os esperasse há muito. Quando havia motivo para se alegrar, alegrava-se; quando devia sentir compaixão pelos aflitos, estava igualmente pronto a senti-la. 
  • Às vezes deixava as orações para ir brincar e gracejar com jovens, e ganhava-lhes a alma por meio da doçura, da condescendência e da conversa divertida.
  • Não suportava ver ninguém abatido ou pensativo, porque isso sempre faz mal à espiritualidade. Quando via alguém de semblante sério e triste, costumava dizer: “Sê feliz!” Tinha verdadeira predileção pelas pessoas alegres.
  • Ao mesmo tempo, era inimigo de qualquer coisa que se assemelhasse à grosseria e à estultice, pois um espírito irreverente não só não progride como arranca da alma o que já foi plantado.
  • Certa vez, devolveu a alegria ao Padre Francesco Bernardi, membro da Congregação do Oratório, apenas por convidá-lo para correrem juntos: “Vamos correr juntos agora!”
  • Seus penitentes ficavam tão alegres quando estavam em seu quarto, que costumavam dizer que o quarto de Filipe não é um cômodo, mas um Paraíso terreno. 
  • Outros viam-se libertos de todos os seus problemas pelo simples fato de permanecerem à porta do quarto dele, sem entrar. Outros recuperavam a paz de espírito simplesmente fixando os olhos em seu rosto. Muitos eram consolados ao sonhar com ele. Numa palavra, São Filipe era um consolo perpétuo para os que sofriam com dúvidas e com a tristeza.
  • Ninguém jamais viu São Filipe triste. Quem o buscava sempre o achava de semblante alegre e sorridente, mas sem perder a seriedade. 
  • Se caía doente, consolava mais do que era consolado. Ninguém jamais o ouviu alterar a voz como fazem os inválidos, mas falava no mesmo tom de voz como se estivesse bem. Certa vez, quando os médicos haviam desistido dele, disse com o salmista: Paratus sum et non sum turbatus (“Estou pronto e não estou perturbado”). Recebeu a Extrema-Unção quatro vezes, mas com o mesmo rosto calmo e alegre de sempre.

Oração. — Filipe, meu glorioso advogado, que sempre seguistes os preceitos e exemplos do Apóstolo São Paulo, alegrando-se em todas as coisas: obtende-me a graça da perfeita resignação à vontade de Deus, da indiferença aos assuntos deste mundo e uma constante visão do Céu; para que eu jamais me sinta desapontado com a Providência divina, nem desanimado, triste ou mal-humorado; a fim de que o meu semblante esteja sempre aberto e alegre, as minhas palavras sejam gentis e agradáveis, como sucede a todos os que, em qualquer estado de vida, têm o maior de todos os bens, o favor de Deus e a esperança da felicidade eterna.

7.º dia (23 de maio) — A paciência de São Filipe

São Filipe Néri, retratado por Carlo Dolci.
  • Por muitos anos, São Filipe foi alvo de piadas por parte de parasitas palacianos da nobreza romana, que diziam dele quanto de mal lhes vinha à mente, porque não gostavam de ver um homem virtuoso e responsável.
  • O falatório sarcástico contra ele durou tantos anos, que se estendeu por Roma. Em todas as lojas e casas de contabilidade os preguiçosos e maldosos não faziam nada senão ridicularizar Filipe. 
  • Quando lançavam contra ele alguma calúnia, não lhe dava a menor importância, e com bastante calma contentava-se em simplesmente sorrir.
  • Certa vez, o empregado de um cavalheiro começou a maltratá-lo com tanta insolência, que uma pessoa de respeito — testemunha do insulto — estava a ponto de o agarrar; mas ao ver a gentileza e a satisfação de São Filipe, conteve-se, e desde então o considerou um santo. 
  • Às vezes seus filhos espirituais, e até os que estavam sob as maiores obrigações para com ele, tratavam-no como se fosse um rude e tolo, mas ele não demonstrava qualquer ressentimento. 
  • Certa vez, quando era superior da Congregação, um de seus subordinados arrancou-lhe uma carta da mão; mas o santo recebeu a afronta com incomparável brandura, sem mostrar a menor emoção nem pelo olhar, por palavras ou por gestos. 
  • A paciência se tornara nele um hábito tão perfeito, que jamais o viram afetado pelas paixões. Reprimia o rancor já nos primeiros movimentos. Seu semblante se acalmava instantaneamente e assumia novamente o sorriso modesto de costume.

