O texto a seguir, de autoria da Dra. Joana Campolina, elenca os malefícios dos anticoncepcionais, deixando claro para as mulheres: eles não tratam doença ginecológica alguma. Esta publicação é inédita e foi escrita em formato de perguntas e respostas para facilitar a leitura e a compreensão. No final, a médica deixa uma extensa bibliografia para consulta e aprofundamento.

A Dra. Joana Campolina é ginecologista formada pelo Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP); possui título de especialista pela FEBRASGO e formação em NaPro TECHNOLOGY pelo Saint Paul VI Institute e pela Creighton University (Creighton Medical Consultant).

1. O que é o anticoncepcional?

A pílula anticoncepcional é um hormônio (ou uma combinação de hormônios) feminino sintético, ou seja, produzido em laboratório e diferente daqueles que o corpo da mulher produz.

Em circunstâncias habituais, a fertilidade feminina é comandada por uma cascata de hormônios que vão atuando em conjunto e harmonicamente, cada qual a seu tempo, para que todas as etapas do ciclo feminino ocorram em sincronia: o crescimento do folículo ovariano, a sua ruptura para a liberação do óvulo, o movimento das tubas para captar esse gameta, a produção do muco fértil (que guia os espermatozoides até o óvulo) e o crescimento do endométrio (a camada interna do útero, que recebe o embrião como um terreno fértil, para proporcionar seu desenvolvimento). Esses hormônios não são estáveis e constantes durante o ciclo todo, mas sua produção é altamente variável: aumentam e diminuem, e é essa variação que faz a fertilidade feminina funcionar.

Quando a mulher usa a pílula anticoncepcional, seu corpo fica inundado de hormônios femininos sintéticos, numa dose alta e constante. Isso engana seu sistema nervoso central, que, ao perceber um excesso dessas substâncias circulantes no sangue, desliga sua cascata de hormônios naturais e toda essa sinfonia da fertilidade é desligada. 

A pílula anticoncepcional impede a gestação de diversas formas: com os hormônios naturais desligados, a ovulação é inibida e o muco cervical não é produzido adequadamente, o que dificulta o encontro dos gametas. No entanto, a pílula pode ter também um efeito pós-concepcional. Sabe-se que podem ocorrer escapes ovulatórios e, consequentemente, a fecundação e a formação do embrião, uma nova vida com material genético próprio e único. Esse embrião, concebido na tuba uterina, chega ao interior do útero após sete dias da concepção e encontra um endométrio modificado pela pílula, incapaz de recebê-lo para a implantação. O que deveria ser um terreno fértil para o desenvolvimento do bebê em seus primeiros dias, torna-se um terreno hostil à sua sobrevivência. Esse é o chamado aborto oculto, efeito descrito na própria bula destas medicações, mas infelizmente muitas vezes não informado às mulheres [cf. referências i, ii, iii e iv].

O conhecimento desse efeito abortivo é de fundamental importância, pois tem sérias implicações morais, mesmo para um suposto “tratamento clínico” de patologias ginecológicas [cf. v e vi].

2. Como a pílula pode afetar a saúde da mulher?

Os efeitos negativos da pílula anticoncepcional são decorrentes tanto do excesso de hormônios sintéticos em seu organismo, como também da inibição de seus hormônios naturais e de sua fertilidade. Alguns desses efeitos já foram bem documentados em pesquisas científicas:

a) Aumento do risco cardiovascular: a pílula anticoncepcional aumenta o risco de infarto agudo do miocárdio, de acidente vascular cerebral e trombose. Uma pesquisa recente mostrou que o risco de infarto do miocárdio ou acidente vascular cerebral isquêmico foi 60% maior em mulheres usando contraceptivos orais [v]. Há também evidências de alterações na pressão arterial associadas às mudanças no organismo provocadas pelos diferentes tipos de contraceptivos hormonais [vii].

