A Igreja Católica celebra hoje a dedicação de uma igreja muito notável em Roma, chamada Santa Maria ad Nives — Santa Maria das Neves, ou “Santa Maria Maior”.
Essa igreja tem a seguinte origem: em meados do século IV, no tempo do Papa Libério, residia em Roma um nobre chamado João. Embora fosse rico em bens temporais, era ainda mais rico nos eternos, e sua mulher era igual a ele em nascimento, riqueza e virtude. Já estavam casados há muitos anos e não tinham sido abençoados com filhos, apesar de tê-los pedido muitas vezes a Deus. Por fim, resignaram-se à vontade da Providência e decidiram usar todos os seus bens para honrar a Santíssima Virgem e torná-la herdeira de tudo, pois sempre tiveram grande devoção por ela.
Ainda não sabiam ao certo como sua intenção seria colocada em prática. Então, buscaram refúgio na oração e na esmola, suplicando a Nossa Senhora que lhes ensinasse o melhor meio de empregar os próprios bens em sua honra.
Até que a Mãe de Deus dignou-se manifestar-lhes os seus desejos. Aparecendo aos dois durante a noite, mandou-os ir no dia seguinte, o quinto do mês, ao Monte Esquilino, em Roma, e construir uma igreja em honra dela no local que encontrassem coberto de neve. Ela acrescentou que isso lhe seria mais agradável do que qualquer outra coisa que pudessem fazer. Quando acordaram, na manhã seguinte, e contaram um ao outro seu sonho, ou melhor, sua visão, foram tomados por uma alegria inexprimível e dirigiram-se imediatamente ao Papa Libério, para ouvir a opinião dele sobre o assunto. Como o Papa tivera uma visão idêntica naquela mesma noite, já não havia por que duvidar da revelação. Reunindo sem demora o clero e o povo, o Pontífice organizou uma procissão rumo ao local indicado.
Quando lá chegaram, realmente encontraram coberto de neve um lugar grande o bastante para uma igreja. Todos ficaram muito surpreendidos com o fato, que não podiam considerar senão um milagre, pois aconteceu em pleno verão, dia 5 de agosto, quando era impossível nevar naturalmente em Roma ou a muitos quilômetros dela. O piedoso casal sentiu-se muito reconfortado com a situação, pois era um sinal de que o Todo-Poderoso e a Virgem Santíssima estavam satisfeitos com seu propósito. Por isso, sem hesitar, fizeram imediatamente todos os preparativos necessários para a construção de um magnífico templo. A obra foi iniciada e muito rapidamente concluída. Tudo o que era necessário para sua construção, bem como para sua manutenção, foi fornecido com alegria.
O Papa Libério consagrou solenemente o novo templo, e todos os fiéis foram até lá para venerar a Rainha do Céu. Inicialmente, esta igreja chamava-se “a Basílica” (sinônimo de palácio) ou Basílica Liberiana. Também se chamava Santa Maria ad Nives, pela razão acima mencionada. Hoje é conhecida como Santa Maria Maior, por ser a maior de todas as igrejas de Roma construídas em honra da Santíssima Virgem, devido à sua origem, magnificência e rica decoração. É também chamada Santa Maria ad Præsepe — Santa Maria da Manjedoura — pois em uma de suas capelas está abrigado o berço, ou manjedoura, em que o Salvador recém-nascido foi colocado por sua virgem Mãe.
Em 509, o Papa Gregório Magno organizou e dirigiu uma grande procissão, célebre nos anais da Igreja, para implorar a Deus, por intercessão de Maria, que afastasse de Roma a terrível peste que assolava a cidade. A fúria da peste abrandou um pouco, mas como ainda permanecia, o Papa, no ano seguinte, realizou uma segunda procissão, encabeçada pelo ícone da Virgem Santíssima pintado por São Lucas, que se conserva na igreja de Santa Maria ad Nives. Durante a procissão, a peste deixou todas as casas por onde passou a imagem, até que, finalmente, dispersos os fiéis, toda a cidade ficou livre do terrível flagelo.
