Até o século VI, os Papas não mudavam de nome. Ao assumirem a cátedra de São Pedro, mantinham todos o nome de batismo.

Até que escolheram para ser Papa um homem chamado Mercúrio. Achando, então, que não convinha ao vigário de Cristo ostentar o nome de um deus pagão, Mercúrio tornou-se João II.

Era o ano 533.

Quinhentos anos antes, no entanto, outro Papa teve o seu nome mudado primeiro. E não por decreto seu, mas por vontade de outro.

“Chamado de São Pedro e Santo André”, por Federico Barocci.

Era Simão, pescador da Galileia, a quem Jesus, ainda no primeiro encontro, “fixando nele o olhar, disse: ‘Tu és Simão, filho de João; tu serás chamado Cefas, que quer dizer Pedro ou Pedra’” (Jo 1, 42).

A mudança de nome se dá, efetivamente, quando Simão professa sua fé na divindade de Cristo, e este lhe responde: “Tu és Pedro, e sobre esta pedra eu edificarei a minha Igreja” (Mt 16, 18). 

Pronto: agora Simão não é mais Simão; é Pedro; é a pedra da Igreja de Cristo, é a rocha da Igreja Católica. 

E o que representa essa mudança de nome? 

Significa que o ofício papal é muito maior que o homem escolhido para assumi-lo

De fato, a dignidade desta função exige uma mudança quase tão radical quanto a de um religioso que deixa a vida no século. Assim como monges e frades deixam para trás seus nomes de batismo, o homem que recebe o “anel do pescador” é chamado a renunciar a si mesmo, deixar na praia o seu barco e abandonar as redes… como outro Pedro! 

É por isso que, a partir do dia em que aparece na sacada da Basílica de São Pedro, não é mais Montini ou Wojtyla, Ratzinger ou Bergoglio, que o povo anseia por escutar. Como cantamos no hino pontifício, “a voz de Pedro na tua o mundo escuta”. (Não se esperam do Papa, portanto, palpites pessoais ou opiniões privadas — assim como os primeiros cristãos não esperavam, de Simão, pitacos de pesca.)

O que se espera do Papa é que seja sucessor de Pedro, não de Simão. E que faça aquilo que o próprio Cristo mandou ao príncipe dos Apóstolos: “Confirma teus irmãos” (Lc 22, 32). 

Por isso, mesmo agora, na vacância da Sé Apostólica… “viva o Papa”! Seja qual for o nome assumido pelo próximo Pontífice Romano — Pio ou Bento, João Paulo ou Francisco —, importante mesmo é quem ele representa; e que faça suas aquelas palavras que desde Pedro ecoam pelos séculos

“Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo!”

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