b) Aumento do risco de trombose: estima-se que o risco de trombose seja de três a seis vezes maior entre as usuárias de contraceptivos orais, quando comparado a mulheres que não os utilizam [viii, ix]. Acreditava-se que tal efeito colateral estaria relacionado às altas doses hormonais dos anticoncepcionais de primeira geração. Porém, alguns estudos mostraram um risco aumentado mesmo para contraceptivos de baixas dosagens e de terceira geração [xxiv, xxv].

c) Aumento do risco de cânceres, principalmente os de mama, fígado e colo uterino: o câncer cervical é causado por certos tipos de vírus, chamados papilomavírus humano (HPV). O uso de anticoncepcional parece acelerar a evolução de infecção persistente por HPV para câncer cervical [x, xxvi].

Em relação ao câncer de mama, um grande estudo realizado na Dinamarca seguiu 1,8 milhões de mulheres em idade reprodutiva por 10,9 anos; 11.517 casos de câncer de mama foram avaliados. Esse estudo mostrou um risco 20% maior de câncer de mama nas usuárias de contraceptivos orais. O risco foi proporcional ao tempo de uso da medicação [xi, xii, xiii, xiv].

d) Alterações metabólicas e nutricionais: estudos levam a crer que, mesmo em baixas dosagens, os contraceptivos orais contribuem para modificar o metabolismo do colesterol e da insulina. Tal desbalanço metabólico pode aumentar o risco cardiovascular, como já descrito. Além disso, altera níveis de micronutrientes, como vitaminas do complexo B, vitamina C, cálcio, magnésio, zinco e cobre [xv, xvi, xvii, xviii, xix].

e) Perda de massa magra e massa óssea: a supressão hormonal, principalmente do estrogênio e da testosterona, predispõe a uma mudança corporal, com diminuição de massa magra e massa óssea, e aumento de tecido adiposo [xviii, xix].

f) Diminuição da libido e prejuízo na relação conjugal: o uso da pílula reduz os níveis de testosterona, que é o hormônio regulador do desejo sexual nas mulheres — e essa redução pode permanecer por até um ano após a interrupção da pílula [xx].

g) Efeitos a longo prazo na fertilidade feminina: um estudo realizado na Inglaterra, com mais de 3 mil mulheres, evidenciou que as usuárias da pílula anticoncepcional demoraram duas vezes mais para alcançar a gestação; e a dificuldade de engravidar foi proporcional ao tempo de uso do contraceptivo [xxi].

h) Aumento na incidência de depressão e suicídio: um grande estudo publicado na Dinamarca em 2016 avaliou mais de 1 milhão de mulheres, e associou o uso do anticoncepcional oral ao desenvolvimento de depressão. Em alguns grupos da pesquisa, o risco de desenvolvimento de depressão chegou a ser 120% maior em relação ao grupo controle [xxi]. Um segundo estudo, também publicado na Dinamarca, em 2017, relacionou o uso do anticoncepcional ao risco de tentativa de suicídio. Cerca de meio milhão de mulheres foram acompanhadas ao longo de 8 anos e verificou-se que tal risco chegou a ser 200% maior nos grupos em que havia o uso da pílula [xxii, xxiii].

3. Mas e quando a pílula é prescrita para “tratamento”?

Em primeiro lugar, é importante ressaltar que a pílula anticoncepcional não é capaz de tratar verdadeiramente nenhuma afecção ginecológica. Seu principal efeito é silenciar os sintomas, ao desligar a fertilidade da mulher. Por causa disso, é comum que ela seja utilizada em quase todas as queixas ginecológicas: cólicas, ciclos irregulares, sangramento em excesso, sangramento de menos, TPM, entre outros.  A ginecologia é a única área da medicina em que uma única medicação é prescrita para quase toda a gama de suas doenças. É extremamente comum que meninas iniciem o uso de anticoncepcional logo após menstruar, por alguma queixa não investigada. E que passem anos de sua vida utilizando essa medicação, pensando que tudo está bem, pois os sintomas melhoraram e o sangramento está regular (sim, pois a mulher que utiliza a pílula não menstrua verdadeiramente: trata-se de um ciclo falso e de um sangramento de escape regular). 