Oração. — Filipe, meu santo advogado, que suportastes perseguição e calúnia, dor e doença com tão admirável paciência: obtende-me a graça da verdadeira fortaleza em todas as provações da vida. Ai de mim! Como preciso de paciência! Recuo ante o menor inconveniente; aborreço-me com a mais leve aflição; irrita-me a mais superficial contrariedade; agito-me inquieto com o menor sofrimento do corpo. Obtende-me a graça de aceitar com sincera boa vontade todas as cruzes que eu venha a receber do Pai celeste. Que eu vos possa imitar como vós imitastes o meu Senhor e Salvador, para que, assim como alcançastes o Céu por meio da aceitação serena da dor física e mental, também eu possa conquistar o mérito da paciência e a recompensa da vida eterna.

8.º dia (24 de maio) — A preocupação de São Filipe com a salvação das almas

  • Ainda jovem sacerdote, tendo reunido certo número de pessoas espirituais, desejava ir com elas para a Índia (onde São Francisco Xavier estava empenhado em sua bela carreira), a fim de pregar o Evangelho aos pagãos, e só desistiu da ideia por obediência aos santos homens a quem pediu conselho.
  • Quanto aos maus cristãos no lar, desejava tão ardentemente a conversão deles, que mesmo em idade avançada aplicava-se graves mortificações em proveito deles, e chorava pelos pecados deles como se fossem seus.
  • Quando era leigo, converteu trinta jovens libertinos num único sermão.
  • Com a graça de Deus, conseguiu trazer de volta aos caminhos da santidade um número quase infinito de pecadores. Na hora da morte, muitos clamavam: “Bendito seja o dia que conheci o Padre Filipe!” Outros diziam: “Padre Filipe atraía almas como o ímã atrai o ferro.”
  • Com o fito de cumprir o que julgava ser sua missão particular, dedicava-se unicamente a ouvir confissões, excluindo todas as outras ocupações. Antes do nascer do sol, costumava confessar um bom número de penitentes no próprio quarto. Dirigia-se à igreja na aurora e não saía de lá antes do meio-dia, exceto para celebrar Missa. Se não houvesse penitentes, ficava perto do confessionário, lendo, rezando o Ofício ou o Terço. Se estivesse em oração ou em refeição, interrompia imediatamente o que estava fazendo quando chegavam os penitentes.
  • Só deixava de escutar confissões por causa de alguma doença, e quando o médico o proibia de fazê-lo.
  • Pela mesma razão, mantinha aberta a porta do quarto para que pudesse ver todos os que passassem por ele.
  • Tinha particular inquietação com relação aos meninos e rapazes. Preocupava-se em mantê-los sempre ocupados, pois sabia que a ociosidade é a fonte de todo mal. Às vezes inventava tarefas para eles, quando não encontrava nenhuma outra.
  • Deixava que armassem ao seu redor qualquer gritaria que lhes agradasse, se com isso os mantivesse longe da tentação. Quando um amigo se queixou dele por deixar que o atrapalhassem tanto, respondeu: “Contanto que não pequem, podem até cortar madeira nas minhas costas”.
  • Os dominicanos permitiam a seus noviços participar com ele da recreação. Filipe costumava alegrar-se ao vê-los em sua refeição de férias. Dizia: “Meus filhos, comei sem escrúpulos. Eu me encarrego de engordar por vós”. Terminado o jantar, fazia-os sentar à roda de si, contava-lhes os segredos de seus corações, dava-lhes bons conselhos e os exortava a viver segundo a virtude.
  • Tinha uma capacidade notável de consolar os doentes e libertá-los das tentações com que o demônio os assaltava.
  • Ao zelo pela conversão das almas São Filipe sempre acrescentava o exercício dos atos de misericórdia corporal. Visitava doentes nos hospitais, servia-os em todas as suas necessidades, fazia a cama deles, varria o chão e dava-lhes de comer.

