A Oração de Manassés é um texto apócrifo do Antigo Testamento que aparece, todavia, em edições da Septuaginta e em apêndices da Vulgata. É atribuída ao rei Manassés, de Judá, cujo reinado durou de 698 a 643 a.C. e cuja história está registrada em 2Rs 21, 1-18 e em 2Cr 33, 1-20.
Depois de muitos anos cometendo pecados graves e levando todo o povo de Judá à idolatria, “à astrologia, à adivinhação e à magia”, Manassés foi atacado pelos assírios e exilado na Babilônia, e foi nessa situação de angústia que ele supostamente dirigiu a Deus a seguinte oração, de forte caráter penitencial.
A Escritura relata que “o Senhor ouviu sua oração, reconduzindo-o a Jerusalém sobre seu trono”. A partir de então, ele “fez desaparecer do Templo do Senhor os deuses falsos… e atirou-os para fora da cidade”; depois, ainda “reconstruiu o altar do Senhor, e ofereceu sacrifícios de ação de graças e louvor”.
A vida de Manassés é, assim, a ilustração perfeita da antífona que os católicos rezam ao longo de toda a Quaresma: “Vivo ego, dicit Dominus, nolo mortem peccatoris, sed ut magis convertatur et vivat — Vivo, diz o Senhor, não quero a morte do pecador, mas que se converta e viva”.
A versão original desta prece encontra-se no site Preces Latinae; a edição crítica Weber-Gryson omite vários trechos nela presentes, mas estes foram mantidos na tradução abaixo, por acentuarem a tônica penitencial da oração. O texto foi vertido à língua portuguesa por nossa equipe.
Senhor Deus onipotente de nossos pais Abraão, Isaac e Jacó e de toda a sua justa descendência; Senhor, que fizestes o céu e a terra com todo o seu ornato, que fendestes o mar com a palavra de vossa ordem, que fechastes o abismo e o assinalastes com o vosso terrível e louvável nome, a quem temem todas as coisas e tremem ante a face de vosso poder. Porque é insuportável a magnificência de vossa glória e insustentável a ira de vossa ameaça sobre os pecadores, imensa porém e investigável a misericórdia de vossa promessa, porque vós sois o Senhor altíssimo sobre toda a terra, benigno, lento para a cólera, cheio de clemência e paciente com a malícia dos homens.
Vós, porém, Senhor, segundo a vossa bondade prometestes a penitência e a remissão aos que pecaram contra vós; e, da multidão de vossas misericórdias, decretastes [dar] penitência aos pecadores, para a salvação.
E vós, portanto, Senhor, Deus dos justos, não impusestes penitência aos justos Abraão, Isaac e Jacó, a estes que contra vós não pecaram, mas impusestes a penitência por causa de mim, pecador.
Porque pequei acima do número das areias do mar, multiplicaram-se minhas iniquidades, Senhor, multiplicaram-se minhas iniquidades. E não sou digno de voltar-me e olhar para a altura do céu, pela multidão de minhas iniquidades.
Encurvei-me muito sob um vínculo de ferro, de modo que não posso elevar minha cabeça nem me é possível respirar, porque provoquei a vossa cólera e pratiquei o mal diante de vós, tencionando abominações e multiplicando ofensas.
E agora dobro os joelhos de meu coração rogando à vossa bondade, Senhor. Pequei, Senhor, pequei, e reconheço a minha iniquidade. Por isso vos peço suplicando, Senhor: perdoai-me, perdoai-me, não me façais perecer com minhas iniquidades nem, em vossa ira, me reserveis males para a eternidade nem me condeneis às entranhas ínfimas da terra. Porque vós sois, ó Deus, o Deus dos penitentes, e em mim mostrareis toda a vossa bondade. Porque me salvareis a mim, indigno, segundo vossa grande misericórdia. E vos louvarei sempre, todos os dias da minha vida. Porque vos louva todo o exército dos céus, e vossa é a glória pelos séculos dos séculos. Amém.
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