A Igreja Católica nos apresenta um grande exemplo de virtude em Santo Homobono, que atingiu uma grande santidade como leigo e comerciante. Sua terra natal foi a famosa cidade de Cremona, na Lombardia. Apesar de não serem ricos em bens materiais, seus pais eram muito piedosos. Deram ao filho o nome de Homobono, ou seja, “homem bom”; e este nome era um presságio da bondade e caridade que haveriam de marcar sua vida. Seus pais deram-lhe uma excelente educação, e os benefícios obtidos com ela estenderam-se por toda a sua vida. 

Quando Homobono atingiu a idade adulta, seu pai, que era comerciante, envolveu-o no comércio. Iluminado por Deus, Homobono reconhecia as inúmeras ocasiões de pecado em que o comércio poderia colocá-lo e, por isso, era muito cauteloso em todas as suas ações. Todas as manhãs, rezava as suas orações e assistia à Santa Missa, pois costumava dizer: “É preciso buscar primeiro o Reino de Deus. O êxito de todos os negócios só depende de Deus”

Tomava muito cuidado para não se tornar culpado da menor fraude, ou mesmo para não obter vantagens legais, quer na compra, quer na venda. Não aceitava receber um único centavo injustamente. Jamais cobrava por suas mercadorias um valor superior ao preço legítimo. Jamais proferiu um juramento ou uma mentira, tão comuns entre os comerciantes. Era extremamente consciencioso no pagamento de suas dívidas, para não fazer os outros sofrerem por causa do atraso. 

Santo Homobono dá esmola a um miserável. Detalhe de uma obra de Bartolomeo Montagna.

Além disso, era tão amável no trato e tão modesto nas palavras, que todos gostavam dele, e por isso tinha mais clientes e mais rendimentos do que qualquer outro comerciante. Nos domingos e dias santos, sua única ocupação era honrar a Deus e salvar sua alma. Passava a maior parte desses dias na igreja, rezando, ouvindo a Palavra de Deus e recebendo os santos sacramentos, enquanto seu único prazer em casa era a leitura de um livro devoto. 

Tanto na infância como na idade adulta, manifestou para com os seus pais um amor reverente e uma obediência perfeita. Por isso, quando lhe propuseram que se casasse, correspondeu aos seus desejos, casou-se com a donzela que seus pais lhe haviam escolhido e viveu com ela em amor e fidelidade cristãos. Após a morte dos pais, continuou a exercer a sua profissão, mas não com o objetivo de obter riquezas terrenas em benefício próprio, mas para assegurar os bens eternos, dando aos pobres seus ganhos temporais. Como era bondoso e generoso com os miseráveis, chamavam-no “pai dos pobres”, e ninguém era despedido por ele sem receber uma esmola. Quanto aos que se envergonhavam de pedi-la, levava suas ofertas até as casas deles, consolava-os e encorajava-os a suportar com paciência as provações. 

Às vezes, sua mulher tinha a impressão de que a liberalidade dele era exagerada e temia que, se ele continuasse agindo daquela forma, ela mesma viesse a passar necessidade um dia. Por isso, aconselhou-a a ser mais econômico e não levar para casa todos os mendigos da cidade. Quando viu que nenhuma de suas palavras surtia efeito, começou a queixar-se e murmurar, chegando enfim a proferir injúrias e xingamentos. Homobono respondeu-lhe com delicadeza e disse: “Supões então que os nossos negócios temporais venham a ser prejudicados, se formos compassivos e caridosos para com os pobres? A Palavra de Deus nos ensina o contrário, pois o próprio Cristo disse: ‘Dai, e dar-se-vos-á’ (Lc 6, 38).”