Oração. — Filipe, meu santo patrono, que fostes tão cuidadoso com as almas de vossos irmãos e particularmente com o vosso povo, quando estivestes na terra: não sejais negligente com eles agora que estais no céu. Permanecei conosco, que somos filhos e devotos vossos. Pelo vosso grande poder junto de Deus e por vossa clarividência sobre nossas necessidades e perigos, guiai-nos no caminho que leva a Deus e a vós. Sede-nos pai bondoso, fazei nossos sacerdotes irrepreensíveis e além de qualquer censura ou escândalo; tornai nossas crianças obedientes; nossos jovens, prudentes e castos; nossos chefes de família, sábios e gentis; e nossos idosos, alegres e fervorosos. Por vossa poderosa intercessão, aumentai-nos a fé, a esperança, a caridade e todas as virtudes.

9.º dia (25 de maio) — Os milagres de São Filipe 

“A Madonna e o Menino aparecendo a São Filipe Néri”, por Giovanni Battista Piazzetta.
  • As virtudes de S. Filipe, grandes e sólidas, foram coroadas pela Majestade divina com vários e extraordinários favores, que ele em vão procurava esconder por meio de todos os artifícios.
  • Deus se comprazia em permitir que ele penetrasse seus inefáveis mistérios e conhecesse suas maravilhosas providências por meio de êxtases, arrebatamentos e visões, que ocorreram com frequência durante toda a sua vida.
  • Certa manhã, um amigo foi-se confessar com ele e, ao abrir a porta do quarto, viu o santo em oração, de pés, com os olhos voltados para o céu e as mãos estendidas. Ficou parado algum tempo a observá-lo e em seguida aproximou-se para falar-lhe, mas o santo nem mesmo o percebeu. Permaneceu assim abstraído mais oito minutos, e só então voltou a si.
  • Recebera o consolo de enxergar em visão as almas de muitas pessoas, particularmente as de seus amigos e penitentes, irem para o Céu. De fato, os que dele eram íntimos davam por certo que nenhum de seus filhos espirituais morreria sem que ele se certificasse do estado de suas almas.
  • Por causa de sua santidade e experiência, São Filipe era capaz de distinguir entre visões verdadeiras e falsas. Alertava com sinceridade para que ninguém se deixasse enganar, o que era muito fácil e provável.
  • São Filipe sobressai entre os santos por seus dons de predição e leitura dos corações. Os exemplos poderiam encher vários volumes. Predisse a morte de alguns, a recuperação de outros, o futuro de uns, o nascimento de filhos de quem não os tinham, quem seria Papa antes de ser eleito… Tinha o dom de ver coisas à distância e sabia o que estava acontecendo na mente de seus penitentes e de outros à sua volta.
  • Sabia se os penitentes haviam feito suas orações e durante quanto tempo estavam rezando. Muitos deles, quando se viam na iminência de conversar sobre algo menos honesto, diziam: “Temos de parar, pois São Filipe ficará sabendo”. 
  • Certa vez, uma mulher o procurou para se confessar, mas o que desejava na verdade era esmola. Ele disse: “Em nome de Deus, boa mulher, vai embora; não há pão para ti” — e nada poderia fazê-lo ouvir a confissão dela.
  • Um homem foi-se confessar com ele, mas tremia em vez de falar e, quando interrogado, disse: “Estou envergonhado”, pois havia cometido um pecado terrível. São Filipe disse calmamente: “Não tenhas medo; eu te direi o que foi” — e contou-lhe, para espanto do penitente.
  • Tais exemplos são inumeráveis. Não havia uma única pessoa íntima de São Filipe que não afirmasse que ele conhecia os segredos do coração da forma mais espantosa.
  • Também foi esplêndido em sua capacidade de curar e devolver a saúde. Aliviava a dor com o toque da mão e o sinal da cruz. Da mesma forma, curava doenças instantaneamente, ora rezando, ora mandando as doenças irem embora.
  • Era este um dom tão conhecido, que os doentes se apossavam de oupas, sapatos e pedaços de cabelo do santo, por meio dos quais Deus operava milagres.

