São Jacinto, grande ornamento da célebre Ordem dos Pregadores, nasceu na Polônia, em 1183. Era filho de pais ilustres, que o educaram segundo os preceitos do cristianismo. Durante os anos dedicados aos estudos, foi um exemplo de inocência, piedade e trabalho. Seu tio, o bispo de Cracóvia, nomeou-o cônego de sua catedral, para empregá-lo na administração da Sé. Quando partiu para Roma, por causa de problemas em casa, levou Jacinto consigo.

São Domingos, tão célebre por seu zelo apostólico e pelos milagres que realizou, estava lá, na Cidade Eterna, na mesma época. Jacinto, observando o maravilhoso zelo e a piedade deste santo homem e de seus companheiros, sentiu um profundo desejo de unir-se a eles. Ele e três dos seus companheiros de viagem, que tinham a mesma inclinação, foram até São Domingos e suplicaram-lhe que os recebesse em sua Ordem, recém-fundada. O santo acolheu-os de bom grado e ensinou-os a levar uma vida religiosa, a pregar com espírito cristão e a trabalhar com êxito para o bem-estar espiritual dos homens.

São Jacinto de Cracóvia, em pintura do século XVII.

Passados alguns meses, o santo fundador os impregnara tão profundamente de seu espírito, que não hesitou, depois de terem feito os votos, em enviá-los para sua terra natal, a fim de pregar a palavra de Deus e promover a salvação das almas. 

Em Cracóvia, onde São Jacinto já havia pregado com sua vida edificante, passou a pregar com palavras, e Deus conferiu a ele e aos seus companheiros um poder tão grande, que ele corrigiu os pecadores mais obstinados, induziu outros a se tornarem mais zelosos no serviço ao Todo-Poderoso, e animou todos a serem mais solícitos pela salvação de suas almas. Para que tudo isso tivesse fundamentos mais sólidos, reuniu em torno de si um certo número de colaboradores espirituais e, depois de instruí-los segundo as máximas de São Domingos, fundou um mosteiro dominicano na cidade.

Jacinto, que fora escolhido superior pelos novos membros, era um exemplo para todos. Além dos dias de jejum prescritos por sua Ordem, jejuava a pão e água em todas as sextas-feiras e vigílias. Passava a maior parte da noite em oração fervorosa diante do Santíssimo Sacramento. Só se permitia um breve descanso no chão e flagelava-se severamente todas as noites. Passava o dia inteiro ouvindo confissões, pregando, visitando os doentes e realizando outros exercícios de piedade semelhantes.

Tinha particular devoção pelo Santíssimo Sacramento e pela Santíssima Virgem, e jamais fazia qualquer coisa sem antes oferecer o trabalho a Deus e implorar a assistência de sua Mãe Santíssima. Ela apareceu-lhe uma vez, na véspera da festa da Assunção, dizendo-lhe: “Tem a certeza, meu filho, de que receberás do meu Filho tudo o que pedires.” É fácil imaginar o conforto que estas palavras proporcionaram ao santo homem. Mas ele só pedia o que era necessário à salvação das almas. Seus piedosos trabalhos e os de seu companheiro tinham o mesmo objetivo.

“Aparição da Virgem a São Jacinto”. Pintura do século XVII.

Quando julgou ter estabelecido firmemente os princípios e as práticas religiosas entre os habitantes de Cracóvia e de toda a diocese, Jacinto enviou seus pregadores a diferentes lugares para que trabalhassem da mesma forma. Ele mesmo deixou Cracóvia, e é surpreendente o número de países que percorreu; de conventos para missionários que fundou; e de almas que converteu à verdadeira fé ou a uma vida mais virtuosa. Para auxiliar seus empreendimentos piedosos, Deus lhe deu o poder de operar milagres, e tão grande foi o seu número que ele bem poderia ser chamado de taumaturgo ou milagreiro de sua época.