Durante a procissão, ocorreu outro fato milagroso, que não deve ser omitido. Foi possível ouvir anjos cantando: “Rainha do Céu, alegra-te, aleluia. Aquele que mereceste trazer em teu seio — aleluia! — ressuscitou como disse, aleluia!” O santo Papa, prostrando-se com todo o povo, terminou o hino de louvor dos anjos com as palavras: “Roga a Deus por nós, aleluia!” Quando a procissão chegou ao Mausoléu (ou túmulo) do Imperador Adriano, o Papa viu em seu topo um anjo embainhando sua espada, como sinal de que a ira do Todo-Poderoso fora apaziguada pela intercessão de Maria, e que iria desaparecer a peste que há tanto tempo assolava a cidade. Não é possível exprimir adequadamente o júbilo do povo e a devoção que, a partir desse momento, se manifestou em relação à imagem milagrosa da Virgem Maria.
* * *
Santo Osvaldo, rei da Inglaterra, era filho de pais pagãos e foi parcialmente educado por eles. Depois de Edelfrido, seu pai, perecer numa batalha contra Redualdo, teve de fugir da Inglaterra com seus dois irmãos e vários outros nobres, e procurar refúgio na Escócia. Lá encontrou não apenas o que procurava, mas, depois de conhecer alguns cristãos, adquiriu também um conhecimento da fé católica e, após uma cuidadosa catequese, recebeu o Batismo junto com seus dois irmãos. Com a morte de Eduíno, os ingleses conferiram a coroa primeiro a seu irmão e depois a ele.
A primeira providência que tomou como rei foi estabelecer a religião cristã em seus domínios e banir o tirano Cadwalla, inimigo ferrenho dos cristãos, que os perseguia cruelmente. O tirano tinha à sua disposição um imenso exército, chamado por ele de “O Invencível”. Osvaldo depositou sua confiança em Deus e marchou com seus soldados contra o inimigo, muito superior numericamente. Uma cruz foi levada à frente do exército, para mostrar que ele confiava naquele que morreu na Cruz por nós. A batalha foi travada e terminou com uma vitória completa sobre Cadwalla, que acabou sendo morto.
Ao regressar em triunfo, Osvaldo deu graças ao Todo-Poderoso e esforçou-se por converter todos os seus súditos à fé cristã. Para alcançar este objetivo, pediu aos escoceses que lhe enviassem um bispo e alguns sacerdotes piedosos, de modo a instruir o povo na palavra de Deus e gerir os assuntos da Igreja. Os escoceses enviaram-lhe Aidano, prelado verdadeiramente santo, com alguns outros sacerdotes piedosos. Estes pregavam o Evangelho com tal fervor e zelo, e Deus confirmava seus ensinamentos com tantos milagres, que em pouco tempo o número de convertidos se tornou muito grande, a ponto de o rei ter de solicitar mais sacerdotes, para os quais construiu igrejas e conventos em diferentes lugares, provendo-os com muita generosidade.
Sentia-se muito feliz ao contemplar o crescimento da religião cristã, e fez questão de difundi-la ainda mais. Penda, rei da Mércia, pagão e inimigo ferrenho dos cristãos, enfurecido com os esforços piedosos de Osvaldo, invadiu-lhe os domínios com suas hordas selvagens. O santo rei foi ao encontro dele como tinha ido ao encontro de Cadwalla, mas o resultado foi muito diferente. Deus, sempre justo, embora muitas vezes incompreensível para a débil compreensão humana, determinou que o exército de Osvaldo fosse derrotado e ele mesmo perdesse a vida. Assim terminaram os dias do santo rei, que sempre se empenhara na honra de Deus e de sua santa religião, e que recebeu, em troca de sua coroa temporal, a gloriosa coroa do martírio, pois perdeu a vida na defesa da verdadeira fé, no ano 642 de Nosso Senhor.
Para além do incansável zelo em semear e difundir o conhecimento do Santo Evangelho, todos admiravam naquele santo rei o amor mais que paternal e a generosidade que sempre demonstrou para com os pobres. Muitos recebiam o alimento quotidiano no palácio dele, e Osvaldo não permitia que ninguém fosse embora sem uma esmola. Tinha um servo especialmente designado para cuidar dos pobres. Certa vez, num domingo de Páscoa, quando o bispo Aidano estava à mesa com Osvaldo, aquele servo apareceu e disse que vários pobres estavam no pátio pedindo esmolas. Sem hesitar, o piedoso rei pegou um recipiente de prata cheio de carne e, entregando-o ao servo, ordenou que não só a carne, mas também o prato fosse dado aos pobres. O santo bispo, profundamente tocado por esta nobre ação, tomou a mão generosa do rei e disse: “Que nunca se corrompa esta mão.”