Porém, a mulher só acreditou quando teve uma prova disso. Uma carestia abatera-se sobre a cidade e, certo dia, um número tão grande de pobres foi à casa de Homobono, que todo o pão que ele tinha armazenado mal dava para saciá-los. Quando isso aconteceu, a esposa do caridoso homem não estava em casa, mas, ao voltar e ir buscar pão para servir à mesa, encontrou o mesmo número de pães que havia deixado ali e, ao cortar um deles, percebeu que era mais claro e melhor do que qualquer outro já visto. Perplexa com o fato, interrogou o servo a respeito. Este lhe garantiu que Homobono havia doado todo o pão aos pobres. Então ela entendeu: o Todo-Poderoso fizera um milagre para recompensar a caridade do marido e reprovar-lhe o egoísmo. Em seguida, o santo a aconselhou a mostrar-se mais compassiva, afastando a ideia de que ajudar os indigentes os empobreceria.

Escultura renascentista de Santo Homobono.

Em outra ocasião, aconteceu um milagre semelhante. O santo tinha uma pequena casa de campo, cujos rendimentos dedicava integralmente ao sustento dos desamparados. Um dia, quando estava levando vinho para os trabalhadores da vila, encontrou alguns mendigos, que lhe pediram de beber, para matar a sede. O bondoso homem entregou-lhes os cântaros, pedindo que bebessem um bom gole. Sem que fosse necessário um segundo convite, os mendigos pegaram os cântaros e não deixaram neles uma única gota. 

Receando que os trabalhadores ficassem impacientes com o atraso, caso voltasse à sua casa para encher novamente os cântaros, o santo, cheio de confiança em Deus, foi a um poço vizinho, encheu-os de água, abençoou-a e levou-a aos trabalhadores. Todos eles beberam e lhe agradeceram por ter levado um vinho tão bom. A princípio, o santo pensou que eles não estavam falando sério, mas, depois de prová-lo, descobriu que realmente era vinho. Agradecendo a Deus em silêncio, resolveu não contar a ninguém o milagre, mas um dos trabalhadores tinha visto seu mestre dar o vinho aos mendigos e encher os cântaros no poço. Assim, o milagre ficou logo conhecido, tornando o santo homem ainda mais estimado por todos. 

Homobono usou a grande influência que possuía para a salvação de muitas almas e, com seus ensinamentos devotos, conduziu muitos hereges à verdadeira fé e muitos pecadores a uma vida melhor. 

Já relatamos que ele dedicava todo o tempo de descanso dos negócios à oração e à leitura devota. Dedicava inclusive uma parte da noite a esses exercícios sagrados, pois levantava-se de madrugada e assistia às Matinas na igreja de Santo Egídio, que ficava nas proximidades, e lá permanecia até a primeira Missa. Embora houvesse instruções para que a igreja fosse aberta para Homobono, ele foi visto várias vezes em oração diante do altar ou do crucifixo antes que as portas fossem abertas. Os anjos tinham-lhe feito o favor de recebê-lo na casa de Deus.

Por fim, aprouve ao Senhor chamar o seu servo fiel, no mesmo lugar onde ele passava tantas horas em santa contemplação, a fim de conceder-lhe a recompensa eterna. Numa noite do ano de 1197, assistiu às Matinas e permaneceu ajoelhado diante do crucifixo até o início da Missa da manhã, como era seu costume. No Gloria, estendeu os dois braços e, colocando-os sobre o peito em forma de cruz, expirou, sem estar doente nem mostrar qualquer sinal de agonia. Quando foi encontrado morto nessa posição, todos correram ao seu encontro e passaram a venerá-lo como santo. Seu corpo foi sepultado na mesma igreja, e Deus tornou o seu santuário célebre por muitos milagres. Foram tantos que, no ano seguinte, o Papa não hesitou em inscrever Homobono entre os santos. No ano de 1357, seu corpo foi exumado e transportado para a Catedral de Cremona, com solenes cerimônias.

“Firma a tantos peitos que vacilam nas necessidades, reprime as iras insanas dos irmãos, reconduze todos à desejada paz de Cristo, ó pai.” — Oração a Santo Homobono, no altar que abriga suas relíquias, na cripta da Catedral de Cremona.

Considerações e práticas   

I. Todos os comerciantes e afins devem aprender de Santo Homobono como se portar nas funções que desempenham, se quiserem salvar as suas almas. 