Mas qual o problema dessa situação? A causa real do sintoma não foi investigada nem tratada, apenas mascarada pela pílula. Muitas vezes, a situação pode agravar-se silenciosamente, sem que a mulher perceba, por estar inibida pelo contraceptivo. Sabemos hoje que é fundamental o diagnóstico precoce de algumas patologias ginecológicas, como a endometriose e a Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP), e muitas vezes esse timing é perdido, devido aos anos de uso do anticoncepcional. Quando a mulher já recebe pílula desde a adolescência, dificilmente vai notar algum sintoma que possa levar ao seu diagnóstico. Além disso, a pílula anticoncepcional também pode agravar determinadas circunstâncias envolvidas na gênese dessas doenças.

Podemos citar como exemplo a SOP. Trata-se de uma doença que envolve todo o organismo e que possui manifestações na fertilidade feminina. Tem causas genéticas, inflamatórias, metabólicas e hormonais. Geralmente está ligada ao excesso de insulina, estrogênio e de hormônios masculinos. Esse desbalanço é causa de uma série de consequências para o corpo da mulher e uma delas é a supressão da ovulação (situação que chamamos de anovulação), o que pode gerar ciclos muito longos, sangramento anormal e até dificuldade para engravidar. 

Mas as alterações ovarianas e a anovulação são apenas sintomas de uma síndrome maior. A SOP não é uma doença dos ovários, mas uma doença sistêmica (isto é, de todo o organismo) que se manifesta nos ovários. E usar uma pílula anticoncepcional não tratará verdadeiramente essa síndrome: apenas fará com que esta mulher sangre mensalmente. Mas todas as suas repercussões metabólicas e inflamatórias continuarão existindo. E pior: podem ser agravadas pela pílula, já que ela piora a resistência insulínica, piora o padrão metabólico, altera a composição corporal (diminuindo massa magra e aumentando percentual de gordura corporal) e piora a inflamação crônica subclínica (aumentando a permeabilidade intestinal e a absorção de toxinas).

A longo prazo, essas alterações não tratadas podem acabar evoluindo para quadros mais graves, como diabetes ou uma doença cardiovascular. Por isso, o tratamento da SOP não pode se resumir apenas em fazer a mulher sangrar mensalmente; é preciso corrigir verdadeiramente todas as repercussões sistêmicas da síndrome e restabelecer a função hormonal da mulher (ao invés de inibi-la!). O retorno da ovulação e da fertilidade será consequência do organismo funcionando em harmonia. Tratar a mulher dessa forma proporciona um cuidado integral de sua saúde, livrando-a dos riscos do anticoncepcional e restabelecendo sua fertilidade.

4. O que fazer, então, quando meu ginecologista prescreve a pílula?

Seja protagonista no cuidado de sua saúde, buscando informações atualizadas, estudando sobre seus sintomas e diagnósticos. Isso também significa buscar uma vida saudável, com dieta equilibrada, exercícios físicos regulares, um sono restaurador e diminuição do estresse. Muitas vezes só o cuidado com o estilo de vida já é suficiente para resolver vários quadros de saúde.

Procure também médicos compromissados em tratar verdadeiramente a saúde e a fertilidade, de preferência ginecologistas que trabalhem com métodos naturais (como o Método de Ovulação Billings, o Creighton Model System e a NaPro TECHNOLOGY).

Referências

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  3. V. Chowdhury; U. M. Joshi; K. Gopalkrishna; et al. “‘Escape’ ovulation in women due to the missing of low dose combination oral contraceptive pills”. Contraception, v. 22, n. 3, p. 241–247, 1980.
  4. Rebecca Peck; Walter Rella; Julio Tudela; et al. “Does Levonorgestrel Emergency Contraceptive have a Post-Fertilization Effect? A Review of its Mechanism of Action”. The Linacre Quarterly, v. 83, n. 1, p. 35–51, 2016.
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