O desejo foi atendido pelo Todo-Poderoso. Depois de Penda ter assassinado o rei, mandou cortar-lhe a cabeça e a mão direita e prendê-las numa estaca. Um ano mais tarde, quando o sucessor de Osvaldo as retirou, as duas estavam completamente incorruptas. A cabeça e o corpo foram enterrados na igreja de Lindisfarne, mas a mão direita foi levada para a capital, Bamburgo, e colocada, com pompa e circunstância, na igreja de São Pedro, onde se tornou instrumento de Deus para a realização de muitos milagres nos doentes e enfermos.
Considerações práticas
I. Aqueles que não são católicos e que nos censuram por venerar a Rainha do Céu e edificar igrejas em sua honra, podem verificar, pela origem da igreja de Santa Maria ad Nives, como é antiga e agradável a Deus esta piedosa prática.
A construção deste famoso templo ocorreu no século IV, época em que (como admitem até mesmo os protestantes) só podia haver uma Igreja de Deus: a católica. Mesmo naquele passado tão distante, Maria era venerada e construíam-se igrejas em sua honra. A Igreja aprovou o costume, e Deus o confirmou com milagres especiais. Quem ousará dizer que a Igreja de Cristo errou e que o próprio Deus confirmou tal erro com um milagre?
Mesmo em países onde a população deixou de ser católica, encontramos igrejas antigas dedicadas à Santíssima Virgem. Sem dúvida, se todos os católicos silenciassem este assunto, até as pedras desses edifícios sagrados provariam a existência da devoção à Mãe de Deus desde os primeiros séculos. Alguém se atreveria a acusar os piedosos cristãos que construíram essas igrejas de terem se enganado? Isso seria igualmente insensato e arrogante. Então, por que se opõem à Igreja primitiva?
Caro leitor católico, aceite o meu conselho: não permita que ninguém perturbe sua devoção à Rainha do Céu, e jamais esmoreça no serviço a ela.
II. O piedoso casal escolheu a Mãe de Deus como herdeira de todos os seus bens e por isso, conforme as instruções divinas, construiu um magnífico templo para honrá-la. Santo Osvaldo deu a maior parte de suas riquezas para defender e difundir a verdadeira fé, e para confortar os pobres. Oh! Quão grande foi a consolação deles por causa disso em sua última hora, e quanta glória alcançaram no Céu! E a fama que conquistaram neste mundo foi muito maior do que se tivessem empregado suas riquezas na aquisição de roupas caras e outros luxos mundanos, ou na construção de palácios esplêndidos; muito maior do que se tivessem deixado seus bens a amigos ou gastado os mesmos em propósitos vãos e mundanos.
Se Deus abençoou você com mais bens temporais do que os outros, não seja daqueles cuja única preocupação é deixar uma grande fortuna para seus filhos ou parentes — fortuna que lhes será, talvez, meio de ofender a Deus e atrair sobre si o castigo eterno; e familiares que logo esquecerão seus pais ou benfeitores e deixarão de rezar por eles. Não se esqueça das igrejas, dos hospitais, dos pobres. Isso lhe trará conforto na hora da morte e, quando for chamado a prestar contas da administração dos seus bens, poderá se justificar melhor perante o tribunal do Altíssimo.
Considere bem as palavras de Teofilacto: “Não somos verdadeiramente donos dos nossos bens temporais, e não possuímos nada que seja verdadeiramente nosso. Somos apenas os administradores dos meios que Deus nos confiou, para os distribuirmos segundo as ordens dele.” Até agora, é de acordo com a vontade do Todo-Poderoso que você tem utilizado ou distribuído os bens que lhe foram dados? Qual será sua conduta de hoje em diante?
Santo Agostinho lhe oferece uma breve mas bela exortação: “Não tens riquezas? Não as procures neste mundo por meio de ações perversas; mas, se as possuis, cuida de acumulá-las para o Céu por meio de boas ações.”
O que achou desse conteúdo?