Um fato miraculoso ocorreu na Rússia, quando os tártaros invadiram Kiev (atual capital da Ucrânia), onde o santo havia fundado uma igreja e um convento. Jacinto estava celebrando a Missa quando os invasores entraram na cidade, devastando tudo ao seu redor. Depois de terminar o santo sacrifício, ainda com os paramentos litúrgicos, ele tomou o cibório com o Santíssimo Sacramento e, pedindo aos seus sacerdotes que o seguissem sem medo, dirigiu-se até a porta da igreja. Ao passar por uma grande imagem da Santíssima Virgem feita de alabastro, diante da qual rezara muitas vezes, ouviu claramente uma voz que lhe dizia: “Meu filho Jacinto, vais deixar-me aqui à mercê dos meus inimigos?” Os olhos do santo encheram-se de lágrimas. “Como te carregarei? O fardo é muito pesado”, disse ele. “Tenta somente! Meu Filho te ajudará a transportar-me sem dificuldade”, foi a resposta.

O santo homem, com os olhos marejados, tomou a imagem e achou-a tão leve que conseguia carregá-la com uma só mão. Assim, levando o cibório em uma das mãos e a imagem na outra, ele e seus companheiros passaram ilesos pelo inimigo até as portas da cidade. Não encontrando lá nenhum soldado, seguiram em frente e chegaram seguros a Cracóvia. Não sabemos se o Todo-Poderoso, naquela ocasião, tornou seus servos invisíveis aos tártaros, ou se de alguma outra forma impediu que estes lhes fizessem mal, mas o fato é que deixaram a cidade sem nenhum incidente.

“São Jacinto salva uma imagem de Maria”. Pintura do século XVII.

Quando Jacinto e seus companheiros chegaram ao rio, no qual não havia ponte nem barco que os conduzisse, o santo, confiando no poder daquele que trazia na mão direita e na intercessão daquela que segurava na esquerda, pisou sem medo na água e atravessou o rio sem se molhar. Um milagre semelhante, e talvez ainda mais admirável, aconteceu em outra ocasião. Ele estava indo para Visegrado com o objetivo de pregar, mas, chegando ao rio, não encontrou embarcação alguma para alcançar a margem oposta. Estendendo seu manto sobre a água, sentou-se nele e foi levado até a outra margem com segurança, levando da mesma forma os seus companheiros. Por meio deste e de muitos outros milagres, já na terra Deus glorificou o seu servo.

Durante quarenta anos esse santo homem havia trabalhado pela salvação das almas, quando, em 1257, recebeu a revelação de que deveria assistir, no Céu, ao triunfo da Santíssima Virgem, na festa de sua gloriosa Assunção. Ele adoeceu no dia da festa de Santa Maria ad Nives. Na véspera da Assunção, deu a última instrução aos sacerdotes de sua Ordem. Em seguida, preparou-se para a festa e, depois de ter recitado o Ofício do dia, fixou os olhos no Céu e rezou o Salmo 30 (In te, Dómine, sperávi); ao pronunciar o versículo: In manus tuas, Dómine, comméndo spíritum meum — “Em tuas mãos, Senhor, entrego o meu espírito”, expirou serenamente, com 74 anos de idade.

A inocência e a castidade que recebeu no momento de seu batismo permaneceram nele intactas até o fim. Após a sua morte, os milagres que o Todo-Poderoso continuou a operar através de Jacinto foram o meio de proclamar a todo o mundo a santidade e os méritos de seu servo bem-aventurado.

Considerações práticas

I. São Jacinto, carregando em uma das mãos o Salvador do mundo e, na outra, a imagem da Santíssima Virgem, passou por seus inimigos ao atravessar a cidade. 

“Milagre de São Jacinto”, por Michel Serre.

