Recentemente, conversei com um de meus confrades capuchinhos que acabara de regressar de uma visita à sua família. Ele contou que havia vários gambás na casa de sua irmã. Esses pequenos animais podem ser bastante fofos, mas são também conhecidos por sua capacidade de liberar um líquido com um odor forte e desagradável. Deus, em sua providência, de uma forma que só Ele poderia ter concebido engenhosamente, deu aos gambás essa capacidade como proteção contra predadores. Meu confrade contou, então, que o cachorro de sua irmã tinha acabado de ser vítima desse mecanismo de defesa. Só depois de três banhos é que o bicho ficou livre do horrível cheiro.

Ao fazer uma pesquisa online sobre gambás, encontrei um relato fascinante de um jesuíta que havia chegado ao que são, hoje, os Estados Unidos e o Canadá. Ele estava impressionado com todas as novas e variadas espécies de animais que encontrara, pois elas não existiam na Europa. Um desses animais era o gambá.

“Gambá malhado”, por Louis Agassiz Fuertes.

Em 1634, ele escreveu em The Jesuit Relations (“Relatos Jesuíticos” — registros enviados à França sobre as experiências dos jesuítas no Novo Mundo) que havia um “animal pequeno, do tamanho de um cãozinho ou gato. Menciono-o aqui, não por causa da sua excelência, mas para transformá-lo num símbolo do pecado”. Ele prossegue descrevendo a aparência de um gambá e conclui observando o quão fétido ele é:

Nenhum esgoto jamais fedeu tanto quanto o cheiro exalado por esse animal. Eu não teria acreditado se não tivesse sentido o odor com as minhas próprias narinas. O coração quase para quando nos aproximamos do animal. Dois foram mortos em nosso pátio e, vários dias depois, havia um cheiro tão horrível em toda a nossa casa, que não conseguíamos suportar. Creio que o cheiro do pecado que Santa Catarina de Sena sentiu deve ter sido tão repugnante quanto esse.

Portanto, o jesuíta faz duas observações sobre os gambás. Primeiro, compara o odor exalado por eles com o do pecado. Depois, compara o cheiro de um gambá com a experiência de Santa Catarina de Sena (falecida em 1380) — sua capacidade de “sentir o odor” do pecado.

Essa informação me levou de volta à internet. Descobri que Santa Catarina relatou ao seu confessor, Raimundo de Cápua, que “o odor do pecado” era tão forte em algumas das pessoas que a procuravam, que ela não conseguia suportá-lo. Literalmente, ela reconhecia um pecador pelo cheiro.

A capacidade de sentir o odor do pecado não é incomum nos santos. Padre Pio, por exemplo, ao ouvir confissões, conseguia sentir o odor do pecado mortal. Há relatos de que tais pecados tinham um cheiro “pútrido”, “fétido”, semelhante ao de um “cadáver em decomposição”. Por outro lado, quando os penitentes faziam uma confissão honesta e contrita, Padre Pio sentia o aroma de flores. Era uma manifestação do “odor da santidade”, uma doce fragrância de rosas, violetas ou jasmim. Assim, apesar de os pecadores terem cheiro de gambá, os que estão em estado de graça exalam santidade.

Santa Teresinha do Menino Jesus após a morte, pintada por sua irmã Celina.

Por exemplo, há relatos de que Santa Teresa de Lisieux, a florzinha do Carmelo, exalava um aroma de rosas, especialmente após a sua morte. Da mesma forma, o corpo de Santa Teresa d’Ávila exalava um perfume doce que preencheu o seu mosteiro quando ela faleceu. E, de forma semelhante, muitas testemunhas relataram que São Pio de Pietrelcina, em vida, exalava um aroma de flores ou incenso, que emanava principalmente dos seus estigmas.

Embora o odor da santidade tenha se tornado especialmente evidente após a morte dos santos acima mencionados, ele estava presente neles ainda em vida, pois foi em vida que eles se santificaram. A evidência dessa santidade tornou-se inequívoca após as suas mortes envoltas em perfume.

Esses fenômenos profundamente marcados pela graça remontam a Cristo ressuscitado. Quando Jesus foi ressuscitar seu amigo Lázaro, Marta observou que, como ele estava morto há quatro dias, o cheiro seria desagradável. Se esse episódio tivesse acontecido na América do Norte, ela poderia ter dito que Lázaro cheiraria a gambá. Porém, Marta se esquecera das palavras de Jesus: “Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que morra, viverá; e quem vive e crê em mim nunca morrerá” (Jo 11, 25-26).

A ressurreição de Lázaro foi uma antecipação profética da própria morte e ressurreição de Jesus. Ao morrer na Cruz, Ele derrotou a morte e, ao ressuscitar gloriosamente dos mortos, deu-nos a vida eterna. O odor fétido do pecado e da morte foi substituído pelo perfume da vida eterna.

São Paulo disse aos coríntios:

Mas, graças a Deus, que nos faz sempre triunfar em Jesus Cristo e que por nosso meio difunde o odor do seu conhecimento em todo o lugar, porque somos diante de Deus o bom odor de Cristo, nos que se salvam e nos que perecem: para uns, odor de morte, para sua morte; para outros, odor de vida, para sua vida (2Cor 2, 14-16).

Por meio de seus ensinamentos e estilo de vida, os cristãos espalham a fragrância do Jesus vivo a todos que se salvam. Eles não são como os gambás, pois irradiam o aroma de Cristo em todo o mundo e por toda a eternidade. Essa fragrância impregnada de Cristo também se espalha entre os que estão perecendo.

No entanto, no caso daqueles que estão a caminho de uma morte marcada pelo pecado, essa fragrância é um sinal de sua condenação eterna. Aquilo que é perfume de vida santificada para quem viverá eternamente, é odor desagradável para aqueles que aguardam as chamas eternas do Inferno — estes sempre terão o odor de um animal em decomposição.

É aí que vemos a importância do Purgatório. Aqueles que lá se encontram estão sendo purificados do odor desagradável do pecado e estão assumindo o aroma do Jesus vivo, em quem habitarão como filhos do Pai transformados pelo Espírito.


Fr. Thomas G. Weinandy, OFM Cap., autor deste texto, é teólogo renomado, escritor prolífico e membro da Comissão Teológica Internacional. Seu artigo foi publicado originalmente no site The Catholic Thing.

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