Oração. — Filipe, meu santo patrono, as feridas e doenças da minha alma são maiores do que as do corpo, e estão além da cura, mesmo com o vosso poder sobrenatural. Sei que o meu Senhor todo-poderoso reserva para suas próprias mãos a faculdade de curar a alma da morte e de todas as enfermidades. Mas vós podeis fazer agora mais pelas nossas almas, graças às vossas orações, meu querido santo, do que fizestes outrora pelos corpos dos que vos pediram auxílio quando estivestes na terra. Rogai por mim, para que o divino Médico da alma, o único que lê perfeitamente meu coração, o limpe completamente, e para que eu e todos os que me são caros possam ser limpos dos pecados; e como todos nós devemos morrer, que morramos como vós, na graça e no amor de Deus e com a garantia da vida eterna.

Ladainha de São Filipe

Senhor, tende piedade de nós.
Cristo, tende piedade de nós.
Senhor, tende piedade de nós.

Jesus Cristo, ouvi-nos.
Jesus Cristo, atendei-nos.

Deus Pai do céu, tende piedade de nós.
Deus Filho, Redentor do mundo, tende piedade de nós.
Deus Espírito Santo, tende piedade de nós.
Santíssima Trindade, que sois um só Deus, tende piedade de nós.
Santa Maria, rogai por nós.
Santa Mãe de Deus, rogai por nós.
Santa Virgem das Virgens, rogai por nós.

São Filipe, rogai por nós.
Vaso do Espírito Santo,
Filho de Maria,
Apóstolo de Roma,
Conselheiro de Papas,
Voz de Profecia,
Homem dos tempos antigos,
Santo amável,
Herói escondido,
Pai suavíssimo,
Flor da pureza,
Mártir da caridade,
Coração de fogo,
Discernidor de espíritos,
Gema dos sacerdotes,
Espelho da vida divina,
Modelo de humildade,
Exemplo de simplicidade,
Luz da santa alegria,
Imagem da infância,
Retrato da idade madura,
Diretor de almas,
Pescador dos oscilantes,
Gentil guia da juventude,
Patrono dos vossos, rogai por nós.

Que observastes a castidade em vossa juventude, rogai por nós.
Que buscastes Roma pela orientação divina,
Que vos escondestes por tanto tempo nas catacumbas,
Que recebestes o Espírito Santo no coração,
Que experimentastes tantos êxtases maravilhosos,
Que servistes com tanto amor os pequeninos,
Que lavastes os pés aos peregrinos,
Que desejastes o martírio ardentemente,
Que distribuístes a palavra diária de Deus,
Que fizestes tantos corações se voltarem para Deus,
Que conversastes tão docemente com Maria,
Que ressuscitastes os mortos,
Que erguestes vossas casas em todas as terras, rogai por nós.

Cordeiro de Deus, que tirais os pecados do mundo, perdoai-nos, Senhor.
Cordeiro de Deus, que tirais os pecados do mundo, ouvi-nos, Senhor.
Cordeiro de Deus, que tirais os pecados do mundo, tende piedade de nós.

℣. Rogai por nós, São Filipe,
℟. Para que sejamos dignos das promessas de Cristo.

Oremos. — Ó Deus, que exaltastes o bem-aventurado Filipe, vosso Confessor, à glória dos vossos santos: concedei que, enquanto nos alegramos com sua memória, possamos nos beneficiar com o exemplo de suas virtudes. Por Cristo, nosso Senhor. Amém.

Referências

  • O texto original da novena encontra-se em: Meditations and Devotions (ed. Rev. W.P. Neville). Longmans, Green, and Co., 1907, p. 89ss. A tradução que fizemos da ladainha de São Filipe Néri leva em conta tanto o original latino quanto a versão inglesa do Cardeal Newman.

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