Felizes os que levam Jesus e Maria, não só nos lábios, mas também nas mãos! Caminharão sempre seguros no meio dos perigos, sem que os atinjam os inimigos de sua salvação. Alguns levam apenas Maria nos lábios, e não Jesus; demonstram ser “devotos” da Santíssima Virgem recitando certas orações, mas ofendem gravemente a Jesus, o Filho divino de Maria, pensando que sua devoção a Nossa Senhora os protegerá do fogo do Inferno. Terrível engodo de Satanás! É falsa tal devoção à Mãe de Deus, pois, para sermos devotos dela, devemos, acima de tudo, não fazer nada que a desagrade, mas fazer tudo o que é agradável aos seus olhos. Assim como a desagrada a indiferença para com seu divino Filho, que ela ama acima de tudo, como pode alguém esperar salvar-se, se sua devoção consiste apenas em algumas orações ou atos piedosos? Quem assim procede separa Jesus de Maria. 

É preciso levar Jesus e Maria ao mesmo tempo, e não só na boca, mas também nas mãos. Você deve mostrar, por suas obras, que ama os dois de todo o coração. Se você ama Jesus, tome cuidado para não ofendê-lo; se ama Maria, não desperte a ira daquele que é amado por ela acima de todas as coisas. Esta devoção protegerá você de todos os perigos, para sua salvação, e o conduzirá à paz e ao repouso eterno.

II. Ao longo de quarenta anos, São Jacinto dedicou-se exclusivamente à glória de Deus e à salvação das almas. Agora, há mais de quinhentos anos, ele desfruta das alegrias celestes como recompensa por suas fadigas, e gozará delas por toda a eternidade. 

Oh! Como Deus recompensa generosamente os serviços dos seus eleitos! “Se, por cem anos de serviço, Ele concedesse uma hora de felicidade celeste, a recompensa seria grande”, diz São João Crisóstomo. Quão gratos não devemos ficar quando Ele nos promete, como nos ensina a verdadeira fé, uma recompensa eterna no Céu por um serviço tão breve! Quem não serviria, com alegria, um Mestre tão generoso? 

Como são cegos e tolos aqueles que preferem servir a Satanás! Será que o diabo retribui seus servos com mais liberalidade do que Deus? Pergunte aos réprobos; eles lhe responderão. Escute o que o Todo-Poderoso disse outrora sobre a diferença que haverá um dia entre seus servos e os de Satanás, e então decida a qual deles servirá: 

Eis que os meus servos comerão, e vós tereis fome; eis que os meus servos beberão, e vós tereis sede; eis que os meus servos se alegrarão, e vós sereis confundidos; eis que os meus servos cantarão louvores na alegria do seu coração, e vós dareis gritos na dor do vosso coração, uivareis na aflição do vosso espírito (Is 62, 13-14). 

O que isto significa senão: “Os meus servos serão eternamente felizes no Céu, mas vós sereis eternamente infelizes no Inferno”?

Referências

  • Extraído, traduzido e adaptado passim de: Lives of the saints: compiled from authentic sources with a practical instruction on the life of each saint, for every day in the year, v. 2. New York: P. O’Shea, 1876, p. 214ss.

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ML
Marcia Lima
20 Ago 2024

Cada vez que leio sobre os Santos confirmo o quão somos  pecadores e coitados . Senhor eu creio mais aumentai a minha fé e daí me a graça de não mais te ofender 

Responder
SP
Sérvio Puccetti
17 Ago 2024

Muito interessante essa historia. Um santo que realmente procurava o bem de todas as pessoas, e vivia misticamente no espirito divino.

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AN
Aldacy Nascimento
17 Ago 2024

Que exemplo de fe e dedicacao ao ceu que e tudo que importa. 

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AF
Anderson Figueiredo
17 Ago 2024
(Editado)

Simplesmente sensacional. Muito obrigado pela excelente apresentação deste santo que desconhecia. A paz de Cristo e que as graças de nossa mãe santíssima estejam com vocês.

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HB
Herlyck Barbosa
17 Ago 2024
(Editado)

Uma participação de uma fé diante da nossa geração 🖐️ 🙏 de conservação natural que vivemos de ontem até hoje esse tornar cotidiana as versões de lordes de contexto. consequências natural de uma literatura fraterno de uma referência de um só Santo dos Santos .

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RP
Rosane Prestes
16 Ago 2024

Maravilhoso 

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RC
Robson Cola
16 Ago 2024

Mais um grande Santo!

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