Et transfiguratus est (Mt 17, 2).
E transfigurou-se.

Nas alturas sublimes do Tabor, transfigurava-se Jesus aos esplendores da Glória: transfiguratus est; sobre a humilde pedra d’ara dos nossos altares, transfigurava-se nos véus misteriosos do sacramento.

Lá foi a divindade, que se lhe irradiou através do seu corpo humano; aqui é essa mesma divindade e esse mesmo corpo que se lhe escondem sob as aparências místicas do pão transubstanciado.  

Lá as suas vestes se tornaram brancas e resplandecentes como a neve: aqui toma ele a brancura pálida do trigo.

Lá uma visão solar de triunfo: sicut sol; aqui um mistério imenso de fé: mysterium fidei

Contudo, Senhor! Não invejamos a Pedro, que teve a dita de contemplar assim uma réstea gloriosa de vossa majestade: só vos pedimos aumenteis a nossa fé: adauge nobis fidem.

Dai-nos a fé ardente dos vossos santos e, veremos na treva sagrada de vossa Eucaristia, tão bem como outrora, aos fulgores do Tabor, o halo infinito da vossa divindade.

Dai-nos essa fé, e veremos a montarem guarda de honra, em torno aos vossos altares, melhor do que Moisés e Elias, no monte de transfiguração, a legião fulgurante dos coros angélicos.

Dai-nos essa fé, e ouviremos no sacro silêncio dos vossos tabernáculos, tal como de em meio à luminosa nuvem da narração evangélica, a eterna palavra do Pai: “Este é o meu Filho amado, em quem tenho posto toda a minha complacência: ouvi-o!”

Dai-nos, enfim, essa fé, e nossa alma em êxtase, ao pé dos sacrários desertos, exclamará com o discípulo arrebatado: “Como é bom estar aqui!” Bonum est nos hic esse!

Senhor! Este apóstolo contemplou um frouxo raio da vossa divindade, e extasiou-se: era natural. Outro apóstolo, Tomé, viu o vosso corpo ressuscitado, e creu na vossa divindade: era também natural. E por isso vós lhe dissestes: “Creste, Tomé, porque me viste; bem-aventurados os que não viram e creram”.

Estes bem-aventurados somos nós, os vossos fiéis, que não vemos, mas cremos. Que digo? Vemos também nós, vemos a nossa Eucaristia, mas vemos exatamente o contrário do que devemos crer. Vemos as espécies vulgares do pão, e cremos no vosso corpo sacrossanto. Vemos a inércia da matéria inanimada, e cremos na vossa alma e na vossa vida divina, manancial eterno de todo o movimento e de toda a atividade universal. Vemos a pequenez sutilíssima da hóstia, e cremos na vossa imensidade, que transborda dos céus, da terra e dos mares.

Senhor! Se bem-aventurados são já os que não vêem e crêem, qual será a bem-aventurança de quem vê, mas apesar e ao revés do que vê, crê na vossa palavra, que disse: “Isto é o meu corpo” hoc est corpus meum?

Senhor! Amparai a incredulidade dos nossos corações e das nossas mentes: adjuva incredulitatem!

Referências

  • D. Francisco de Aquino Corrêa. Pétalas do Evangelho. Edição da Arquidiocese de Cuiabá, 1981, p. 39-40.

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