Devemos sempre começar o dia com uma oração fervorosa; se possível, assistir diariamente e com grande devoção à Santa Missa; ter o cuidado de evitar qualquer tipo de fraude, como, por exemplo, no peso ou na medida, adulterando as mercadorias ou retendo qualquer parte delas em benefício próprio; não pedir mais do que o justo por nossos bens ou por nosso trabalho; e evitar a mentira, a maledicência e outros vícios. Não devemos cair no vício da preguiça, do jogo ou da bebida, mas trabalhar com seriedade, cuidado e paciência. Temos de passar os domingos e dias de festa como Deus e a Santa Igreja nos exigem; receber os santos sacramentos com frequência e devoção; ouvir homilias e pregações; e socorrer o próximo com esmolas. 

Se observarmos todos estes pontos, podemos ter a esperança de ganhar a vida eterna, seja qual for o estado de vida no qual Deus tenha desejado nos colocar na terra. 

Quanto à esmola, todos podem aprender, com a vida de Santo Homobono, que ela não nos empobrece, mas multiplica os nossos bens temporais. São Cipriano diz: “Se temeis perder com a esmola, aconselho-vos a afastar esse receio. Posso assegurar-vos o contrário”. O Espírito Santo diz: “Aquele que dá ao pobre, não terá necessidade” (Pr 28, 27).

Fachada da Igreja de Santo Homobono, em Roma.

II. Santo Homobono morreu de repente, sem ter adoecido e sem ter recebido os santos sacramentos. Mas sua morte foi feliz, porque havia se preparado para ela por uma vida santa. 

A morte repentina, que torna inviável a recepção dos santos sacramentos, não é por si só infeliz, assim como a morte não repentina, que possibilita a recepção deles, nem sempre é feliz. Muitos sofrem com uma enfermidade prolongada antes de seu fim e, portanto, têm tempo suficiente para se preparar e receber os sacramentos, mas ainda assim podem ir para a perdição eterna, porque não os recebem dignamente, ou se tornam culpados de pecado depois de recebê-los. Quem morre de repente, se estiver na graça de Deus, tem uma morte feliz, mesmo que não receba os sacramentos. 

Você faz bem em rezar diariamente, com a Igreja, para ser poupado de uma morte súbita. Mas, como não conhece os decretos do Todo-Poderoso, procure manter-se continuamente na graça de Deus. Não deixe na consciência nada que possa lhe causar medo em seus momentos finais. Evite o pecado, a única coisa que pode tornar sua morte infeliz. E se, por fraqueza ou malícia, cometer um grande pecado, procure repará-lo imediatamente, a fim de ser admitido mais uma vez na amizade do Todo-Poderoso, e não ser levado em pecado por uma morte súbita. 

Adiar a penitência, sob o pretexto de que ainda há tempo, de que Deus o acolherá benignamente, mesmo no último instante, e de que prometeu perdoar os pecadores a qualquer momento em que se voltassem para Ele, é coisa que deixou a muitos miseráveis por toda a eternidade. Eis o que diz Santo Agostinho: 

É verdade que Deus prometeu te perdoar se te arrependeres e fizeres penitência, mas não prometeu o dia de amanhã se adiares o teu arrependimento. Tens razão em dizer: “Se eu fizer penitência, Deus me perdoará.” Não posso negar que o Todo-Poderoso prometeu perdão a todos os pecadores arrependidos, mas no livro do Profeta, onde lês que Deus promete perdão ao pecador arrependido, não consta que Ele prometa vida longa. 

Portanto, siga as minhas recomendações. Faça penitência imediatamente após o pecado, esforce-se por permanecer na graça de Deus e, então, deixe para Ele a hora e o modo como você morrerá. Ele certamente não há de permitir que lhe aconteça coisa alguma que não seja para o bem de sua alma imortal.  

Referências

  • Extraído, traduzido e adaptado passim de: Lives of the saints: compiled from authentic sources with a practical instruction on the life of each saint, for every day in the year, v. 2. New York: P. O’Shea, 1876, p. 599ss.

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