A oração do vídeo a seguir é uma das tantas que o Padre Gabriel de Santa Maria Madalena compôs para a sua obra de vida interior, Intimidade Divina, com o objetivo de ajudar os fiéis católicos a se encontrarem com Cristo no esconderijo de suas almas.

Trata-se de um colóquio de amor, por meio do qual nos consagramos à Sabedoria Suprema e correspondemos, com afetos e propósitos firmes, às inúmeras graças que recebemos de suas mãos.

A difusão da vida interior era o grande interesse do apostolado de Padre Gabriel. Como discípulo fiel de Santa Teresa d’Ávila, a reformadora das Carmelitas descalças, ele pretendia ensinar as pessoas a conversarem intimamente com Deus, assim como se conversa com um amigo. Para Santa Teresa, a oração nada mais é que “tratar de amizade estando muitas vezes tratando a sós com Quem sabemos que nos ama” [1]. Por isso, Padre Gabriel escreveu toda uma série de meditações para o Ano Litúrgico, das quais os fiéis podem se servir para a sua oração mental e conhecimento do amor de Deus.

Basicamente, o método teresiano de oração consiste em três partes. Primeiro, a pessoa deve se colocar na presença de Deus, por meio de um ato de fé e exame de consciência. Depois, passa-se à meditação de um ponto sagrado — como a filiação divina, o amor de Deus, o sacrifício da cruz etc. —, que inspire “bons pensamentos” e “afetos” no coração de quem está rezando. E, finalmente, esses “bons pensamentos” devem servir para o colóquio de amor e amizade entre a alma e o Senhor. Vejam, portanto, que não se trata de uma relação intimista e sentimentalista, mas de um diálogo sincero em que se apresenta a Deus a integridade do nosso ser.

A vida interior é tanto ou mais necessária hoje que no passado. O apelo dos meios de comunicação provocou uma mudança grave no comportamento social, de maneira que o recolhimento e a privacidade praticamente desapareceram da vida das pessoas. Hoje tudo está exposto nas redes sociais, para qualquer um ver e comentar, desde uma briga entre vizinhos à sexualidade dos esposos. Enfim, grita-se de cima dos telhados aquilo que se tem receio de sussurrar no confessionário.

Ora, Santo Tomás de Aquino ensina que a alma é a parte mais importante da natureza humana [2]. A alma é o homem interior, isto é, a própria identidade da pessoa, aquilo que ela tem de mais genuíno e particular. Não é difícil entender, portanto, porque a intimidade não deve ser vulgarizada em páginas de jornal ou realities shows, como se fosse uma coisa qualquer e de menor importância. Assim como as joias de uma família são guardadas em um cofre seguro, a alma, que é muito mais valiosa que qualquer rubi ou diamante, deve também ser guardada em um cofre inviolável. Esse “cofre” só pode ser o Coração de Jesus, que nos ama e nos deseja no céu.

O cuidado da alma é tão importante que Gustavo Corção escreve:

Cada um de nós, diante de Deus, é o primeiro próximo, e aquela passagem evangélica que diz “primeiro reconcilia-te com teu irmão e depois traz a oferenda ao altar” aplica-se bem ao problema que focalizamos, desde que por irmão entendamos o primeiro, que é o nosso próprio eu, nossa alma e corpo, nossa pessoa que é para nós o primeiro dom de Deus, pelo qual, antes de todos os outros temos de responder. Antes de perguntar a Caim o que fez de seu irmão, Deus perguntou-lhe o que fizera de si mesmo: “Por que estás irritado, teu rosto está sombrio” (Gn 4, 6). Que bem pode fazer o homem de si mesmo divorciado? Que edificação, que pode trazer quem em si mesmo se divide e desmorona? Que altruísmo, que obra de caridade, que serviço duradouro, firme, autêntico, pode prestar quem a si mesmo não sabe considerar e conduzir? (grifos nossos) [3]

Na oração do Padre Gabriel de S. M.ª Madalena, somos incentivados a consagrar a nossa intimidade justamente a esse Coração Sagrado, que nos ama com amor incondicional, a fim de que este Verbo Divino faça em nós uma obra nova e semeie em nossa inteligência “abundantes sementes de divinas ilustrações”, com as quais possamos conhecê-lO, conhecer a nós mesmos e conhecer aquilo no que devemos crer e pôr em prática [4]. Trata-se mesmo de uma oração de intimidade, cujo interlocutor é, de fato, o nosso melhor Amigo.

Referências

  1. Santa Teresa de Jesus, Livro da Vida, VIII.
  2. Cf. Suma Teológica, I, q. 74, a. 4.
  3. Gustavo Corção, Dois  amores e duas cidades, v. 1, p. 196.
  4. Cf. Intimidade Divina, 4.ª ed., Edições Carmelo, 1993, p. 133.

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